A festa ainda não acabou. Tampouco a luz apagou nem o povo sumiu. Por ora, o cantor pernambucano Paulo Diniz, que alcançou fama “chorando” com O chorão, em 1966, e sucessos como Pingos de amor, Um chope pra distrair e O meu amor chorou na década seguinte, continua se apresentando acompanhado de seu único amigo, como diz, o violão. Mas a festa começa a apontar o fim.
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Paulo Diniz grava DVD neste sábado e ensaia a despedida definitiva dos palcos
Cantor e compositor esqueirense de 76 anos que realizou o sonho de ser um artista a duras penas, grava um DVD, hoje, no espaço de shows da creperia Rouge, em Casa Forte
Paulo Diniz reconhece o peso do tempo. Saudosista, embora realista, sabe que as suas músicas permanecem atuais depois de tantos anos, na boca do povo, dos românticos. "Na lógica, tenho 76, mas gosto de dizer que estou com 80. Mas conto apenas uns 30, pois permaneci no meu tempo musicando a vida, e ela se modifica", explica.
Na trajetória artística de Diniz, a injustiça também se alimenta através dos versos "I don't want to stay here, I wanna to go back to Bahia", da embalante Quero voltar pra Bahia, homenagem ao então exilado Caetano Veloso, uma das canções mais conhecidas do cantor. Ficou marcado como um "pernambucano que queria ser baiano".
A saída de cena, para muitos ostracismo, em que se encontrou durante os anos 1980, "quando gente como Evandro Mesquita e a Blitz passou um rodo naquela MPB melancólica dos anos 80", nas palavras de Paulo André Pires, também não foi suficiente para alçar Diniz aos rol definitivo dos esquecidos. Até mesmo "na dele", marcou território no coração de milhares de fãs, gente que a cada geração se permitiu cantar versos como "o meu amor chorou, não sei por que razão..."
Sobre a música atual brasileira, o cantor e compositor diz não contestá-la, apesar de preferir a geração dos anos 60 e 70. "O tempo segue um rito cronológico e cada mudança é inevitável. As coisas de hoje não têm a mesma qualidade de anos atrás, porém é o mundo atual", diz sem rodeios.
E agora, Paulo? "Essa despedida vai se estender um pouco, acho que sou um xodó de Deus, ainda estou vivo", diz, sobre o show de hoje. Diniz possivelmente não trocará tudo que tem ou teve "para não ver choro", mas certamente ainda verá muitos tomarem um chopp pra se distraírem, entre os pingos de amor da vida e até mesmo mil furos, mancadas e linhas tortas.