Transsexualidade, homofobia, violência, drogas, política, tecnologia, massificação, a luta por direito das minorias, o empoderamento, a censura. Palavras extremamente usadas nos dias atuais nos levam a uma pequena viagem no tempo. O ano era 1974, o Brasil passava por um dos períodos mais sombrios da sua história: a ditadura militar. E em meio ao caos, sob os influxos do tropicalismo e da contracultura, nascia o Vivencial. Grupo teatral olindense que foi um marco de irreverência e de transgressão na cena cultural pernambucana até os anos 1980 é reverenciado na peça Puro Lixo, o espetáculo mais vibrante da cidade, que estreia no próximo sábado, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho.
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Peça resgata atmosfera de irreverência e transgressão da cena teatral da década de 1970
"Puro Lixo, o espetáculo mais vibrante da cidade" estreia no próximo sábado, às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho
A ideia inicial do Vivencial era tirar da invisibilidade jovens de comunidades periféricas. Abrir espaço público para as suas vivências. Começou como um trabalho da pastoral com a juventude, ligado à Arquidiocese de Olinda e Recife, mas a parceria não durou muito tempo. O sucesso do grupo ultrapassou os muros da igreja. Após cinco anos, eles construíram seu teatro no mangue, em uma favela localizada no limite entre o Recife e Olinda. À margem da cidade, o novo espaço é chamado Vivencial Diversiones – uma espécie de café-concerto. Tendo obtido o prestígio do público, o grupo abre novo mercado de trabalho para artistas, sobretudo transformistas, que eram em geral marginalizados.
Em Puro Lixo, com texto do dramaturgo Luís Augusto Reis, feito especialmente para esta apresentação, e direção de Antonio Cadengue, não é diferente. O espetáculo traz à tona personagens muitas vezes esquecidos e recriminados da sociedade. No entanto, você não vai assistir uma reprodução de uma peça do passado. O espetáculo revisita o passado por meio de trechos do artigo de João Silvério Trevisan narrados em cena e evocações de espetáculos antigos, no entanto, é bastante atual. "Os personagens e situações evocados são narrados, comentados, representados, sobretudo tratados com jocosidade e, ao mesmo tempo, pertinência, no que concerne à sexualidade e à realidade brasileira", explica Cadengue.
O cenário de Puro Lixo nos põe dentro do café-concerto. As cores, as plumas, o palco, os travestis, tudo está lá. Mas, não é só de purpurina que se faz a arte, tão pouco a vida.
A plateia em alguns momentos é convidada para participar e em tantos outros para se inquietar. Inquietações presentes (e bem presentes) na nossa sociedade. O preconceito contra homossexuais, contra a mulher, o abuso de poder e a hipocrisia.
Encenado por Eduardo Filho, Gilson Paz, Marinho Falcão, Paulo Castelo Branco, Samuel Lira e Stella Maris Saldanha, o espetáculo encerra uma trilogia, iniciada em 2008, vinda da pesquisa Transgressão em 3 atos. O projeto encabeçado pelos jornalistas Alexandre Figueirôa, Claudio Bezerra e pela também atriz Stella Maris resgatou três importantes grupos pernambucanos, cujas atuações se deram nos anos 60, 70 e início dos 80: o Teatro Popular do Nordeste (TPN), o Teatro Hermilo Borba Filho (THBF) e, por fim, o Vivencial.
Após análise o próximo passo foi à encenação de textos que remontam à história e repertório dos grupos estudados: Os fuzis da Senhora Carrar, de Bertolt Brecht (2010), o Auto do salão do automóvel, de Osman Lins (2012). "A montagem de Puro Lixo, que entregamos ao público com alegria provocativa, dialoga com o ruidoso e transbordante universo tropicalista do Vivencial, assim como as montagens de Os fuzis e do Auto, dialogaram com o THBF e com o TPN, respectivamente, cumprindo nosso propósito de ensejar interlocução entre a memória e o contemporâneo", explica Stella.
Puro Lixo, o espetáculo mais vibrante da cidade estreia no próximo sábado e terá apresentações todos os sábados e domingos, às 18h, até o dia 4 de setembro, no Teatro Hermilo Borba Filho. E, no último final de semana, com sessões às 18h e 20h. Os ingressos custam R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira).
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