Apesar das inúmeras biografias e do assédio incansável da imprensa, ainda pairam muitas dúvidas sobre a vida pessoal de Frank Sinatra, principalmente no que diz respeito ao envolvimento do cantor com a máfia italiana de Nova York e aos bastidores dos casamentos com as atrizes Ava Gardner e Mia Farrow.
Não resta dúvida, no entanto, sobre o legado musical de Sinatra, ícone máximo da cultura mundial que nascia em Nova Jersey, nos Estados Unidos, há exatos 100 anos. Conhecido pelos apelidos de “A voz” e “Olhos azuis”, o artista conduziu uma jornada permeada por bebidas, mulheres, filmes e sucessos como New York, New York e My way.
Nas seis décadas de carreira, gravou mais de 60 discos, ultrapassou 50 filmes e lançou quase 300 singles, que o tornaram uma referência da música popular e influência direta para artistas como Michael Bublé e Robbie Williams. Figura, ao lado de Elvis Presley, James Dean e Marilyn Monroe, como símbolo máximo do entretenimento norte-americano.
Voz marcante
Logo no começo da conversa com o ator e cantor Daniel Boaventura, ele avisa: “Qualquer coisa, não deixe de me interromper. Quando começo a falar de Sinatra, não paro mais”, brinca o artista, que se destaca no cenário do jazz e swing brasileiro.
“Sinatra me acompanha desde meu primeiro trabalho como cantor. Já gravei várias canções dele ao longo da carreira. De longe, uma das minhas grandes influências”, contou. Foi durante os três anos que morou nos Estados Unidos, que o adolescente Daniel entrou em contato com a obra de Sinatra. “Não comecei pelo jazz ou pelo rock. Meu pai adorava música clássica e, por conta dele, acabei encantado com as orquestras. Depois, fui me aproximando de uma música mais popular. Desse encontro entre o erudito e o popular, esbarrei com Sinatra.”
A primeira vez que entoou um sucesso de Sinatra foi a convite de uma “namoradinha” da época, que pediu para que ele cantasse em sala de aula. “Adorei aquilo. Muito nostálgico me lembrar disso tudo. Anos depois, jamais imaginaria que gravaria profissionalmente canções imortalizadas pelo Frankie”, relembra.
Daniel, inclusive, aproveitou a entrevista para antecipar, em primeira mão, um novo trabalho a ser lançado: “Vai sair um EP inteiramente dedicado a Sinatra, com sete faixas”. Entre as canções do disco, clássicos como The lady is a tramp, Fly me to the moon e Come fly with me. “Não há nada comparável àquela voz, uma mistura de metal e grave. Mas eu o admirava, acima de tudo, pelo cuidado com os arranjos e pelo respeito com os arranjadores, que ele fazia questão de nomear publicamente”.
A atriz e cantora Alessandra Maestrini, revelação do jazz brasileiro, endossa o discurso de Daniel: “Vocalmente falando, Sinatra é uma das mais fortes presenças na história das big bands”. Ela ainda ressalta a “elegância e charme” do cantor, que era “de um bom gosto quase incomparável na escolha do repertório”.
A artista, que protagonizou a montagem do musical New York, New York no Brasil (um dos maiores sucessos dos teatros em 2011, com mais de 50 mil espectadores em apenas três meses), lembra que Sinatra, além de servir como trilha em esfera mundial, deixou uma contribuição irreparável à música brasileira: “Foi ele quem abriu as portas do mundo à bossa nova”.
Disco histórico
Segundo a lenda,Tom Jobim estava nas imediações do antigo bar Veloso (atual Garota de Ipanema) quando o telefone tocou e um gringo pediu para falar com o compositor carioca. Do outro lado da linha, Frank Sinatra. O cantor norte-americano teria feito o convite para a gravação do histórico álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim (1967), disco fundamental do jazz mundial e da bossa nova brasileira. Entre as faixas, Dindi, Corcovado e a icônica The girl from Ipanema, que entrou para a lista de maiores sucessos da carreira do próprio Sinatra.
Top 10
» New York, New York
» My way
» I’ve got you
under my skin
» Come fly with me
» Strangers in the night
» Somethin’ stupid
» The girl from Ipanema (com Tom Tobim)
» Fly me to the moon
» The way you look tonight
» For once in my life
Trajetória
Nascido em 1915, filho de imigrantes italianos, lançou o primeiro disco em 1946. Na década de 1950, popularizou-se por conta dos álbuns lançados com a Capitol Records e em virtude das participações em filmes, a exemplo de A um passo da eternidade, pelo qual ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante, em 1954. Desde o início da carreira, teve o nome relacionado com a máfia italiana, a ponto de lhe serem atribuídas algumas contravenções. Nos anos 1960 e 1970, alterna entre sucessos e fracassos e chega a ensaiar uma aposentadoria. A partir de 1980, com o sucesso da canção New York, New York, por conta de uma turnê em Las Vegas, retoma de vez os palcos e passa a se apresentar por todo o mundo até 1995. Três anos depois, morre em consequência de um ataque cardíaco, aos 82 anos.
No Maracanã
Em janeiro de 1980, Sinatra desembarcaria pela primeira vez no Brasil para um show histórico. A apresentação no Maracanã reuniu mais de 150 mil pessoas e se tornou, até então, a maior produção que o país já recebeu. O responsável pela passagem do cantor por terras cariocas foi Roberto Medina que, cinco anos depois, faria o primeiro Rock in Rio. O show ainda figura entre as maiores plateias registradas no país.
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