Viver

Baú da memória é revirado na exposição Sala de (Re)Tratos, de Suzana Azevedo

Mostra começa nesta terça na Arte Plural Galeria e traz questionamentos sobre o que fica com o passar do tempo

Mateirasi usados há décadas pela família de Suzana se tornaram parte de suas obras. Crédito: Gustavo Bettini/Divulgação

A memória pressupõe selecionar e levar para o futuro o que se tornou mais importante para sermos o que somos, conscientemente ou não. Esse revolver de acontecimentos faz parte da feitura de exposição Sala de (Re)Tratos, cuja abertura acontece nesta terça, na Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife).

A ideia de decomposição e transformação, caras ao funcionamento da natureza, estão presentes na poética da artista já a partir da escolha de seu material. Objetos de família, ou fragmentos deles, se tornaram matéria-prima para a realização das obras presentes na mostra. "Resolvi olhar a arte com os olhos inteiros, limpos. É como se eu estivesse me depurando, em um momento catártico", define Suzana.

Esta decisão trouxe para Suzana o aprofundamento no uso de materiais que seriam, a princípio, jogados no lixo. Roupas e timões de família, mesmo manchados, de revestem de uma independência de sua utilidade inicial, o vestir. Sem a dona original e sem as ocasiões que as faziam necessários, os itens se tornaram testemunhos de um tempo em suspenso. Gravuras se sobrepõem a materiais já existentes. A transformação das peças está em sua significação. "As coisas se acumulam e isso é memória, é tempo, é vida", filosofa a artista.

A mostra também traz o aprofundamento de Suzana no uso do que ela chama de L%2b - materiais que iriam para o lixo, mas, nas mãos da artista, se tornam um comentário sobre a memória da natureza. “Fui buscar, por exemplo, o material do qual são feitas as caixas de ovo, ou invólucros vistos em feiras livres. Acho precioso”. Um vídeo, com fotos de Bernardo Teshima, filmado por Isabela Stampanoni e editado por Taciana Oliveira, mostra a antiga casa de Suzana, na qual a artista morou por aproximadamente 50 anos. A memória das vivências impregnadas em cada um dos cômodos se transforma em mais um comentário sobre a passagem do tempo.

Segundo a curadora da exposição, a jornalista Flávia de Gusmão, o ato de mostrar tantas peças de família é um ato de coragem e generosidade. "Suzana teve a disponibilidade de abrir seu baú e compartilhar. Ela não queria a nostalgia pura e simples. Esta é uma rendição à transitoriedade".

SERVIÇO

Sala de (re)tratos, de Suzana Azevedo

Abertura: Hoje, às 19h

Onde: Arte Plural Galeria - Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife

Visitação: Terça a sexta, das 13h às 19h; sábados, das 16h às 20h

Entrada Gratuita

Informações: 3424-4431

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