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Com participação de Dilma, documentário sobre presas políticas é destaque no Festival de Brasília

Primeira noite de competição do Festival de Brasília exibiu Torre das Donzelas, da diretora Susanna Lira

Mesmo destacando reflexões do passado no filme Torre das donzelas, que abre a mostra competitiva do 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro neste sábado (15), a partir das 18h, a diretora Susanna Lira imprime a atualidade que sempre a norteou em filmes anteriores como Damas do samba (2015) e Intolerância.doc (2016).

Em tempos de polarização acirrada, por campanhas políticas e afins, o filme revê elementos da ditadura no Brasil e encampa marcas feministas. "É inteiramente feito com a participação das mulheres. É sobre uma prisão em que o feminino, em suas potências, foi vivido e experimentado. A consciência de ser mulher e todas as consequências que isso trazia para aquele momento político é a tônica dominante da nossa narrativa", avalia a diretora.

Susanna Lira percebe o cinema como uma reinterpretação do mundo e se diz privilegiada de tentar "encapsular momentos e memórias" para a posteridade. Daí, brota a inspiração para seguir com a sétima arte. "A ditadura militar atravessou a história da minha família e isso balizou o tema do filme. Comecei a pesquisa do documentário, há sete anos, numa jornada extenuante e intensa. Depois das filmagens, tínhamos quase 150 horas de material", conta a diretora. Para a cineasta, o longa não poderia estrear num festival mais apropriado do que o de Brasília. Ela aposta que vieses histórico e político acentuarão a margem de debates.
 
"No início do processo do filme, pedi a cada mulher que desenhasse num quadro-negro como era a lembrança da torre (do Presídio Tiradentes, em São Paulo). Nenhum desenho foi igual ao outro. Isso foi algo que me comoveu e que me estimulou a criar uma teia de memórias ao lado delas para a chegada a um senso comum dos acontecimentos. O exercício dolorido, corajoso e solidário desse coletivo de reerguer aquela torre para deixar esse registro cinematográfico foi surpreendente", explica a realizadora. Torre das donzelas propõe rupturas de silêncios de quase 50 anos.

Confissões emotivas
Entre as mulheres que aparecem tecendo memórias, de forma coletiva, está a ex-presidente Dilma Rousseff. "A participação da ex-presidenta acontece de forma igualitária em relação as outras personagens e como um recorte narrativo de um coletivo. São cerca de 30 mulheres que estão lá como testemunhas de um a história e Dilma Rousseff é mais uma delas", adianta a diretora. 

Quando deixou o jornalismo para fazer cinema, Susanna explica que aboliu obrigações de checar fontes ou provas. "Torre das donzelas não é um filme investigativo sobre o que aconteceu. Até porque, com a Lei da Anistia, há muito pouco a se fazer. O filme é um instrumento narrativo para registrar memórias confessionais", diz.

No calor do momento nacional, Torre das donzelas aparece como espécie de escudo para o avanço de tópicos como o retorno do regime militar. "Vejo hoje em muitos movimentos que pedem a volta dos militares ao poder uma total falta de conhecimento dos fatos da ditadura. Só posso crer que a falta de acesso claro sobre o que houve gere esses discursos", pontua a diretora, que conclui: "Apesar de todo sofrimento, as entrevistadas do filme burlaram sequelas do confinamento, trocando conhecimento e afeto entre elas. O maior ganho foi saírem das celas mais fortes do que entraram. A prisão não venceu a vontade que tinham de revolucionar o mundo".

Confira o trailer:

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