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Caetano Veloso se apresenta com filhos no Recife: 'Sonhei em fazer um show junto a eles'

Moreno, Zeca e Tom compartilham os holofotes com o pai no palco do Teatro Guararapes neste sábado

Publicado em: 13/09/2018 10:02 | Atualizado em: 13/09/2018 15:21

O show deu origem ao CD e DVD Ofertório, lançado em maio deste ano. Foto: Jorge Bispo/Divulgação

Ao longo de 53 anos de carreira, Caetano Veloso percorreu o Brasil e o exterior em turnês solo ou acompanhado. Em 2015, ao lado de Gilberto Gil, deu vida ao projeto Dois amigos, um século de música. Recentemente, o baiano fez uma série de apresentações, inclusive em países da Europa, Ásia e nos Estados Unidos, com a cantora Teresa Cristina. Ainda assim, a emoção transparece de forma única quando Caetano fala do show que apresenta neste sábado (15), às 21h, no Teatro Guararapes, em Olinda. O motivo do contentamento é a presença dos filhos Moreno, de 45 anos, Zeca, 26, e Tom, 21, compartilhando os holofotes com ele no palco. 

Os ingressos para o espetáculo, que ganhou o nome de Caetano Moreno Zeca Tom Veloso, custam R$ 90 e R$ 180 (balcão) e R$ 140 e R$ 280 (plateia), vendidos na bilheteria do teatro ou através do site Bilheteria Virtual. O show, que deu origem ao CD e DVD Ofertório, lançado em maio deste ano, é costurado por um repertório de 28 canções. Entre elas, os sucessos Oração ao tempo, Reconvexo, O leãozinho, Força estranha, e as três que o artista compôs para os filhos quando eles nasceram: A tua presença morena (1971), Boas-vindas (1992) e Um Tom (1997). Além dessas, há também composições de seus rebentos, como Um canto de afoxé para o bloco do Ilê, de Moreno, e Todo homem, de Zeca. "Apresentaremos algumas dessas coisas que cresceram em nós, de nós, e canções minhas escolhidas por eles. O leãozinho, que os filhos de tanta gente pedem, os meus não deixaram de pedir. E coisas como Reconvexo têm de estar ali confirmando a linhagem. Há clássicos de Moreno e canções novas de todos, inclusive minhas", adianta o cantor, de 76 anos. 

Caetano conta que sempre teve vontade de fazer um show com os filhos, mas que eles se aproximaram da música em momentos particulares da vida. "Quero cantar com eles pelo que isso representa de celebração e alegria, sem dar importância ao sentido social da herança", afirma. O show é dedicado às mães de Moreno, Zeca e Tom e à memória de Dona Canô (1907-2012), mãe de Caetano e de Maria Bethânia. Sobre projetos futuros, o eterno tropicalista diz que, por enquanto, só existem esboços de planos. E justifica: "Ainda temos muitos lugares para ir com nossa turnê".

O trio
Filho mais velho de Caetano com a sua primeira esposa, Andreia Gadelha, Moreno Veloso estreou na carreira musical em 2000 com o disco Máquina de escrever música. O lançamento mais recente foi o álbum Coisa boa, de 2014. Zeca, o do meio, já participou de músicas lançadas por Gal Costa, e o caçula Tom é integrante da banda Dônica, que já se apresentou no Rock in Rio e teve o primeiro disco, Continuidade dos parques, lançado em 2015. Os dois mais novos são frutos do casamento do artista com a sua empresária, Paula Lavigne.

Entrevista // Caetano Veloso, cantor e compositor

Em que momento você percebeu que Moreno, Zeca e Tom também tinham talento para a música?
Moreno e Zeca desde sempre amaram a música. Tom parecia não se interessar, nem mesmo gostar, quando era pequenininho. Os outros dois sempre dormiam me ouvindo cantar. Tom não queria que eu cantasse. Mas ele foi crescendo e uma vez foi à Europa comigo, acompanhando uma turnê. Ali começou a opinar sobre as canções, a saber com clareza do que gostava mais. Moreno já tinha, aos 9 anos, escrito a letra de Um canto de afoxé para o bloco do Ilê. Ele se formou em física e, no começo, não parecia querer se profissionalizar como músico. Mas logo fez amizade com Kassin e Domênico Lancelotti e formaram o grupo +2. Daí em diante, ele se enfronhou na música. Fez seu álbum no 2, coproduziu o meu disco Noites do Norte, participou da feitura do Quanta, de Gil, produziu toda a série de discos meus com a banda Cê, e fez seus próprios discos com sensibilidade refinada. Zeca, na adolescência, queria ser DJ, mas começou a fazer, em casa, canções no violão, e eu lembro que era muito inspirado e pessoal. Tom foi aprendendo violão com Cezar Mendes e, aos 16 anos, apareceu com uns colegas de escola superdotados musicalmente: fundaram a Dônica. Ele compõe e toca violão. A meu ver, é o mais músico de nós quatro. 

Como surgiu a ideia de sair em turnê com eles?
Partiu de mim. Sonhei em fazer show junto a eles. Eu já tinha feito um show com Moreno, em São Paulo, e tinha sido maravilhoso para mim. Zeca e Tom tendo crescido e começado a lidar com a música também, por isso, quis fazer com os três. Primeiro, não dava. Falei só com Paulinha (Lavigne), mas Tom estava começando na Dônica e ela não queria que eu criasse um projeto que pudesse atrapalhar. Passado um tempo, a Dônica já estabelecida, ela me disse que até poderia ser. Falei com Zeca. Ele me disse que não queria, que eu fizesse com Moreno e Tom. Eu: nem pensar. Um dia, ele foi à casa da mãe dele e disse que estava pensando em aceitar. Quando ela me disse, fiquei feliz e pedi a ele que fosse à Bahia falar comigo. Só então falei com Moreno e Tom. Aí tudo começou a andar. Quis isso porque eles são a coisa que mais amo no mundo e eu intuía que seria preciso um exercício de luz nesses tempos e na minha velhice. Nós pensávamos que íamos convidar instrumentistas para tocar com a gente. Por fim, decidimos que nós mesmos faríamos tudo, do nosso jeito, modesto, mas especial. 

Não houve resistência por causa das críticas e comparações que filhos de músicos costumam receber ao ingressar na carreira artística?
Não. Isso nem apareceu no horizonte. Apenas Zeca não queria se apresentar. Moreno e Tom já eram profissionais da música. Quando Zeca decidiu aceitar a ideia, nos reunimos e começamos a armar repertório e ensaiar. Profissionalmente, Moreno tem uma carreira de duas décadas, Tom tem uma de dois anos, e foi a estreia de Zeca. Acho que, nesse show, todos estão representados de modo a que se percebam suas personalidades artísticas.

Diante de tantas obras distintas, como foi a escolha do repertório?
O repertório foi sendo feito à medida que nos encontrávamos para esboçar ensaios. Tom, sempre direto, disse logo que, dele, só queria Clarão e pediu que O seu amor, de Gil, entrasse na lista. E assim foi. Eu sabia que ia cantar Genipapo absoluto, Boas-vindas, Reconvexo, Canto de afoxé..., Ofertório. Pedi a Moreno que cantasse Um passo à frente. Todos pedimos a Zeca que cantasse Todo homem. Zeca e Tom me pediram Trem das cores. E assim fomos armando o show. As possibilidades eram muitas, mas terminamos escolhendo certo. Tem coisas que não estavam no meu plano, como Alegria, alegria, que Zeca insistiu em pôr no roteiro, e O seu amor, que Tom pediu. Moreno tinha pedido Quando o galo cantou, mas as canções se centraram mais em temas de laços familiares, de história da origem da nossa gente, de convivência. As mais marcantes, para mim, são O seu amor, Todo homem, Ofertório, Um só lugar e Um passo à frente. Mas, para o público, tem sido mais Reconvexo, Trem das cores, Um passo à frente, Todo homem e Alexandrino. Esta última porque conta com o passinho surpreendente de Tom. Veja que Todo homem entra em todas as escolhas.

Serviço
Caetano Moreno Zeca Tom Veloso
Quando: sábado, às 21h
Onde: Teatro Guararapes (Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda)
Quanto: R$ 90 e R$ 180 (balcão), R$ 140 e R$ 280 (plateia)
Informações: (81) 3182-8000

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