Breaking bad revolucionou a televisão mundial. E o reconhecimento permanece intacto após dez anos da estreia, completados neste sábado. A produção do criador e showrunner Vince Gilligan ainda é vista como uma obra-prima. A genialidade foi constatada em premiações como Emmy Awards e Globo de Ouro e na inclusão no Guinness Book como a série mais bem avaliada pela crítica de todos os tempos. Ao longo de cinco temporadas, impressionou pela qualidade cinematográfica, com atuações impactantes, personagens fora do maniqueísmo - característica comum na televisão -, um protagonista anti-herói, roteiro bem executado e fotografia primorosa. Da paleta de cores a mensagens subliminares em cenas, títulos de episódios ou créditos, a riqueza de detalhes comprova a inteligência da produção.
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Antes de chegar à TV, o seriado recebeu sucessivas negativas até colher os frutos do sucesso. No período anterior ao aval do canal AMC, que na época transmitia o seriado Mad men (2007-2014), a HBO sequer respondeu sim ou no ao projeto apresentado por Gilligan, a FX preteriu Breaking bad para dar lugar a Dirt, estrelada por Courteney Cox (Friends) e cancelada após duas temporadas, e executivos do TNT temiam a metanfetamina como elemento circunstancial da trama, que narraria a história de um pacato professor de química que, após ser diagnosticado com câncer, produziria a droga para propiciar um "futuro conforto" à esposa grávida e ao filho adolescente com paralisia cerebral. A série nasceu com um episódio piloto de tirar o fôlego e apresentou uma evolução narrativa e de personagens que cresceu paralelamente à audiência. O primeiro episódio foi visto por 1,4 milhões de pessoas, enquanto o último atraiu a atenção de mais de 10 milhões de espectadores. Geralmente, o caminho é inverso em produções televisivas, que perdem o público à medida que a série avança. Com o desenrolar do seriado, a mutação dos personagens foi algo inovador na TV.
Diferentemente de séries nas quais as características dos papéis são expostas com clareza logo no primeiro momento, todos eram complexos e sofreram transformações ao longo da história. Do protagonista aos secundários, nenhum era claramente bom ou ruim, mas desenhado com qualidades e defeitos mais fáceis de provocar identificação (ou não) com o público. A presença do anti-herói como elemento central não foi inédita, mas ainda não era comum. Séries como Família Soprano (HBO) e Mad men (AMC), que estreou um ano antes de Breaking bad, já apresentavam personagens do gênero. Contudo, aumentou a recorrência de tramas com esse viés, a exemplo de séries como O Justiceiro, Inumanos, Boardwalk Empire e Homeland.
De um tradicional "homem de família", Walter White, interpretado por Bryan Cranston, terminou como um produtor de metanfetamina e traficante, cujo codinome era Heisenberg. O vilão-protagonista conquistou o público, mas também dividiu opiniões em relação às atitudes tomadas no enredo. Jesse Pinkman, incorporado por Aaron Paul, era um desajustado viciado em drogas e pequeno traficante no início, mas mostrou tr mais sensibilidade que White. Mãe dos dois filhos de White, Skyler, vivida por Anna Gunn, também apresenta fragilidade. Ela trai o marido com o chefe e se torna cúmplice de White ao fazer lavagem de dinheiro. A escolha do elenco foi um acerto. Foi em Breaking bad que a popularidade dos atores se consumou. Bryan Cranston conquistou três prêmios Emmy de Melhor Ator em Série de Drama consecutivos, fato que permanece inédito na trajetória da premiação, considerada a cerimônia mais importante da TV. A atriz Kristen Ritter se tornou protagonista de Jessica Jones, série da Netflix com a Marvel.