Foi o Mercado da Boa Vista, no Centro do Recife, o ponto escolhido pelo acaso para promover encontro há muito esperado entre o músico Juvenil Silva e o poeta Miró da Muribeca. “Sempre quis musicar um poema seu. Quando poderíamos tentar?”, perguntou o primeiro. “Agora mesmo”, devolveu o segundo. Se encontraram mais tarde, mesa de bar, conversa informal. Versos postos à mesa, Juvenil e Miró ajustaram métrica, rimas, melodia. Em estúdio caseiro, letra finalizada pela dupla e azeitada pelo músico paulistano Fábio Cardelli, deram à luz a canção Eu não te amo mais. Produto de fatos encadeados por coincidência, sintonia e colaboração, a faixa integra o projeto Apoio marginal, rede de produção musical colaborativa idealizada por Juvenil, vulto do folk tropical pernambucano.
“Funciona assim: visito parceiros e gravo, nos estúdios caseiros deles, as minhas próprias músicas com voz e violão. Tomamos uma cerveja, batemos papo, falamos sobre a letra… Depois, vou embora. Cabe a eles acrescentar outras vozes, instrumentos, arranjos. As canções se transformam por completo”, explica Silva, que já envolveu Juliano Holanda, Isaar, Walter Areia, Feiticeiro Julião, Rama Om, Felipe Souza (Mombojó) e Wander Wildner no projeto. Apoio marginal remete ao óbvio: parcerias à margem do mercado fonográfico formal, independentes, sem vantagens financeiras. Uma vez prontas, as faixas são disponibilizadas no YouTube, acompanhadas de arte assinada pelos artistas colaboradores.
Esse padrão de intercâmbio, para Juvenil, proporciona não apenas a troca de experiências, mas a descoberta de novas vertentes do próprio repertório. “Chego com uma base de samba-rock e meu parceiro entende como um baião, por exemplo”, descreve o pernambucano. “É um exercício de desapego em relação às músicas como as concebemos, além de aprimoramento da nossa percepção musical.” Entre as parcerias ainda não finalizadas, Reciprocidade (Juvenil Silva com Felipe Souza e Homero Basílio), Estribucha (Juvenil Silva e Jean Nicholas com Wander Wildner) e Eu não te amo mais (Juvenil Silva e Miró da Muribeca com Fábio Cardelli). Por ora, o pernambucano dá por incerta a gravação do projeto em disco. “Pretendo continuar a fazer parcerias nesses moldes pelo resto da vida. Apoio marginal já é um disco sem fim.”
Música a retalho
Projeto colaborativo idealizado pelo produtor Justino Passos
Artifício
Pedro Leão e Carlos Filizola COMPUSERAM >> Marcela Galvão INTERPRETOU >> Vicente Machado (bateria) e Marcelo Machado (baixo, guitarra e sintetizador) MUSICARAM >> Marcelo Machado PRODUZIU E ARRANJOU
Amor que fere e arde
Thiago Emanoel Martins COMPÔS >> Isadora Melo INTERPRETOU >> Juliano Holanda (guitarra) e Walter Areia (baixo acústico) MUSICARAM >> Walter Areia PRODUZIU E ARRANJOU
Apoio marginal
Projeto colaborativo idealizado pelo músico Juvenil Silva
Artista total
Juvenil Silva e Ênio Borba COMPUSERAM >> Juvenil Silva (voz e violão) INTERPRETOU >> Feiticeiro Julião (guitarra e baixo), Diego Grão (teclados) e Rama Om (ukulele, gaita e djambê) MUSICARAM >> Rama Om PRODUZIU E FINALIZOU
Pregos na língua
Juliano Holanda e Juvenil Silva COMPUSERAM >> Juvenil Silva INTERPRETOU >> Juliano Holanda (guitarra), Walter Areia (contra-baixo acústico) e Gilvandro R. (bateria) MUSICARAM >> Arthur Soares FINALIZOU
Podem me deixar
Juvenil Silva e José Juva (poeta) COMPUSERAM >> Juvenil Silva (voz e violão) INTERPRETOU >> D Mingus (baixo) MUSICOU E ARRANJOU
>> DUAS PERGUNTAS: Juvenil Silva, músico
Apoio marginal é o contrário do que costumo fazer, compondo, musicando, interpretando e arranjando minhas próprias músicas. Estou exercitando o desapego. Isso muda tudo. Não faço a menor ideia do resultado final. Inclusive, não acompanho o processo de produção e arranjos. Faço questão de ouvir somente a versão final. É uma relação de admiração e confiança entre parceiros. Entrego minha música a eles, e ela toma formas inimagináveis, que eu jamais conseguiria formatar sozinho.
Como os outros músicos são escolhidos? E como veem o projeto?
Há músicas que me levam a pensar imediatamente em algum deles. Penso que determinada letra é a cara de determinado artista. Ofereço e alinhamos a parceria. Funciona assim. Em alguns casos, é obra do acaso. Como ocorreu com Miró [da Muribeca], que encontrei por sorte no mercado e logo estávamos gravando no estúdio. Acontece. E todos recebem a ideia com surpresa. Eles adoram o voto de confiança da produção em parceria. Eu também.
Leia a notícia no Diario de Pernambuco