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'O Brasil é um país racista que tenta fingir que não é', diz Emicida

Rapper canta no Recife e lança DVD Dez Anos de Triunfo

Publicado em: 24/11/2017 13:02 | Atualizado em: 18/05/2020 18:50

Músicas como Tive Sim, O Sol Nascerá e Acontece ganharão nova roupagem no show. (Foto: Brechando.com/Reprodução)
Músicas como Tive Sim, O Sol Nascerá e Acontece ganharão nova roupagem no show. (Foto: Brechando.com/Reprodução)

Tido por muitos como o maior sambista brasileiro de todos os tempos, o cantor e compositor Cartola (1908-1980) produziu uma rica obra durante sua carreira. A estreia do carioca na indústria fonográfica foi tardia, aos 65 anos de idade, com o disco Cartola, lançado em 1974. Para homenagear a genialidade do álbum, até mesmo o rapper Emicida passeia fora de seu ritmo habitual. O paulista dará uma nova roupagem para as canções no show Emicida canta Cartola, neste domingo, no Teatro RioMar (Avenida República do Líbano, s/n, Pina).

Para apresentar os clássicos do mestre, o rapper convidou o parceiro Thiago França, saxofonista da banda Metá Metá, com quem assina a direção musical. O toca-discos  ficará por conta do DJ Nyack. Assim como qualquer criança criada na periferia da Zona Norte de São Paulo, Leandro Roque de Oliveira cresceu ouvindo o samba que ecoava nas casas e bares da vizinhança, mas foi no rap que ele encontrou o caminho para construir a carreira de sucesso.

Com seu próprio selo, chamado Laboratório Fantasma, Emicida lançou diversos trabalhos, divulgou novos artistas e, mais recentemente, criou a sua grife de roupas LAB, que possui modelos negros e já desfilou dois anos consecutivos no São Paulo Fashion Week: "Fiz com a passarela o que ele fez com a cadeia e com a favela: enchi de preto!", diz o rapper na canção Yasuke (Bendito, louvado seja), lançada neste ano.

Seus flertes com o samba ficaram mais nítidos no disco O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui (2013). A imersão continuou em Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa (2015), em que ele também dialogou com a MPB, fazendo duetos com Caetano Veloso e Vanessa da Mata. Sua liberdade artística e versatilidade são tamanhas que possibilitaram criação do Canta Cartola, em que apresentará canções como Tive sim, O Sol nascer e Acontece. Também haverá espaço para homenagear Adoniran Barbosa, com interpretação da música Saudosa maloca.

ENTREVISTA - Emicida, rapper

De quando vem a sua relação com o samba?
É um amor antigo. Quem cresceu em “quebrada” escuta samba em casa ou vindo da casa do vizinho. Eu sou um grande fã de samba, influenciado pelo gênero de muitas maneiras, vejo muitas semelhanças entre ele e o rap.

Por que cantar Cartola, dentre tantos outros sambistas brasileiros? 
Sou um grande admirador da obra do Cartola, da sua poesia. Eu o considero um historiador não oficial do Brasil, no sentido de que eu o ouço e consigo ver ali como viviam os brasileiros que ele retrata naquela época. Você não vai encontrar aquela perspectiva nos livros de história, mas não deixa de ser uma imersão profunda no Brasil e em seu povo.

Tanto o samba quanto o rap são de origem negra. A relação entre os dois gêneros também passa por esse viés?
Sim. Ambos são marginalizados, oriundos das “quebradas”, contando a história do povo das “quebradas”.

No passado, as rodas de samba já foram criminalizadas no Brasil. O que isso diz isso diz sobre o país, em sua opinião?
Este é um país racista que tenta fingir que não é, tenta varrer essa sujeira para baixo do tapete. Este momento caótico que estamos vivendo se deve em parte a isso também. Precisamos falar sobre o racismo, debater o tema, porque só assim a gente vai acabar com essa estrutura tão enraizada em nosso país.

Há poucos dias você gravou o primeiro DVD da carreira. Por que só agora?
O DVD vai se chamar Dez anos de triunfo e é uma celebração de nossa trajetória até aqui. No ano que vem faz dez anos que lançamos Triunfo, a música que me colocou nesta cena, me abriu portas, começou a contar minha história na música para um número maior de pessoas. Então este trabalho é minha maneira de agradecer ao público por tudo isso que os fãs me proporcionaram desde aquele momento até o ponto em que estamos. Terá participações de artistas como Caetano Veloso, Pitty, Karol Conka, Vanessa da Mata, Rael, Guimê e muito mais. No ano que vem está na rua.
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