Diario de Pernambuco
Busca
Perícia Grampos telefônicos em escândalos políticos são detalhados em livro do perito Ricardo Molina Profissional esmiúça cerca de 70 casos em que trabalhou, em mais de duas décadas de atuação

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/05/2016 20:12 Atualizado em: 24/05/2016 20:28

Conturbado cenário político brasileiro tem vários casos com envolvimento de perícia forense. Arte: Greg/DP
Conturbado cenário político brasileiro tem vários casos com envolvimento de perícia forense. Arte: Greg/DP


O conturbado cenário político brasileiro tem alimentado o noticiário, nos últimos meses, com acontecimentos que se assemelham a episódios de conhecidas séries televisivas. A comparação mais recorrente é com House of cards, ficção norte-americana sobre os bastidores do poder nos Estados Unidos, estrelada por Kevin Spacey e Robin Wright. No entanto, os escândalos protagonizados por governantes, sobretudo aqueles investigados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, tem aproximado a realidade política do roteiro das muitas produções sobre perícia forense, como Lie to me, The wire, CSI, NCIS.

Após a divulgação do telefonema entre Lula e Dilma Roussef, em março, a imprensa repercute, desde segunda-feira, conversa entre o ministro afastado do Planejamento, o pernambucano Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado. Na ligação, eles conversam sobre a troca de governo, por meio do impeachment, como saída para conter a Lava Jato. A sucessão de denúncias de corrupção e o efeito sobre as mudanças nos quadros políticos do país criaram o ambiente perfeito para o lançamento do livro O Brasil na fita (Record, 406, R$ 49,90), de Ricardo Molina, um dos peritos mais requisitados e polêmicos do país.

Na obra, o profissional esmiúça cerca de 70 casos em que trabalhou, em mais de duas décadas de atuação. Ele deixa de lado a imparcialidade com a qual escreve laudos técnicos para se posicionar sobre os episódios, a partir de perícias em áudios, vídeos, documentos, provas criminais. O mais antigo evento analisado data de março de 1992, quando o então ministro do Trabalho, Antônio Rogério Magri, foi gravado em conversa com um assessor, para o qual sugeria a cobrança de propinas em alguns negócios do ministério.

Para Molina, esses últimos 24 anos representam um período em que o país sofreu intensas mudanças políticas, econômicas e sociais. “Escândalos inimagináveis foram uma constante. Falcatruas e atrocidades pipocaram no dia a dia nacional. Tive provas materiais para periciar relacionadas a muitas dessas histórias que narravam a podridão dos bastidores do mundo político e policial”, resume o perito.

Serviço
O Brasil na fita, de Ricardo Molina
Editora: Record
Páginas: 406
Preço: R$ 49,90

Histórias passadas a limpo por Ricardo Molina

Polícia para quem precisa
Em 1995, o Ministério Público denunciou um grupo de policiais responsáveis por extermínios e extorsões, conhecidos como Cavalos Corredores. Eles foram acusados de matar 21 pessoas na chacina de Vigário Geral, dois anos antes. Na prisão, foi montado um esquema para gravar cinco horas de diálogos entre os policiais, confessando os detalhes do crime. As provas foram essenciais para condenação dos homens.

Depois da tragédia
Após acidente aéreo que matou a banda Mamonas Assassinas, em 1996, uma fita de 15 minutos com a diálogo entre a torre de controle e a cabine do avião foi periciada. O objetivo era descobrir se o vocalista Dinho havia se sentado no lugar do copiloto e usado o sistema de rádio e se isso influenciara o acidente.
A hipótese foi descartada. Mas foi detectada falha de comunicação entre o copiloto e a torre. Mesmo orientado a seguir ao sul após arremetida, ele guiou a aeronave para o norte e causou a colisão.

Do outro lado da linha
Molina comenta ao menos uma dezena de outros casos de gravações e grampos telefônicos envolvendo a polícia. Entre eles, destaca-se a conversa do cantor Belo com o advogado, com quem combinava propina de R$ 80 mil para as autoridades. Em troca, ele não seria acusado de envolvimento com tráfico de drogas e porte ilegal de armas (o artista colecionava fuzis, e já havia sido alvo de grampos anteriores, em conversa com traficantes). Graças às gravações, Belo foi condenado a seis anos de prisão em regime fechado.

Câmera escondida
O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, gravou em vídeo, em 2002, reunião com o presidente da Loteria do Rio de Janeiro, Waldomiro Diniz. O funcionário pediu dinheiro para si e a campanha de Benedita da Silva (PT). Em troca, prometeu beneficiar Cachoeira em concorrências. As imagens foram divulgadas em 2004, quando Waldomiro havia se tornado subchefe de assuntos parlamentares da Presidência. O perito  periciou o vídeo por 48 horas ininterruptas. O caso gerou desgaste para o governo.

O rei está nu
Edson Arantes do Nascimento, Pelé, já esteve em situações nebulosas, sobre cachê por evento beneficente não realizado, acusações em CPI do Futebol, rixas com ex-jogadores. Sem contar exames de DNA e exigências de ex-namoradas. Uma delas, Magna Aparecida Alves, processou Pelé por apartamento. Na Justiça, constavam ligações telefônicas periciadas por Molina. Nelas, o ex-jogador oferecia a Magna cirurgia para restituir a virgindade e reclamava que a mãe dela o ameaçava de levar o caso ao Programa do Ratinho. Ela ganhou o apartamento no processo.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL