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Grandes nomes da literatura nacional se reúnem na Semana do Livro

Evento agrega painéis, palestras e lançamentos entre a quarta-feira e o domingo no Museu do Estado de Pernambuco

Sidney Rocha, Eliane Brum e Raimundo Carrero estão na programação. Foto: João Miguel Pinheiro/Divulgação, Bernardo Dantas/DP e Twitter/Reprodução

Nem todo campo de batalha é um espaço físico: alguns residem nas mentes e as lutas interiores fazem parte da miríade de conflitos que Sidney Rocha narra em Guerra de ninguém (Iluminuras, 118 páginas, R$ 40), mais recente trabalho do escritor cearense radicado no Recife. O lançamento é um dos destaques da programação da Semana do Livro de Pernambuco, realizada desta quarta-feira até domingo no Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças).

Além de lançamentos literários, a programação do evento conta com oficinas, cursos e atividades para o público infantil. Estarão presentes escritores como Eugenia Zerbini, José Castello, Bernardo Kucinski e Elvira Vigna, que participam de palestras e debates. As atividades são gratuitas e ocorrem das 14h às 20h.

Sidney Rocha, que fará sessão de autógrafos no sábado, às 19h, dá alguns detalhes sobre o novo livro, que reúne 22 contos. Para ele, os embates internos vistos nos personagens da obra têm origem no mundo exterior. São frutos diretos ou indiretos de algo tangível, a violência, que, segundo o autor, é algo mais unânime do que o próprio amor. “Não só é mais universal, é também a outra cara do amor. O nascer do mundo foi uma explosão. O parto é violento e doloroso. Só o não-viver, ou seja, o não ter nascido, é apaziguado, sem choques, neutro”, opina.

E o resultado da brutalidade que permeia as histórias do livro é justamente o fim da vida dos personagens. Nas palavras de Sidney Rocha, “a morte é o único assunto da literatura”. E é disso que se trata Guerra de ninguém. As mortes vistas no livro são diversas, vão do assassinato ao suicídio, mas trazem um aspecto em comum: são retratadas sem o pesar habitual, algo corriqueiro, quase banal. “É intencional, deliberado, como o absurdo também é em Sartre, Camus e Beckett”, afirma o escritor.

O volume é a último de uma trilogia de livros de contos iniciada em 2009 com Matriuska (Iluminuras, 96 páginas, R$ 40) e continuada em O destino das metáforas (Iluminuras, 116 páginas, R$ 40), de 2011. “Há um elo comum entre os três livros. Não um elo perdido, um elo de perdição. Dos personagens enredados no amor, na vida e na morte que, assim, juntos, ou separados, sejam sempre um só”, afirma Rocha. O autor aponta, ainda, que o primeiro é mais centrado em figuras femininas, enquanto o segundo é “misto, familiar” e, o terceiro, masculino.

DUAS PERGUNTAS PARA // SIDNEY ROCHA

Algum acontecimento externo influenciou na escolha da temática do livro?

De modo consciente, não. Mas é impossível que acontecimentos externos — se a expressão se refere ao aqui e agora — não influenciem na composição de uma história, por mais interna ou internalizada que ela queira ser.

Por que a guerra ainda fascina, para o bem ou para o mal?

A guerra é a razão ou desrazão de ser do gênero humano. O único em que conseguimos imitar com perfeição a natureza. A guerra é bela como um incêndio, e feia como um pântano. Uma síntese do humano em suas baixezas e glórias - estas últimas sempre ilusórias, é claro. 

A guerra vista nos textos reflete mais batalhas de outra época, do confronto direto, diferente de táticas atuais, como o uso de drones, bombardeios etc. A violência está perdendo rosto?

O corpo a corpo só é possível numa sociedade ainda movida pela ideia de coragem e de honra. Estamos diante da covardia química, biológica, da covardia midiática. Mas não, a violência não está perdendo o rosto, pelo contrário: a cada dia ganha novos rostos, máscaras e disfarces.

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

Quarta-feira (30)

15h - O crítico e escritor José Castello abre o evento com o painel

Narrativas possíveis do presente, com debate sobre O processo, de

Franz Kafka, e os paralelos com acontecimentos atuais e a

judicialização da política

Quinta-feira (1º)

16h - Sobre como pensar o jornalismo em 2016 é o tema de conversa

entre a jornalista Eliane Brum, colunista do El País, com o curador da

Semana do Livro, Schneider Carpeggiani

19h - Lançamento do livro A história incompleta de Brenda e de outras

mulheres, de Chico Ludermir. Na obra, o fotógrafo e jornalista conta,

a partir de fotos e textos, a vida 11 mulheres trans e travestis

recifenses

Sexta-feira (2)

17h30 - O escritor Raimundo Carrero recita trechos de Pérolas porcas e

comenta o processo de produção do novo romance, que tem lançamento

programado para 2017

Sábado (3)

16h - O quadrinista André Dahmer (O Globo/Folha de S.Paulo)

participa de debate com a jornalista Carol Almeida sobre o uso dos

quadrinhos como ferramenta de crítica social.

19h - O poeta Miró lança e autografa 20 para pensar um pouco,

coletânea de textos e reflexões curtas reunidas durante internação em

um centro de reabilitação para tratamento da dependência alcoólica

Domingo (4)

9h - Wellington Melo, do selo editorial Mariposa Cartonera, ministra

oficina com técnicas de produção de livros artesanais feitos com capas

de papelão

18h - A blogueira e escritora Mirela Paes conversa sobre literatura e

cultura digital, tema do próximo livro, com lançamento previsto para

2017

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