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Caboclinhos e maracatus lamentam perda de Naná Vasconcelos

Grupos do folclore pernambucano ganharam visibilidade nos últimos 15 anos, em cortejo comandado anualmente pelo músico durante abertura dos carnavais

Naná comandou maracatus e caboclinhos no cortejo do carnaval deste ano. Foto: Ricardo Fernandes/DP/DA Press

Há 15 anos à frente do cortejo de maracatus, tradicional na abertura do carnaval pernambucano, Naná Vasconcelos é apontado como mestre e ídolo pelas nações de maracatu pernambucanas. Neste ano, agregou grupos de caboclinho ao cortejo, em iniciativa inédita com o intuito de dar visibilidade às agremiações, que, segundo ele, estavam esquecidas. O percussionista, morto na manhã desta quarta-feira (09), será homenageado pelos grupos na manhã desta quinta (10), em cortejo entre a Alepe, onde o corpo está sendo velado, e o cemitério de Santo Amaro, onde será sepultado.

"Esse apego às raízes diz muito sobre o caráter dele. Naná nunca abandonou suas fontes, suas raízes. Ao contrário, ele as estimulou, valorizou. E, sobretudo, compareceu. A mim, emociona muito saber da inclusão dos caboclinhos no cortejo de maracatus da abertura do carnaval do Recife neste ano", opina o musicólogo Ricardo Cravo Abin, que classificou o pernambucano como Mister Criatividade - apelido conferido a ele quando vivia no exterior.

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Procurados pela reportagem, grupos de caboclinhos e maracatus registraram seus depoimentos em homenagem ao músico. Confira:

“Fiquei sabendo hoje, por reportagem. Vou hoje à noite. Ele foi um mestre, no Brasil e no exterior. Ele mostrou ao povo pernambucano que a cultura viva existia. Ele foi um professor. Devemos reverenciá-lo. Amanhã iremos ao sepultamento com os caboclinhos. Uma grande festividade, vamos homenageá-lo.” (Amaury Rodrigues de Amorim, presidente dos caboclinhos Tribo Tupã)

Os caboclinhos ganharam visibilidade no cortejo deste ano, no Marco Zero, a convite de Naná. Foto: Ricardo Fernandes/DP/DA Press

“As nações de maracatu perderam um mestre. A cultura pernambucana de tradição perdeu um forte aliado, de força, garra e resistência na luta pelas nossas manifestações. Naná nos fortaleceu, nos deu abertura, estreitou nossa ligação com o mundo. Nos elevou à condição de protagonistas da abertura do caranaval, um momento histórico repetido por ele e por nós há dez anos. Ele nos deu visibilidade, venceu o desafio de nos unir num único cortejo.” (Mestra Joana, do Maracatu Baque Mulher)

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“Naná foi meu amigo de longa data, meu irmão. Estive no hospital nos últimos dias, falando com ele, que nos respondia através de gestos, batidas com as mãos. Para as nações de maracatu, Naná foi um mestre, conseguiu unificar grupos diferentes, muitas vezes individualistas, no mesmo cortejo, durante 15 anos. Isso jamais será esquecido. Ele gravou músicas minhas, e nós planejávamos gravar uma música que fiz em homenagem a ele em 2013, chamada Negro nagô. Não deu tempo. Mas Naná permanece, seus ensinamentos também. Ele me dizia sempre que a fatia do bolo dá para todos. Ele mostrava que não precisávamos nos atropelar, disputar. Ele era reconhecido internacionalmente, mas visitava as nações e sentava no chão para falar conosco, sempre muito simples.” (Mestre Chacon, presidente do Maracatu Nação Porto Rico)

“A Associação das  Mulheres de Nazaré da Mata (Amunam), através do Maracatu Feminino Coração Nazareno e o Ponto de Cultura Engenhos dos Maracatus, manifesta seu mais profundo pesar. Naná foi um dos grandes ícones da música e da cultura popular. Nesse momento, sentimos a saudade e a lembrança de um majestoso mestre das tradições africanas, que muito contribui para cultura de nosso Estado e País.” (Eliane Rodrigues, coordenadora do Maracatu Coração Nazareno)

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