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Filme problemático e corajoso, Batman vs Superman abre alas para Liga da Justiça

Batalha épica entre os heróis da DC Comics é mote para o longa-metragem dirigido por Zack Snyder

 
 
Batman vs Superman: A origem da justiça, cuja pré-estreia ocorre nesta quarta-feira (23),  é um filme corajoso em diversos aspectos e problemático em tantos outros. Dirigido por Zack Snyder, se apropria de narrativas clássicas da DC Comics sem deixar de assumir uma personalidade marcante, seja do ponto de vista estético ou ideológico. Parece ecoar as intenções e, ao mesmo tempo, prestar tributo à Era de Bronze dos quadrinhos norte-americanos, nas décadas de 1970 e 1980, quando as publicações se tornaram mais sombrias e passaram a ter roteiros mais amadurecidos. No longa-metragem, essas características se somam à disposição para abordar temas densos, como a corrupção de governos e organizações, o terrorismo global com acesso à mídia, o limite entre polemização e manipulação da opinião pública por parte dos meios de comunicação e até questionar algumas devoções religiosas. 
 
Esteio para o surgimento da Liga da Justiça, o filme recorre às origens dos próprios protagonistas para colher os elementos da trama. Os pais de ambos, por exemplo, exercem papéis-chave no confronto entre os heróis. Outras questões pessoais entram em jogo, como a motivação obsessiva de Batman (Ben Affleck) por deixar um legado definitivo, após 20 anos de combate ao crime. A princípio, a questão primordial, obviamente, é o extermínio do Super-Homem (Henry Cavill). E aí começam os problemas do longa. 
 
De fato há um questionamento legítimo da função social do Homem de Aço, com referências diretas à HQ Precisa haver um Superman? (1972). Mas, vamos combinar, o Batman não tem nada a ver com isso. Os dois lados da briga deveriam ser, de um lado, a opinião pública, a mídia, o governo, e, do outro, o Super-Homem. O contra-argumento natural para isso são as armadilhas terroristas do Lex Luthor interpretado por Jesse Eisenberg, um personagem incômodo, deslocado e sem brilho. 
 
Para quem torceu o nariz com receio de Ben Affleck estragar um personagem clássico da DC, pode mudar o alvo e se preparar para um vilão pouco convincente. Ver o Batman lidar com outro antagonista psicótico depois do brilhante Coringa (Heath Ledger) de O cavaleiro das trevas (2008) foi um passo arriscado. Agora, com o filme em cartaz, podemos dizer, é um desastre. Outro ponto negativo (nesse caso, já esperado) é a aposta em um final em aberto, na tentativa de atrair público para os próximos filmes da franquia. 
 
E, aqui, é o momento ideal para recuar no uso da expressão “roteiros mais amadurecidos”. Se esta realidade marcou os gibis de quatro décadas atrás, deixa a desejar no longa de Snyder. Com muitas pontas soltas, cenas picotadas e incompetência para as reviravoltas no roteiro, o filme é bacana e provavelmente será um bom passatempo para quem assisti-lo. Mas quem nasceu para Batman, não deveria se contentar em ser morcego. O filme poderia ir muito além. 

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