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Literatura E se morrer tivesse data certa? Conheça o livro escrito por Lance Rubin O Dia da Morte de Denton Little é uma obra divertida, sem grandes pretensões, mas que provavelmente vai prender a atenção do leitor seja ele adolescente ou não

Por: Bárbara Valdez

Publicado em: 15/10/2016 12:46 Atualizado em: 15/10/2016 14:29

A história sobre Denton Little é oprimeiro livro escrito por Lance Rubin, que também é ator e roteirista. Foto: Facebook/Reprodução
A história sobre Denton Little é oprimeiro livro escrito por Lance Rubin, que também é ator e roteirista. Foto: Facebook/Reprodução

É o último ano Ensino Médio, Denton Little tem apenas 17 anos e poucas horas de vida. Essa podia ser uma notícia desoladora para o garoto, mas ele até que encara bem a situação, afinal, quase todos no país onde mora sabem qual será o exato dia em que vão morrer. É assim que Lance Rubin constrói o universo de O Dia da morte de Denton Little, livro publicado pela editora Intrínseca esse ano.

É bem difícil não sentir certa curiosidade sobre uma história que tem como tema central algo tido como sombrio. A morte é quase sempre vista como um momento imprevisível e por mais que todos saibam que um dia ela vai chegar, a maioria da sociedader sente-se apavorada com a ideia de um fim iminente. No livro, esse assunto é abordado o tempo inteiro e de uma forma leve, contudo sem ser banal. O autor consegue dar um tom certo de medo e tristeza aos seus personagens e ao mesmo tempo fazê-los encarar com certa naturalidade aquele cotidiano em que a morte está tão presente.

"Qual era o sentido de ser normal? Será que pensei que, se me misturasse à multidão, talvez a Morte não me notasse?" P.25

O enredo se constrói num futuro próximo, em que a população lida com uma técnica médica chamada ATG, que é basicamente uma série de testes feitos assim que cada um nasce e indica o exato dia da morte da pessoa. Assim, não importa o que alguém faça, pode se jogar de uma ponte ou pular na frente de um carro, ela só vai morrer no dia marcado. Claro, isso não impede que a pessoa fique paralítica ou em coma nesse meio tempo.

Rubin cria um personagem principal carismático e toda a narrativa tem uma forte carga de sarcasmo e despretensão, o que dá ao livro um tom adolescente, mas também o torna interessante pra quem é mais velho. A narrativa desenvolve-se no período de 48 horas, no qual os leitores acompanham as reflexões e os medos de Denton Little até seu momento final. Nesse meio tempo aparece o relacionamento em crise com a namorada Taryn, a despedida dos pais e uma possível traição com Verônica, irmã do melhor amigo Paolo.

"Eu me dou conta de que a comédia e a raiva podem, na verdade, estar mais ligadas do que eu havia imaginado [..]." P.46

Apesar de divertido, o livro tem alguns entraves técnicos. O enredo torna-se cansativo depois de um tempo, mesmo com o desenrolar de vários acontecimentos. Na verdade, parecia que o autor estava simplesmente querendo prolongar um desfecho e que nem sabia mais qual seria ele. Por sinal, o fim é bem inusitado para o tom que a história vinha tendo e meio que lhe deu ares de conspiração governamental. Isso ofereceu "gás" à narrativa dos últimos capítulos, mas ao mesmo tempo fez com que o texto não tivesse uma identidade do que realmente queria transmitir ao leitor. Essa falta de foco é reforçada pela ideia um tanto caricata que faz Denton ficar roxo ao longo do livro.

Mesmo com alguns defeitos, O dia da morte de Denton Little é uma opção interessante para uma leitura no fim de semana, é rápida e leve. Além disso, o texto de Lance Rubin traz uma proposta curiosa para a base do enredo.

"Estou pensando no seguinte: Amanhã é o dia da minha morte." P.10
 
A morte já esteve presente em outras produções literárias. Confira algumas delas:  

Com enredos de drama, humor ou romance, a ideia da morte é trabalhada em vários momentos da literatura. Foto: Montagem/DP
Com enredos de drama, humor ou romance, a ideia da morte é trabalhada em vários momentos da literatura. Foto: Montagem/DP


A morte é legal
, de Jim Anotsu

Tem um enredo que gira em torno de Andrew, um jovem com pretensões de escritor, e Ive, a filha da Morte. O texto é surreal e mistura referências diversas, tornando-se romance, comédia e drama. A publicação é nacional, feita em 2012, pela editora Draco. 

Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto

Um clássico da literatura brasileira. O livro traz a história de um retirante nordestino que sai do Sertão pernambuco em busca de uma vida melhor. A obra já teve adaptações para a televisão, cinema e também ganhou uma versão em quadrinho. O texto original foi publicado em 1955 e uma das republicações mais recentes é da editora Objetiva/Alfaguara, de 2016 
 
A loja dos suicidas, de Jean Teulé

Com uma proposta um tanto polêmica, essa novela apresenta uma loja onde são vendidos os mais diversos tipos de produtos, todos com um único objetivo, dar ao cliente a opção de suicidar-se. A narrativa tem um humor ácido e traz reflexões sobre o mal da depressão, tão presente na sociedade atual. Aqui no Brasil, o livro foi publicado em 2010, pela editora Nova Fronteira, e também ganhou adaptação para o cinema. 


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