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A união faz o som: artistas pernambucanos se unem para coproduzir músicas novas

Juvenil Silva, Juliano Holanda, Miró da Muribeca, José Juva, Isadora Melo, Walter Areia, entre outros artistas se dividem entre composição, voz e arranjos nos lançamentos

Juvenil, Isadora, Fábio Cardelli, Juliano Holanda, Walter Areia e José Juva: poetas, músicos e arranjadores se unem em parcerias no cenário pernambucano. Fotos: Divulgação

Foi o Mercado da Boa Vista, no Centro do Recife, o ponto escolhido pelo acaso para promover encontro há muito esperado entre o músico Juvenil Silva e o poeta Miró da Muribeca. “Sempre quis musicar um poema seu. Quando poderíamos tentar?”, perguntou o primeiro. “Agora mesmo”, devolveu o segundo. Se encontraram mais tarde, mesa de bar, conversa informal. Versos postos à mesa, Juvenil e Miró ajustaram métrica, rimas, melodia. Em estúdio caseiro, letra finalizada pela dupla e azeitada pelo músico paulistano Fábio Cardelli, deram à luz a canção Eu não te amo mais. Produto de fatos encadeados por coincidência, sintonia e colaboração, a faixa integra o projeto Apoio marginal, rede de produção musical colaborativa idealizada por Juvenil, vulto do folk tropical pernambucano.

“Funciona assim: visito parceiros e gravo, nos estúdios caseiros deles, as minhas próprias músicas com voz e violão. Tomamos uma cerveja, batemos papo, falamos sobre a letra… Depois, vou embora. Cabe a eles acrescentar outras vozes, instrumentos, arranjos. As canções se transformam por completo”, explica Silva, que já envolveu Juliano Holanda, Isaar, Walter Areia, Feiticeiro Julião, Rama Om, Felipe Souza (Mombojó) e Wander Wildner no projeto. Apoio marginal remete ao óbvio: parcerias à margem do mercado fonográfico formal, independentes, sem vantagens financeiras. Uma vez prontas, as faixas são disponibilizadas no YouTube, acompanhadas de arte assinada pelos artistas colaboradores.

Miró da Muribeca, Juvenil, Rama e Fábio Cardelli fizeram parceriam em Eu não te amo mais. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Esse padrão de intercâmbio, para Juvenil, proporciona não apenas a troca de experiências, mas a descoberta de novas vertentes do próprio repertório. “Chego com uma base de samba-rock e meu parceiro entende como um baião, por exemplo”, descreve o pernambucano. “É um exercício de desapego em relação às músicas como as concebemos, além de aprimoramento da nossa percepção musical.” Entre as parcerias ainda não finalizadas, Reciprocidade (Juvenil Silva com Felipe Souza e Homero Basílio), Estribucha (Juvenil Silva e Jean Nicholas com Wander Wildner) e Eu não te amo mais (Juvenil Silva e Miró da Muribeca com Fábio Cardelli). Por ora, o pernambucano dá por incerta a gravação do projeto em disco. “Pretendo continuar a fazer parcerias nesses moldes pelo resto da vida. Apoio marginal já é um disco sem fim.”

Música a retalho

Projeto colaborativo idealizado pelo produtor Justino Passos

Artifício

Pedro Leão e Carlos Filizola COMPUSERAM >> Marcela Galvão INTERPRETOU >> Vicente Machado (bateria) e Marcelo Machado (baixo, guitarra e sintetizador) MUSICARAM >> Marcelo Machado PRODUZIU E ARRANJOU

Amor que fere e arde

Thiago Emanoel Martins COMPÔS >> Isadora Melo INTERPRETOU >> Juliano Holanda (guitarra) e Walter Areia (baixo acústico) MUSICARAM >> Walter Areia PRODUZIU E ARRANJOU

Apoio marginal

Projeto colaborativo idealizado pelo músico Juvenil Silva

Artista total

Juvenil Silva e Ênio Borba COMPUSERAM >> Juvenil Silva (voz e violão) INTERPRETOU >> Feiticeiro Julião (guitarra e baixo), Diego Grão (teclados) e Rama Om (ukulele, gaita e djambê) MUSICARAM >> Rama Om PRODUZIU E FINALIZOU

Pregos na língua

Juliano Holanda e Juvenil Silva COMPUSERAM >> Juvenil Silva INTERPRETOU >> Juliano Holanda (guitarra), Walter Areia (contra-baixo acústico) e Gilvandro R. (bateria) MUSICARAM >> Arthur Soares FINALIZOU

Podem me deixar

Juvenil Silva e José Juva (poeta) COMPUSERAM >> Juvenil Silva (voz e violão) INTERPRETOU >> D Mingus (baixo) MUSICOU E ARRANJOU

>> DUAS PERGUNTAS: Juvenil Silva, músico

Em Apoio Marginal, Juvenil leva uma de suas músicas à casa de amigos, onde a canção é repaginada. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Apoio marginal é o contrário do que costumo fazer, compondo, musicando, interpretando e arranjando minhas próprias músicas. Estou exercitando o desapego. Isso muda tudo. Não faço a menor ideia do resultado final. Inclusive, não acompanho o processo de produção e arranjos. Faço questão de ouvir somente a versão final. É uma relação de admiração e confiança entre parceiros. Entrego minha música a eles, e ela toma formas inimagináveis, que eu jamais conseguiria formatar sozinho.

Como os outros músicos são escolhidos? E como veem o projeto?

Há músicas que me levam a pensar imediatamente em algum deles. Penso que determinada letra é a cara de determinado artista. Ofereço e alinhamos a parceria. Funciona assim. Em alguns casos, é obra do acaso. Como ocorreu com Miró [da Muribeca], que encontrei por sorte no mercado e logo estávamos gravando no estúdio. Acontece. E todos recebem a ideia com surpresa. Eles adoram o voto de confiança da produção em parceria. Eu também.

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