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Crítica: Maria Madalena dá protagonismo feminino a narrativa bíblica

Filme traz narrativa mais famosa do Novo Testamento pela visão da seguidora de Jesus

Publicado em: 15/03/2018 11:15 | Atualizado em: 15/03/2018 14:29

Rooney Mara mostra Maria Madalena como uma figura forte e determinada. Foto: Universal Pictures/Divulgação

Enquanto filmes como A última tentação de Cristo (1988) ou Jesus Cristo Superstar (1973) saíram do padrão de produções bíblicas ao subverter dogmas, Maria Madalena consegue feito parecido mantendo grande fidelidade aos evangelhos. Em exibição a partir de hoje nos cinemas, o longa-metragem subverte o tradicional protagonismo masculino em títulos do gênero e traz um ponto de vista pouco usual.

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Quem dá vida à Maria Madalena da nova produção é a ótima Rooney Mara. De compleição delicada, a personagem de Mara mostra o exato oposto da aparência física: desafiadora, firme nas convicções e subversiva, características que atriz sabe transmitir bem, como mostrou desde seu primeiro grande papel em Hollywood, como a hacker Lisbeth Salander, de Millennium: Os homens que não amavam as mulheres.


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Existisse o termo à época, Madalena poderia ser considerada uma feminista, retrata o filme. A figura bíblica se mostra contrária aos planos traçados pela família para ela, incluindo aí um casamento arranjado. Contra a vontade do pai e do irmão, ela deixa o lar para acompanhar um novo profeta que surge, Jesus (Joaquin Phoenix) e seu grupo. Hábil em compor tipos esquisitos, Phoenix compõe um líder de olhar sereno e fala mansa, rouca e cadenciada. Ao mesmo tempo em que carrega um semblante místico, é também uma figura mundana, com angústias e incertezas. Completam o núcleo principal Chiwetel Ejiofor (Pedro) e Tahar Rahim (Judas), ambos também competentes.

Dirigido por Garth Davis, do interessante e sentimental Lion: Uma jornada para casa, Maria Madalena é bastante clássico e correto em sua condução, o que casa bem com o propósito da história. O charme reside mesmo no roteiro, de Helen Edmundson e Philippa Goslett. A dupla de escritoras é eficiente no trabalho de recontar, sob a ótica feminina, as passagens mais marcantes do Novo Testamento e, mais importante, fazer a releitura da historicamente injustiçada figura bíblica.

Mesmo que comumente referida como prostituta arrependida, não há na Bíblia menções concretas sobre Maria Madalena ter, de fato, qualquer envolvimento com o ofício. Não fosse demérito, mas a associação equivocada se mostrou um esforço para descredibilizar a única mulher entre o grupo de apóstolos de Jesus. Ainda que inevitavelmente lide com aspectos da fé, Maria Madalena não se parece um panfleto religioso, como alguns títulos do gênero se apresentam. Bastante contido nesse aspecto, até pelo fato de Jesus não ser o protagonista, faz justiça à figura feminina e consegue proporcionar também um bom drama, com ótimas atuações.

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