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Mercado Netflix e Amazon dão golpe na TV clássica ao contratar criadores de The Walking Dead e Grey's Anatomy Shonda Rhimes e Robert Kirkman, à frente de séries de sucesso, ganham o mundo com plataformas online

Por: Tiago Barbosa

Publicado em: 14/08/2017 19:55 Atualizado em: 14/08/2017 20:42

Robert criou a série zumbis e Ronda, o drama médico: casos de sucesso na televisão. Fotos: Montagem/DP
Robert criou a série zumbis e Ronda, o drama médico: casos de sucesso na televisão. Fotos: Montagem/DP


Duas movimentações nos bastidores da teledramaturgia norte-americana anunciadas nesta semana fortalecem os serviços de TV por internet e conferem ao streaming estímulo incomensurável no setor de criação de séries. A Amazon revelou ter contratado o idealizador de The walking dead, Robert Kirkman, após o rompimento do profissional com o canal AMC. Ele deve conduzir o desenvolvimento de seriados exclusivos em parceria com os estúdios da empresa. A concorrente Netflix também surpreendeu o show business ao firmar contrato com Shonda Rhimes, uma das mentes mais férteis da TV do país, responsável por sucessos como Grey's Anatomy, How to get away with murderer (produção-executiva) e Scandal. O acordo encerra o período de 15 anos dela na ABC e faz da plataforma online o espaço para novos projetos da produtora Shondaland.

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As contratações miram o interesse de ampliar a fatia de assinantes e popularizar o conteúdo através da sedução exercida por tramas profundas, aspecto característico das obras dos dois autores. A série sobre zumbis The walking dead é uma das mais vistas da TV dos EUA e, apesar de oscilar na audiência recentemente, está na oitava temporada e enseja a derivada Fear the walking dead, já na terceira fase. Grey's anatomy é o drama médico com maior vitalidade da televisão: renovado para a 14ª etapa, é o mais consumido do catálogo da Netflix ianque segundo levantamento feito pela 7Park.

A aquisição de Shonda abre janela para a diversidade racial. Negra, ativista, ela se notabiliza por criar papéis fortes para mulheres afrodescendentes. Em How to get away, o protagonismo de uma exímia advogada, professora universitária e líder de um grupo de alunos proeminentes enrolados com a justiça é exercido por Viola Davis. A interpretação rendeu a ela o Emmy de Melhor Atriz, o primeiro vencido por uma profissional negra. No discurso de agradecimento, Viola criticou o racismo em Hollywood e enfatizou a importância de existir personagens relevantes escritos sob medida para atores afrodescendentes.

Scandal e How to get away with a murderer: mulheres negras em papéis importantes é traço de Shonda Rhimes. Foto: ABC/Divulgação
Scandal e How to get away with a murderer: mulheres negras em papéis importantes é traço de Shonda Rhimes. Foto: ABC/Divulgação


Em Scandal, o olhar racial se repete: na pele de Olivia Pope, Kerry Washington inaugurou a indicação do Emmy para atrizes negras. Com essas produções, Shonda se tornou a primeira criadora afro-americana a romper três vezes a barreira dos 100 episódios com as temporadas de uma série. O contrato da roteirista e criadora com a Netflix deve ser de quatro anos, com percentual para a dona da Shondaland sobre o faturamento das obras.

"Shonda Rhimes é uma das maiores criadoras da história da televisão", afirmou ao Hollywood Reporter o executivo do streaming Ted Sarandos. "Ela é uma 'netflixer' de coração - ama TV e filmes, preocupa-se verdadeiramente com o trabalho e entrega à audiência. Estamos excitados em dar as boas-vindas a ela". A roteirista também celebrou: "Ted proporcionou um espaço sem receio para criadores na Netflix. Ele entendeu o que eu procurava - a oportunidade para construir uma história vibrante, com liberdade para escritores e alcance global através de um senso de inovação". A Netflix exibe conteúdo para 190 países e tem uma carteira com mais de 100 milhões de assinantes - mais da metade fora dos Estados Unidos.

O anúncio da contratação de Shonda deve mitigar notícias negativas sobre investimentos criativos feitos pelo serviço de streaming. Recentemente, o cancelamento de séries como Sense8, Marco Polo, The get down e Gypsy gerou críticas quanto à continuidade do êxito da plataforma - sobretudo porque o alegado pretexto de baixo custo-benefício contrariaria uma lógica de produção simpática a audiências modestas, tido como diferencial do streaming em relação às tevês a cabo. A necessidade de diminuir a margem de erro de um projeto justificaria a parceria com uma criadora renomada como Shonda. E estaria por trás da desapontadoria do ícone do entretenimento dos EUA David Letterman, contratado para o novo talk show da plataforma.

Fear the walking dead: ecos do sucesso de The walking dead, de Robert Kirkman. Foto: AMC/Divulgação
Fear the walking dead: ecos do sucesso de The walking dead, de Robert Kirkman. Foto: AMC/Divulgação


A empresa já havia experimentado recorrer a figuras tarimbadas da telinha como Chelsea Handler (à frente de um programa de entrevistas homônimo) e a referência-mor Oprah Winfrey, criadora e atriz do seriado Greenleaf, sobre dilemas éticos e morais enfrentados por um clã familiar negro e administrador de uma igreja evangélica com práticas controvertidas.

A queda de braço entre as plataformas clássica e online de televisão tem propiciado experiências ousadas sobretudo por parte do modelo de transmissão pela internet. As articulações feitas por Netflix e Amazon representam um golpe no modelo tradicional ao desfalcar os canais de dois talentos incomparáveis. Mas revelam como as inovações digitais nem sempre dispensam fórmulas bem-sucedidas. O streaming avança, é certo. Mas sem tirar o olho da TV.

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