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Guitarrista Andreas Kisser se divide entre o Sepultura e o De La Tierra

Músico integra a formação do Sepultura desde 1987 e gravou discos clássicos como Arise e Roots

O álbum do De La Tierra será gravado em junho, em Los Angeles, nos EUA. Foto: Trama/Divulgação

No fim de fevereiro, o Sepultura, a banda de rock brasileira mais bem-sucedida no mercado internacional, iniciou o processo de composição do 14º álbum de estúdio, o sucessor de The mediator between head and hands must be the heart. Em seguida, o grupo de metal latino De La Tierra começou a compor as músicas do segundo álbum. Além da coincidência temporal, as duas bandas partilham o mesmo guitarrista: Andreas Kisser. O músico divide o tempo e o processo criativo em dois universos musicais que, para um leigo, podem soar parecidos, mas apresentam elementos sonoros bem distintos.

[SAIBAMAIS] A situação não é nova para Kisser. “Em 2013, após o De La Tierra ser anunciado como banda, a gente começou a trabalhar na gravação do disco nas semanas em que estava em São Paulo, com o Sepultura”, ele diz. A diferença é que, na ocasião, o álbum do grupo latino, composto pelo baixista argentino Sr. Flavio (Los Fabulosos Cadillacs), vocalista e guitarrista argentino Andrés Gimenez (A.N.I.M.A.L.) e baterista mexicano Alex González (Maná), já estava pronto. “Agora, complicou um pouco mais porque estou escrevendo o Sepultura e o De La Tierra ao mesmo tempo”, afirmou.

Engana-se quem pensa que a dupla tarefa sobrecarrega o guitarrista, conhecido pelas parcerias que vão dos ícones do thrash mundial Anthrax e Kreator aos mestres da MPB, como Caetano Veloso, e do sertanejo, como Chitãozinho e Xororó. “Escrevo riffs aleatoriamente. Pode ser para o De La Tierra, para uma trilha sonora. Tenho coleção de riffs que vou escrevendo no violão, na guitarra. Quando aparecem os projetos, tiro do arquivo e desenvolvo as ideias”, diz.

“O De La Tierra tem mais compositores. A gente se divide. No Sepultura, fico mais com a composição do esqueleto, da base. Eu e o Eloy. A gente trabalha as letras do Derrick. É mais trabalhoso. Mas o Sepultura tem sempre uma maneira diferente, é outro espírito, uma coisa que a gente faz de maneira mais natural, é minha vida inteira”.

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Mas existe um ou outro riff ou solo que poderia servir para as duas bandas? “Às vezes, rola, sim, mas nada que me faça perder o sono. As coisas vão acontecendo naturalmente. Depende do dia”, brinca. “Deixo as coisas fluírem bem livres. Não me imponho muitas regras.”

Andreas é um “músico de outrora”. Quando começou a escutar heavy metal, tinha que se juntar com amigos para ouvir a fita K7 do momento. Ao iniciar a trajetória como guitarrista, na Esfinge e, depois, no Sepultura (desde 1987), o processo de gravação era dispendioso. Com mais de 30 anos de carreira, viveu as revoluções digitais da música - do vinil/K7 ao CD, mp3/download e streaming. Mas, apesar da pirataria, a tecnologia facilita a vida. Que o digam os músicos do De La Tierra.

A internet passou a ser ferramenta para a banda, formada por um brasileiro, um mexicano e dois argentinos, envolvidos em outros projetos. “A gente troca demos, porque não vai ter tempo para se encontrar, tem umas 15 a 18 músicas. Coisas para serem desenvolvidas. Uma semana, dez dias antes de entrar em estúdio, ensaia, faz a pré-produção, escolhe nove, dez, no máximo, e grava em seguida”.

O álbum do De La Tierra será gravado em junho, em Los Angeles, nos EUA. O novo disco do Sepultura já estará gravado e em fase de masterização. E a internet vai, de novo, ajudar a vida do guitarrista. “Vou poder acompanhar o passo a passo da finalização do álbum do Sepultura enquanto estiver gravando com o De La Tierra”, conta.

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