Números e premiações têm confirmado, a cada ano, que o cinema da Argentina vive uma ótima fase. Depois do Oscar conquistado por O segredo dos seus olhos em 2009 e do recorde de bilheterias de Relatos selvagens em 2014, o novo sucesso argentino é O clã, que entra em cartaz nesta quinta no Brasil. O longa-metragem do cineasta Pablo Trapero (Elefante branco) é o representante oficial do país na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ganhou o Leão de Prata de melhor diretor em setembro no Festival de Veneza.
Em agosto, o filme superou os números alcançados por Relatos selvagens no fim de semana de estreia na Argentina. No total de público, ultrapassou O segredo de seus olhos. Tanto Relatos selvagens quanto O clã foram coproduzidos pelo estúdio espanhol El Deseo, dos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar. Ao contrário da primeira parceria, entretanto, a segunda não fez tanto sucesso na Espanha.
O clã reconstitui a história real de uma família de sequestradores que atuou em Buenos Aires na década de 1980. Com o fim da ditadura em 1983, o ex-militar Arquimedes Puccio (interpretado por Guillermo Francella) passou a sequestrar pessoas ricas para ganhar dinheiro. Ele realizava os crimes com ajuda de dois filhos e não falava sobre o assunto com as filhas e a esposa.
O cinismo dos personagens, principalmente do pai, que está quase sempre seguro de si, é o que torna o caso mais absurdo. O filme não é uma comédia e nem segue o caminho do humor negro de Relatos selvagens, mas há alguma ironia no ar, apesar de os fatos serem brutais e ainda mais sérios por causa do contexto da redemocratização do país. Uma postura questionável de Trapero é brincar demais em cenas que parecem feitas para divertir por causa condução pop adotada pelo cineasta (especialmente em uma sequência que intercala sexo com tortura).
Pela maneira como usa métodos de tortura e pela forma como aprisiona os reféns, Puccio confirma-se como um produto da ditadura, mas que continuou à solta, acobertado pelos resquícios de influência que mantinha nas estruturas do poder. O clã, portanto, torna-se atual ao alertar sobre a perigosa liberdade que criminosos políticos ainda aproveitam em países como a Argentina e o próprio Brasil, mesmo com avanços recentes como as comissões da verdade.
As dez maiores bilheterias da retomada do cinema argentino:
Relatos selvagens (2014)
O clã (2015)
O segredo dos seus olhos (2009)
A tartaruga Manuelita (1999)
Um time show de bola (2013)
Patoruzito (2004)
Coração de leão (2013)
Un argentino en New York (1998)
Papá se volvió loco (2005)
O filho da noiva (2001)
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