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Artes visuais

Artista recifense discute identidade de gênero e sexualidade através do desenho

Douglas Cândido utiliza a técnica nanquim e uma caneta hidrográfica para desenhar personas em preto e branco

Publicado em: 18/09/2018 14:15 | Atualizado em: 18/09/2018 14:17

Douglas luta para fazer com que as artes visuais participem de forma ativa na militância LGBT. Fotos: Douglas Cândido/Acervo Pessoal


"Que diferença da mulher o homem tem?". Esse questionamento presente na música Tem pouca diferença, interpretada pelo cantor paraibano Jackson do Pandeiro, foi essencial para nortear, em 2015, o trabalho de conclusão de curso do então estudante de artes visuais Douglas Cândido. A ideia do projeto era explorar, através de desenhos, códigos de gênero e a relação do corpo com a imagem representada. Essa inquietação do recifense, de 29 anos, surgiu ao observar que as pessoas costumam rotular o que é masculino ou feminino a partir de características das personas, nome pelo qual Douglas chama suas obras. "Nos meus trabalhos, eu torno possível, no mesmo corpo, a percepção de dois gêneros, vistos a partir dos objetos que estruturam a imagem", explica.

Não é à toa que os desenhos do artista abordam questões relacionadas a gênero, identidade e sexualidade. Homossexual assumido, Douglas luta para fazer com que as artes visuais participem de forma ativa na militância LGBT. "Além das violências constantes das quais somos alvo, eu estou interessado em representar nossos afetos, nossos amores, em uma tentativa de sanar o ódio", destaca. Depois de ter desistido do curso de farmácia, em 2010, Douglas se mudou para Petrolina, no Sertão de Pernambuco, onde mora até hoje, para investir na área pela qual realmente se identifica: desenhar. "Sempre tive muita aproximação com as artes, principalmente com o desenho. Meu pai trabalhava fazendo plantas baixas de arquitetura, então o material de desenho sempre esteve ao meu alcance", conta.

Quando se formou em artes visuais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), ele começou a se profissionalizar no ramo e chegou a ser premiado em um salão de artes no Sesc de Casa Amarela, no Recife. "O tema da premiação fazia uma relação entre corpo e mundo, e meu trabalho produzia reflexões sobre gênero, sexualidade e performance dos corpos. Depois desse prêmio, fui convidado para montar uma exposição individual em Petrolina, que trazia um trabalho mais denso e quantitativo sobre o tema desses corpos e de suas representações", relata. Uma das personas dessa mostra era o desenho de uma travesti, que o artista conheceu durante a pesquisa, e foi encontrada morta em uma vala de irrigação de um distrito da cidade dias antes do evento de abertura.

Utilizando a técnica nanquim e uma caneta hidrográfica, Douglas desenha as personas em preto e branco com traços geométricos. Para expandir sua arte, ele viaja o Brasil apresentando os trabalhos em exposições, galerias e feiras. Os desenhos também podem ser encomendados através da página facebook.com/artistadouglascandido.

O artista já foi premiado em um salão de artes no Sesc de Casa Amarela, no Recife. Foto: Douglas Cândido/Acervo Pessoal
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