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Cinema Atrizes diretoras: Leandra Leal e outras artistas comandam projetos na TV e no cinema Dirigido por Leandra, documentário Divinas Divas será exibido no festival de cinema Recifest, no Cinema São Luiz

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/11/2016 19:37 Atualizado em: 17/11/2016 20:50

Leandra Leal dirige o documentário Divinas divas, que acompanha a primeira geração de travestis no Brasil. Foto: Daryan Dornelles/Divulgação
Leandra Leal dirige o documentário Divinas divas, que acompanha a primeira geração de travestis no Brasil. Foto: Daryan Dornelles/Divulgação

"Eu não sou como Spike Lee, David Fincher, Robert Zemeckis ou Martin Scorsese. Mas há lições importantes que você aprende com todo mundo. E então surge a inspiração de criar uma assinatura ou encontrar o seu próprio jeito". O depoimento da norte-americana Jodie Foster, em entrevista ao The Hollywood Reporter, resume o interesse dela por direção. Aos 53 anos, a atriz de clássicos como Taxi driver e O silêncio dos inocentes também é reconhecida mundialmente como diretora, seja de filmes como Um novo despertar (2011) e Jogo do dinheiro (2016) ou de episódios de séries como Orange is the new black e House of cards. Como ela, brasileiras também se apropriam do conhecimento adquirido na interpretação para imprimir uma identidade própria atrás das câmeras.

Estrela de O lobo atrás da porta e A ostra e o vento, Leandra Leal é uma delas, mas rejeita o título: "Não sou uma diretora. Sou uma atriz que dirige". No cinema, a estreia na função foi no documentário Divinas divas, que será exibido neste sábado, a partir das 19h30, no cinema São Luiz, no último dia do Recifest - Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero. Até então, só havia dirigido os espetáculos Impressões do meu quarto e Mercadoria do futuro. O filme aborda a primeira geração de travestis: Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios.

Não foi uma inquietação artística que levou a atriz à direção. Foi o encantamento e a intimidade com o tema central. A ideia surgiu no momento em que ela começou uma pesquisa sobre a trajetória das artistas, cujo início das carreiras ocorreu no Rival, teatro da família de Leandra no Rio de Janeiro. "Eu estava em busca de um projeto autoral. Quando as encontrei, realmente entendi que só eu poderia fazer esse documentário por conta da minha relação com elas", justifica Leandra.

A espinha dorsal do documentário é um reencontro das travestis performáticas no palco, em celebração aos 50 anos de trajetória. O registro documental abre espaço para expor dificuldades e preconceitos enfrentados ao longo da jornada, mas não é um "tratado" sobre a questão de gênero no país. "Elas venceram na vida porque são artistas. Fizeram carreiras bem-sucedidas", elogia a diretora.

Por conviver desde sempre com as travestis, Leandra afirma que a questão de gênero nunca foi um tabu. Nem quando criança. Ela foi compreender o preconceito que existe apenas quando estava mais velha. "Se você vai para outros meios, uma travesti que quer ser enfermeira, por exemplo, é muito difícil. Essa onda conservadora encaretou", compara a diretora.

Leandra tem uma posição privilegiada em relação a elas que foi fundamental na construção do registro. O olhar de admiração e de respeito da atriz diante das artistas está presente na obra. O distanciamento com o tema, no entanto, foi definido no processo de montagem do documentário, que durou dois anos e meio. Após Divinas divas, Leandra diz que pensa em dirigir novas produções, mas frisa que serão projetos pontuais.

Assim como Leandra, a atriz Camila Pitanga também estreou como diretora em um filme bastante íntimo. O documentário Pitanga, lançado no Festival do Rio deste ano, retoma a trajetória de Antonio Pitanga, pai da atriz - ou "pãe", como ela define. "Ator que fez parte da construção do Cinema Novo e, como ele mesmo diz com orgulho e sabedoria, 'um negro em movimento'", resumiu Camila, em depoimento publicado por ela no Instagram.

Por curiosidade, Mariana Ximenes recentemente estreou como produtora. Ela queria entender mais sobre o processo de feitura de um filme. Em Um homem só, estrelado por ela e Vladimir Brichta, acumulou as funções de atriz e produtora. %u201CTudo começou em um papo de atriz: %u2018Quero fazer algo diferente, me envolver mais com cinema. Quero produzir e realizar%u2019%u201D, recorda Mariana.

De cara, a atriz conheceu na prática as dificuldades da função, já que o filme demorou sete anos para ser lançado. Como ela, outras atrizes também atuam como produtoras, a exemplo de Deborah Secco (Boa sorte) e Claudia Abreu (série infantilValentins).

>> Atrizes que foram além da interpretação e assumiram a direção de longas-metragens

Foto: Denise Andrade/Divulgação
Foto: Denise Andrade/Divulgação
Marina Person

Marina Person trilha os caminhos do cinema há anos. Neste ano, lançou Califórnia, o primeiro de ficção da carreira. Estreou como diretora no documentário Person (2007), sobre o pai, o cineasta Luiz Sergio Person. Também dirigiu o clipe Segunda chance, do cantor pernambucano Johnny Hooker. Entre os projetos atuais, está o de protagonista de Canção da volta, dirigido por Gustavo Rosa de Moura.

Foto: João Cotta/TV Globo
Foto: João Cotta/TV Globo
Maria Ribeiro

Dois assuntos íntimos marcaram a experiência da atriz como diretora. O documentário Domingos (2011) trata da trajetória do ator Domingos de Oliveira, principal influência da carreira artística dela. A obra foi uma maneira de homenagear o dramaturgo. Em 2015, lançou o documentário Los Hermanos: Esse é só o começo do fim da nossa vida. Os músicos foram contemporâneos dela na PUC.

Foto: TV Globo/Divulgação
Foto: TV Globo/Divulgação
Letícia Sabatella

A estreia da atriz como diretora foi no documentário Hotxuá (2007), codirigido pelo cenógrafo Gringo Cardia. O filme acompanha membros da tribo indígena Krahô. A protagonista de filmes como Não por acaso (2007) e Romance (2008) se interessou pela temática ainda na década de 1990, quando fez um laboratório na tribo. Desde então, não interrompeu o contato com o grupo.

Foto: Warner/Divulgação
Foto: Warner/Divulgação
Courteney Cox

Inesquecível na pele de Monica Geller de Friends, a atriz mostrou as veias de diretora no seriado Cougar town, exibido entre 2009 e 2015. Além de protagonizar a produção, ela dirigiu 12 dos mais de 100 episódios. No cinema, assinou o filme de humor negro Just before I go, lançado em 2015, além de longas como The monday before Thanksgiving (2008) e Talhotblond (2012).

Foto: Getty Images/Reprodução da Internet
Foto: Getty Images/Reprodução da Internet
Angelina Jolie

Invencível, Na terra de amor e ódio e À beira do mar estão entre os longas-metragens dirigidos por Angelia Jolie. A filmografia assinada por ela é extensa. Em 2007, começou a projeção por trás das câmeras. Como produtora, já trabalhou em pelo menos nove filmes. Além dos mencionados, assumiu a função em Malévola (2014), longa-metragem em que também atuou como protagonista.

Sobre o Recifest:
O Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero segue até o próximo sábado, no Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175, Boa Vista), com exibições de filmes, performances, espetáculos, debates e lançamentos de livros. Entre os destaques desta quinta-feira, está o espetáculo de dança ämämä mämäm, de André Aguiar, e a mostra competitiva pernambucana. Todos os eventos são gratuitos.

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