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Primeiro livro em prosa escrito em Pernambuco ganha edição definitiva

Diálogo das Grandezas do Brasil, obra fundamental para entender o período colonial, é relançado pela Cepe

Ibra consiste numa conversa entre indivíduos que viveram nos primórdios da colônia. Foto: Cepe/Divulgação

Diálogo das grandezas do Brasil consiste numa conversa entre indivíduos que viveram nos primórdios da colônia, assim como as famosas cartas de Pero Vaz de Caminha. Na obra, os personagens são Alviano e Brandônio. O primeiro é recém-chegado nos trópicos e insiste em comparar as terras brasileiras com a metrópole portuguesa, sempre diminuindo a colônia para exaltar a coroa. Já o segundo vive nas terras tupiniquins há tempos e rebate, ressaltando belezas, qualidades, capacidade de exploração e possibilidades. Foi através desse choque cultural de cosmovisão lusitana que Ambrósio elaborou um importante documento para a história nacional, sobretudo do Nordeste brasileiro.

O manuscrito original desapareceu num incêndio em Olinda no período da ocupação holandesa em Pernambuco. Atualmente, só existem dois apógrafos (reprodução do manuscrito) da obra: um na Biblioteca Real de Leiden, na Holanda, outro na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa. No Brasil, dez edições já foram publicadas, com destaque para a primeira, de 1930 (ABL, de Capistrano de Abreu), e a quarta, de 1962 (UFPE, por José Antônio Gonsalves de Mello). Todas, no entanto, são baseadas no apógrafo da Holanda.

Caesar Sobreira, professor de Antropologia da UFRPE. Foto: Cepe/Divulgação

O transcritor diz que todas as edições anteriores foram elaboradas por historiadores que não conheciam a crítica textual, prática que consiste em aproximar o texto o máximo possível da sua forma originária por meio de minuciosas regras de hermenêutica e exegese, a fim de estabelecer uma edição definitiva. “O lançamento de agora é diferente por corrigir e preencher lacunas. Eu varri as dez edições, inclusive as fragmentadas de jornais, para fazer uma atualização ortográfica sem interferir no texto. As contradições existentes entre as edições são apontadas em notas de rodapé, dando ao leitor a chance de cortejar o trabalho como um conjunto".

A obra também é justalinear, pois cada linha do texto digitado corresponde ao texto manuscrito - trabalho também chamado de transcrição paleográfica. "Isso confere ao leitor a liberdade de fazer sua própria interpretação e julgar o responsável pela construção da interação. É uma edição que amplia possibilidades. Novos historiadores que se interessarem pelo Brasil colonial terão uma nova referência", conclui.

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