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Crítica: Filme sobre Todo Duro e Holyfield é retrato sensível da ascensão e queda dos rivais

Filme dirigido por Sérgio Machado resgata trajetória e rixas entre os nordestinos

Última luta entre Todo Duro e Holyfield, realizada em 2015, é registrada na produção. Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

O pernambucano Luciano Todo Duro e o baiano Reginaldo Holyfield se enfrentaram, nos ringues, sete vezes. Foram quatro vitórias para o primeiro e três para o segundo. Mas a rivalidade entre os boxeadores passa longe de se restringir aos ginásios. As provocações mútuas e brigas em público, algumas inclusive durante entrevistas em programas televisivos, alimentaram rixa no auge da carreira dos atletas, nos anos 1990. Anos depois, as desavenças continuam, como retrata do documentário A luta do século, em exibição a partir desta quinta-feira.

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Dirigido por Sérgio Machado (Cidade baixa), o filme resgata não apenas as rugas entre Todo Duro e Holyfield, mas faz um apanhado geral da carreira e trajetória individual dos nordestinos. Rodado entre 2014 e 2015, o documentário traz diversas imagens de arquivo, de reportagens a trechos de lutas dos dois boxeadores, além de acompanhar a rotina deles após a saída dos ringues. Os dois rivais se enfrentaram pela última vez em 2015, ambos com quase 50 anos de idade e mais de uma década desde o último embate oficial, em 2004. Essa luta, que dá título ao filme, também está registrada no longa-metragem, incluindo os bastidores para a realização do evento, promovido no Recife, e a preparação dos dois para o combate.

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Premiado como Melhor Documentário em Longa-Metragem no Festival do Rio em 2016, A luta do século extrapola a temática esportiva e se revela também um filme de interesse humano, com um drama real de dois homens de origem humilde que alcançaram o estrelato e, depois, retornaram para uma situação não muito diferente do quadro no início da carreira. Comovente e também divertido, o filme tem dois protagonistas extremamente cativantes e é um importante resgate da trajetória de Todo Duro e Holyfield.

Bastante convencional na narrativa e direção, o filme costura a história dos dois lutadores de forma linear e quase didática, por vezes utilizando a narração de forma quase redundante, mas não chega a incomodar muito. A relativa curta duração (uma hora e 18 minutos), aliás, é que se torna quase um defeito. Com personagens tão ricos e interessantes, fica a inevitável vontade de acompanhar por mais tempo a jornada dos boxeadores. O diretor conta que muita coisa ficou de fora da versão final da produção e o material poderia render até uma série. Resta torcer.

[Todo Duro X Holyfield

"Ele é maluco. É louco. Eu internei ele quatro vezes. Pau na cabeça endoida. É ele quem parte para brigar. Eu ainda sou bom, porque seguro ele. Faz dez anos que eu perdi oito dentes na (TV) Globo, por causa de um murro de raspão. Aquilo é um bicho"

Holyfield, segundo Todo Duro

"É um inimigo que me fez bem e eu fiz bem a ele. Mas eu não suporto ele. Não dá para fazer cena com um cara batendo no outro. Eu só bato para derrubar, para quebrar. Eu não gosto dele. É um cara fazendo palhaçada. E, para mim, lutador tem que ser sério"

Todo Duro, segundo Holyfield

[Entrevista Sérgio Machado // diretor

Você tinha alguma relação anterior com o boxe?

Eu assisti a uma única luta na minha vida e foi justamente a do ápice da rivalidade. Foi a terceira luta (em 1999, em Salvador). Fui de curioso, não por amar boxe, fui para ver como é. Tinha 8 ou 10 mil pessoas, a lotação esgotada, e umas 20 mil pessoas tentando entrar. Quebraram o ginásio inteiro, arremessaram centenas de cadeiras, um cara que estava perto de mim deu um tiro para o alto. Lembro que eu e meu amigo nos escondemos dentro do banheiro, porque não tinha como sair, tinha muita gente tentando entrar. Foi uma loucura.

Inicialmente, a ideia era fazer uma ficção com Wagner Moura no papel de Todo Duro e Lázaro Ramos como Holyfield. Como esse projeto mudou?

 Resolvi fazer uma pesquisa para o filme de ficção e aí falei com Lázaro: "Acho que vou fazer um documentariozinho, uma coisa pequena". E ele falou: "Eu te conheço, você vai acabar se empolgando e esquecendo a ficção". E foi um pouco o que aconteceu. Eu conheci os dois (lutadores) e pensei que daria um documentário melhor do que uma ficção. Aí abandonei o projeto anterior e fiquei feliz com esse.

Ainda pensa em desenvolver essa ideia no futuro?

No momento, estou satisfeito. Mas nunca se sabe. A depender da repercussão (do documentário), pode ser.

A última luta foi algo que não estava previsto e a ideia do novo confronto surgiu durante as gravações, mudando o rumo do filme. Qual a proposta original do documentário?

Quando eu resolvi fazer o documentário, o recorte que eu imaginei era tentar entender o Brasil a partir dos dois. Como dois caras com tanto talento saem da miséria, vão ter uma carreira meteórica, chegam nesse lugar [ambos são campeões mundiais pela Federação Mundial de Boxe] e voltam para a miséria, igual à de onde eles saíram. Tanto Holyfield quanto Todo Duro moram na mesma casa onde moravam antes de lutar. É como se existisse um ímã que traz eles para o lugar de onde vieram. Eles têm em comum o fato de serem negros, nordestinos, terem infâncias violentas.

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