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Escritoras que vivem relação doentia em Baseado em Fatos Reais, novo filme de Roman Polanski

Baseado em best seller de Delphine de Vigan, longa conta a história de obsessão que envolve uma escritora e sua fã

Publicado em: 16/04/2018 10:01

Delphine (Emmanuelle Seigner) e Elle (Eva Green) são ambas escritoras. Foto: Paris Filmes/Reprodução

Escritor de sucesso é procurado por fã que se apresenta como uma pessoa amiga. À medida que o tempo passa, a pessoa revela, da pior maneira, sua obsessão pelo ídolo. Tal sinopse cai como uma luva para Louca obsessão (1990), ótimo thriller de Rob Reiner adaptado de romance de Stephen King. E também para Baseado em fatos reais, filme de Roman Polanski que estreiou na última semana.

Assim como o filme anterior, esse também parte de um livro de sucesso (Baseado em fatos reais, da autora Delphine de Vigan, lançado em 2017 pela editora Intrínseca) para contar uma história de obsessão que envolve uma escritora e sua fã. Mas é Polanski e, sem entregar muito, nada é o que parece.

Delphine (Emmanuelle Seigner) e Elle (Eva Green) são ambas escritoras. Só que há um abismo em suas respectivas carreiras. Delphine é uma autora best-seller, enquanto Elle é não mais do que uma ghostwriter de atores e atletas. Uma recebe reconhecimento em demasia, já não suporta mais filas intermináveis de autógrafos e bajulações de editores. A outra passa em branco, pois seus contratos a obrigam a permanecer no anonimato.

Só que Delphine está em crise criativa, fato com o qual o marido François (Vincent Perez) não consegue lidar. E é em meio a isso que Elle aparece como tábua de salvação. Bonita, inteligente e sem travas na língua, a mulher mais jovem parece ser a resposta que Delphine precisa para seus problemas. É ela quem vai tirá-la do marasmo. Rapidamente, Elle se muda para sua casa, toma conta de seus compromissos. A teia parece completa quando as duas mulheres vão para a casa de campo de Delphine, num ambiente em que Elle poderá controlá-la como quiser.

Polanski vai desfazendo esta teia e construindo outra, levando o espectador por diferentes caminhos. As dúvidas vão crescendo a cada nova cena. Os perigos são reais? Quem é uma e quem é outra? Como se dá a relação de poder entre as duas mulheres?

Um dos obstáculos do filme é que as atrizes não sustentam suas personagens, que estão sempre esbarrando em clichês. Emmanuelle Seigner é apática demais, quase sem vida, enquanto Eva Green vai sobrepondo caretas e expressões exageradas para tentar mostrar os rompantes de sua personagem. Até a tensão sexual que o diretor insinua entre as duas mulheres acaba por não convencer.

Já na segunda parte da trama, mudanças bruscas na dinâmica das personagens vão se sucedendo, chegando a situações que beiram o inverossímil. Nesta aparente montanha-russa, um espectador mais atento vai matar a charada antes do final do filme. O que, diante da obra do autor de O bebê de Rosemary (1968) e O inquilino (1976), se configura um defeito e tanto.
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