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'Foi muito desafiador', diz Rodrigo Santoro sobre série Westworld, que estreia neste domingo

Seriado da HBO mostra um parque temático no qual os personagens satisfazem os desejos do público

Rodrigo Santoro estrela série da HBO. Crédito: HBO/divulgação

São Paulo - Um nervosismo desconfortável invadiu Rodrigo Santoro em um dos dias de gravação de Westworld, nova série da HBO, que estreia neste domingo, às 23h. Na véspera das filmagens, ele recebeu um roteiro de quatro páginas com cenas com o ator norte-americano Ed Harris. Quase perdeu o sono. Com mais de 20 anos de trajetória, com destaque para atuações em filmes internacionais como Ben-Hur, Os 33 e 300: A ascensão do império, o ator sentiu na pele uma ansiedade de iniciante. Afinal, a estrela de Pollock é uma de suas referências.

A cena aparece no quarto dos dez episódios do seriado, criado por Jonathan Nolan e Lisa Joy, com produção-executiva de J.J Abrams, Jerry Weintraub e Bryan Burk. “Ele tem uma presença muito forte, um olhar penetrante. Quando cheguei ao set, disse a ele que estava nervoso”, relembra o ator. Ed Harris foi simpático, mas ficou quieto. Santoro seguiu para a locação e deitou para se concentrar. “Ele sentou do meu lado e me disse: ‘vamos fazer isso juntos’”, conta. O apoio, embora contido, foi fundamental para a gravação fluir.

No seriado da HBO, o fluminense de 41 anos interpreta o caubói pistoleiro Hector Escaton, um dos personagens artificiais do parque temático homônimo onde a trama se passa. Engana-se quem espera uma participação pequena do brasileiro. Westworld, vista como a aposta da HBO para suceder o fenômeno Game of thrones, preserva a mesma premissa do filme homônimo de 1973, mas não é um remake. O seriado retrata o dia a dia do local, no qual improváveis eventos ocorrem para satisfazer as vontades dos visitantes, por mais maquiavélicas que sejam.

A preparação para incorporar o personagem foi diferente. Habituado e defensor de laboratórios enquanto preparação prévia de trabalhos no cinema e na televisão, Santoro não fez nenhum. “Foi muito desafiador porque não deu para fazer. Não tem informação. Recebemos o roteiro pouco antes de filmar. Não sei se é intencional”, explica o ator. Santoro se “preparou para estar preparado”, como ele resume. Visitou departamento de ficção científica e reviu filmes. “Já tinha visto o filme original, mas assisti novamente com um outro olhar”, conta.

No elenco de peso, destaque para Anthony Hopkins, intérprete do criador do parque e dos “habitantes”, espécies de robôs que, conforme são atualizados, passam a desenvolver raciocínio. Questionado se contracena ou não com ele, o brasileiro mostra uma lista de itens que não podem ser ditos - determinação da HBO - e desconversa. Sobre o ator de Silêncio dos inocentes e da franquia Thor, ele é só elogios: “Anthony quebra logo o gelo. Cumprimenta todos, almoça com todo mundo. Ele faz uma imitação de Marlon Brando que é uma coisa”, exemplifica.

A evolução dos personagens se torna uma ameaça aos proprietários do parque. Em lados opostos, humanos, visitantes e “robôs” compõem a narrativa. “A gente vai observando os comportamentos. É um estudo sobre a natureza humana, o apetite humano pela violência”, explica. O primeiro episódio sugere que o personagem de Santoro é vilão, mas a série se afasta do reducionismo. “Hector tem embalagem de vilão, mas a gente vai muito a fundo. A série deixa o espectador fazer sua própria leitura”, conta.

Quando recebeu o convite, era irrecusável. Além do corpo de elenco, o seriado é produzido por J.J. Abrams, responsável por Lost, série da qual Santoro participou. Para o momento atual da carreira do ator, também veio a calhar, sobretudo porque conhece o trabalho do produtor. “Claro que é um pacote, mas inicialmente a conexão é com um personagem diretamente”, responde. Ele sentia vontade de retornar à televisão, dez anos após a experiência no bem-sucedido seriado Lost. No intervalo das gravações de Westworld, voltou à televisão brasileira e atuou na primeira fase de Velho Chico, na qual interpretou o coronel Afrânio. “A experiência foi linda com Velho Chico. Foi um mergulho no coração do Nordeste. Acho importante. Era uma forma de reciclar”, conclui.

Sem maniqueísmo

Longe do maniqueísmo, o seriado expõe histórias de personagens controversos. O episódio piloto impressiona pela narrativa, estética e direção. Dia após dia, os personagens se refazem à medida em que o parque abre e fecha. Tudo começa com o despertar da “mocinha” vivida por Evan Rachel Wood, os atos cruéis do papel de Ed Harris e os questionamentos de um dos robôs. Com cenas de violência, o episódio piloto mostra o potencial da narrativa de todos os personagens - do criador a criaturas.

Caboclo inspirador

Em uma das lembranças das gravações de Velho Chico, considerada pela crítica uma das melhores novelas dos últimos tempos e marcada pela tragédia com o ator Domingos Montagner, intérprete do protagonista, Santo, ele cita a espiritualidade e talento do compositor pernambucano Maciel Melo, que participou como repentista ao lado do amigo e parceiro musical Xangai. “Ele é um poeta incrível. Enquanto eu lia os textos, ele ficava na varanda compondo. Eu dizia: ‘você está me inspirando’”.

Versão original

Clássico de ficção científica de Hollywood, Westworld: Onde ninguém tem alma (1973) foi escrito e dirigido por Michael Crichton (autor de livros que inspiraram mais de uma dezena de filmes, como a franquia Jurassic park). É considerado pioneiro no uso de cenas digitalizadas por computadores. No longa, dois homens vão passar as férias em um moderno centro de entretenimento que recria atmosferas do Velho Oeste, da Roma Imperial e Idade Média, habitado por robôs de alta tecnologia que simulam pessoas. Embora tenham sido programadas para serem amigáveis, as máquinas têm uma pane e se tornam extremamente perigosas. Muitos visitantes são mortos enquanto a dupla de amigos tenta fugir do local.

 

A princípio, o longa de Crichton foi recusado por vários estúdios, até que a Metro-Goldwyn-Mayer topou bancar o projeto, contanto que o orçamento se limitasse a US$ 3 milhões (o equivalente, à época, a US$ 16 milhões). Nas bilheterias, o filme arrecadou mais de US$ 10 milhões (US$ 53 milhões em valores de hoje). A título de comparação, a nova série tem US$ 54 milhões à disposição para a primeira temporada, valor próximo ao da série mais assistida do mundo, Game of thrones (US$ 60 milhões).

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