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Livro desvenda fases menos conhecidas do líder político Francisco Julião

O exílio de Julião no México e a adaptação ao processo de redemocratização do Brasil são destrinchados pelo historiador Pablo Porfírio

O livro de Porfírio aborda a participação de Francisco Julião na Zona da Mata de Pernambuco, antes do golpe militar, e no processo de redemocratização do Brasil. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Durante anos, entre as décadas de 1940 e 1950, Francisco Julião percorreu a Zona da Mata pernambucana, atuando como advogado dos camponeses locais. Essa peregrinação lhe renderia, mais tarde, a liderança das ligas camponesas, a idolatria de comunidades rurais e a perseguição decorrente da fama de comunista agitador. A cassação de seu mandato como deputado - eleito em 1962 - e a prisão, consequências imediatas do golpe militar no Brasil, são passagens conhecidas da trajetória dele.

É a outras, menos exploradas, que o pesquisador e professor de história da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Pablo Porfírio se dedica no livro Francisco Julião: em luta com seu mito (Paço Editorial, R$ 45), que será lançado nesta terça-feira (07), às 19h, no Restaurante Brazão de Ouro (Rua Amaro Gomes Poroca, 256), na Várzea, Zona Leste do Recife.

 


“Na redemocratização, Francisco Julião foi rejeitado pela própria esquerda, que o via como radical. Naquela fase pós-ditadura, não havia espaço para radicalismos”, explica Porfírio, cuja proposta é clarificar a vida do pensador quando não mais existiam as ligas camponesas. “Ele lutou contra o próprio mito, voltou a se exilar no México nos anos 1990, desta vez por vontade própria, e morreu no esquecimento, vivendo em condições precárias. Não há qualquer monumento ou túmulo em sua memória”, lamenta o autor.

 

DUAS PERGUNTAS: Pablo Porfírio, historiador, professor e pesquisador

Pablo Porfírio é pesquisador, historiador e professor da UFPE. Foto: Paço Editorial/Divulgação

Ele foi escanteado pela esquerda, dada a imagem de pensador radical. Nos anos 1980, se envolveu em polêmicas ao se aliar a usineiros, consequência da rejeição dos pensadores de esquerda. Chegou a se candidatar adeputado em 1986 e, com votação pouco expressiva e imagem desgastada, decidiu regressar ao México. Foi uma fase difícil para ele. Era um momento delicado na política nacional, no qual radicalismos de qualquer espécie não eram bem vindos.

E os últimos momentos no México? Há registros dessa época?

Ele caiu em esquecimento, morreu em 1999, sem glórias, nem homenagens. Sua última esposa, a mexicana Marta Rosas, decidiu cremar seu corpo. As cinzas jamais foram repatriadas ao Brasil. Ele não tem túmulos, monumentos, espaços dedicados à sua memória. Ele deixou manuscritos inéditos, mas o contato com a viúva é difícil. Durante os oito meses em que me dediquei à pesquisa no México, não consegui visitá-la.

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