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Documentário conta histórias de vida para abordar conquistas e desafios do movimento LGBTI no Brasil

Abrindo o Armário é constituído unicamente por depoimentos de personagens de diversas gerações

Publicado em: 20/08/2018 11:20 | Atualizado em: 24/05/2020 19:15

Linn da Quebrada é um dos 16 personagens que desabafam sobre suas vivências como LGBTI . (Foto: Abrindo o Armário/Divulgação)
Linn da Quebrada é um dos 16 personagens que desabafam sobre suas vivências como LGBTI . (Foto: Abrindo o Armário/Divulgação)

"Muitas pessoas falaram sobre nós. Agora chega. Eu quero falar sobre mim mesma". Essa frase, dita por Linn da Quebrada durante o documentário Abrindo o armário, soa como síntese do próprio filme. Com direção de Dario Menezes e Luis Abramo, a película é constituída unicamente por depoimentos de gays, drags queens e pessoas não-binárias de diversas gerações, dos mais experientes aos mais jovens.

A obra, cujo título brinca com a expressão usada para quando gays "se assumem", estreou em salas de cinema de todo o Brasil na última quarta-feira, dentro de uma programação especial do Cinemark. Em breve, será exibida no Canal Brasil e na GloboNews, emissoras parceiras do projeto.

Linn é um dos 16 personagens que desabafam sobre suas vivências como LGBTI+. A montagem de Jordana Berg faz com que esses relatos, juntos, formem uma documentação relevante sobre os processos de libertação da comunidade LGBTI do Brasil, a atual situação do grupo e os desafios da luta para conquistar espaços e construir uma identidade política e social.



"Sempre trabalhei com TV, mas estou migrando para a plataforma do cinema. Por isso, evitei usar locução de fundo ou imagens de arquivo. Deixei a história ser contada unicamente pelos personagens", explica o jornalista Dario Menezes, documentarista responsável pela Luba Filmes.

O filme começa com uma homenagem ao mítico Madame Satã, personagem que viveu no Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 1950. A reverência é feita pelo ator Udylê Procópio, com uma performance de dança contemporânea. A primeira parte da montagem mostra cada personagem relembrando como “se assumiu” para a família. Depois, seus relatos vão dando corpo a um discurso plural que transpassa temas como superação, violência familiar e autoaceitação.

Entre os representantes da antiga geração, estão pessoas como o diretor de cinema Fabiano Canosa, o escritor José Silvério Trevisan e o ator Bayart Tonelli, integrante do transgressor grupo Dzi Croquettes, que desafiou a ditadura militar com a arte queer. Entre os personagens mais jovens, estão nomes como Gabriel “Kami” Santos, jogador profissional do game League of Legends, e o publicitário pernambucano Marlon Parente, responsável pelo documentário Bichas, que viralizou na internet com mais de 700 mil visualizações no YouTube.

Em sua fala no filme, Marlon destaca como a cultura do "cabra macho" vigente no Nordeste pode ser nociva para homens homossexuais. Outra fala impactante de personagens da "nova geração" é a do jornalista Artur Francisch, que tentou se suicidar após ter sua primeira relação sexual com um homem.

Entrevista - Dario Menezes / Documentarista

Por que "Abrindo o armário" e não "Saindo do armário"?
O fato de "abrir o armário" não implica um movimento de "saída". Nós quisemos abrir esse armário e jogar luz dentro dele. A sociedade, em geral, precisa ver quais são as pessoas que estão escondidas dentro desse armário. São profissionais e seres humanos que não estão pedindo nada além de respeito.

Como escolheram os personagens?
Por ser panorama temporal, escolhemos pessoas entre 25 e 70 anos. Quando comecei a pesquisar, quis pegar pessoas de fora do establishment, como na periferia de São Paulo, por exemplo. Temos a Linn da Quebrada, mas ela ainda não era tão famosa quando fizemos a entrevista, em 2016. Dentro dessa linha editorial, criei um leque com 40 pessoas. Com o tempo, no entanto, fui percebendo que algumas pessoas faziam da militância uma espécie de marketing pessoal, o que não era bem o que queríamos. Também evitei falar com políticos, pois não queria que se tornasse uma obra partidária. Diante disso, fizemos uma triagem até chegar nos 16 que estão no filme.

O documentário tem a pretensão fazer um panorama sobre a comunidade LGBTI , mas não há lésbicas entre os personagens. Por quê?
Desde o início, pensei que seria massacrado por restringir ao universo gay masculino. Mas, na verdade, eu quis fazer um documentário de 80 minutos sobre um período longo da comunidade LGBTI . Se eu colocasse lésbicas, ficaria muito mais amplo e, consequentemente, enfadonho. Além disso, as lésbicas possuem histórias e dificuldades um tanto diferentes dos gays. Agora, estamos fazendo um documentário exclusivamente sobre lésbicas, mas ainda em processo embrionário.

Existem outros documentários sobre vivências LGBTI . Para você, qual o diferencial desse?
Ele faz um painel da história. Vemos, através das falas, o início da Aids e a violência policial mais ferrenha, por exemplo. Ao mesmo tempo, temos pessoas que se assumiram com facilidade e de forma positiva. Existe essa mistura. As gravações foram muito longas para arrancar as histórias com maior espontaneidade. O filme não defende uma tese, mas mostra histórias emocionantes de pessoas comuns.

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