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Em The Post, Spielberg mostra batalha de jornal para publicar segredos da Guerra do Vietnã

Com Meryl Streep e Tom Hanks, filme chega num momento em que Donald Trump ataca a imprensa

Publicado em: 26/01/2018 15:10 | Atualizado em: 26/01/2018 16:13

Tom Hanks interpreta o editor Ben Bradlee, que comandava a Redação do diário durante o episódio dos Papéis do Vietnã. Foto: Universal/Divulgação


As etapas essenciais de confecção de um filme incluem desenvolvimento do roteiro, filmagem e finalização. Assim que decidiu dirigir Caçadores da arca perdida (1981), Steven Spielberg, de 71 anos, levou quatro anos para concluir todas as etapas. Para A lista de Schindler (1993) foi pelo menos uma década. Já Lincoln (2012), um pouco mais de 10 anos. Pois ainda não se completou um ano desde que o cineasta recebeu o roteiro e decidiu filmar The post: A guerra secreta, que estreia nesta quinta-feira (25) em todo o país. “O nível de urgência para fazer o filme foi devido ao clima atual desta administração, bombardeando a imprensa e rotulando a verdade como falsa, se isso lhe convier”, afirmou Spielberg ao jornal britânico The guardian.

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Os acontecimentos narrados em The Post ocorreram há quase 47 anos. Mas dialogam diretamente com o momento atual vivido pelos Estados Unidos, que recentemente completaram (sem fogos de artifício) o primeiro ano da administração do republicano Donald Trump. Em pouquíssimo tempo – ainda mais dada a envergadura dos envolvidos – Spielberg conseguiu reunir, pela primeira vez, Meryl Streep e Tom Hanks em um filme. Ela é Katharine Graham (1917-2001), proprietária e publisher do The Washington post, naquele junho de 1971 apenas um jornal de dimensão local, que vivia às turras com a administração Richard Nixon (1969-1974).

Ela estava à frente do diário não por méritos próprios, mas porque havia assumido a administração após o suicídio do marido, Phil Graham, em 1963. Em 1933, o pai de Kay, Eugene Meyer (1875-1959), comprou o jornal. Treze anos mais tarde deixou a cargo do genro sua administração. O dia a dia da redação é comandado pelo jornalista Ben Bradlee (1921-2014), papel de Tom Hanks. Uma “bomba” cai em Washington em 13 de junho de 1971. O governo americano sabia, há alguns anos, que não havia como vencer a Guerra do Vietnã (1955/1975).

A despeito disso, continuava a mandar jovens para a morte do outro lado do mundo. Veio da imprensa tal revelação. Mas o furo foi do The New York times, que começou a publicar uma parte de um documento secreto de 47 volumes (14 mil páginas) que havia sido encomendado pelo secretário de Defesa das gestões Kennedy e Johnson, Robert McNamara (1916-2009). São os chamados Papéis do Pentágono ou Papéis do Vietnã. Coube ao Post, como a toda a imprensa americana, replicar, posteriormente, o furo do Times, dando os devidos créditos. Só que uma virada acabou colocando o jornal de Washington como protagonista.

A Casa Branca conseguiu uma liminar que obrigava o Times a barrar a publicação – decisão que acabou sendo levada à Suprema Corte. Desde o furo levado, Bradlee entrou numa corrida pelos documentos – vazados pelo ativista Daniel Ellsberg, que havia participado do estudo (uma espécie de Edward Snowden da década de 1970, é hoje um senhor de 86 anos). Quem conseguiu uma outra cópia dos papéis foi o repórter do Post Ben Bagdikian (Bob Odenkirk).

SOCIALITE
Esse é o cerne do filme de Spielberg. Em meio a um processo de abertura de capital do Post, Kay Graham não consegue fazer frente aos administradores do jornal. Para eles, não passa de uma socialite um tanto inadequada para a função. Ela, por seu lado, também está em dúvida – e uma amizade de muitos anos com McNamara (no filme vivido por Bruce Greenwood) não ajuda em nada na decisão. Bradlee, por seu lado, convoca uma equipe de aguerridos repórteres para, em tempo recorde, conseguir publicar o material. E ele sabe que a decisão final será de Kay – algo que definirá a vida e a carreira de ambos, bem como o futuro do Post.

Diante disso, The post é uma resposta direta à guerra que Trump vem empreendendo contra a imprensa norte-americana. Não custa nada lembrar que há apenas um ano a própria Meryl Streep proferiu o seguinte discurso no Globo de Ouro. “Precisamos que a imprensa mostre todos esses atos (de Trump, a despeito de notícias falsas divulgadas em redes sociais). Peço que a nossa comunidade ajude a proteger os jornalistas, porque precisamos deles mais do que nunca.”

Dado como uma aposta certeira para o Oscar, o filme não foi bem acolhido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Está em apenas duas categorias – melhor filme e atriz, na 21ª indicação de Meryl Streep. Mas isso não diminui a força da narrativa. O idealismo do Bradlee vivido por Hanks, que acaba contaminando a Kay de Meryl Streep, cai como uma luva para Spielberg – cineasta que comumente retrata personagens aptos a defender o caminho correto. “Eu acredito em uma única verdade, que é a verdade objetiva”, disse ainda o cineasta ao Guardian.

Abaixo, confira o trailer de The post: A guerra secreta



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