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De Ney Matogrosso a Emicida, tudo sobre a 13ª edição do Coquetel Molotov

Festival promoveu encontro de gerações em 12 horas de shows na capital pernambucana

Ney, convidado especial da Banda Tono, foi uma das atrações mais esperadas da noite. Foto: Hellyda Cavalcanti/Divulgação

A música é coisa objeto de culto para uns, instrumento de mudança para outros. Aquele elemento em comum que une tribos de diferentes gostos, estilos e idades. A comunhão e mistura de estilos, inclusive, é um dos grandes trunfos do Coquetel Molotov, festival que aconteceu neste sábado (31), no Recife, com 12 horas de som.

O festival ocorreu pelo segundo ano consecutivo na Coudelaria Souza Leão, na Várzea, e, o que já tinha funcionado no ano passado, só melhorou. O espaço, enorme e belíssimo, é uma atração à parte do evento. Quem viu o pôr-do-Sol com a cidade inteira no horizonte e música boa nos PA's sabe do que estamos  falando. Foi uma celebração, acima de tudo, da música independente nacional, desde os novatos Sofia Freire e Mahmed, até o final apoteótico, com Cidadão Instigado, Emicida, Tono e, claro, Ney Matogrosso.

[SAIBAMAIS] Os instrumentais
A Mahmed, do Rio Grande do Norte, foi uma das primeiras atrações do festival, se apresentando no palco Sonic, montado em um dos gramados da Coudelaria. O horário e o extenso line up não favoreceram os rapazes, que tocaram para uma tímida, mas animada plateia. O repertório instrumental passeia por sons psicodélicos, viajantes e combinou bem com o clima de fim de tarde. A banda é um dos destaques do selo Balaclava, representante do indie nacional. Interessante ver como mesmo com toda a psicodelia, o som ainda consegue ser mais “pé no chão” do que bandas como Boogarins. A Mahmed mantém sempre um pé no indie/lo-fi.

Já no Palco Sonic, montado em um dos galpões da Coudelaria, a pernambucana The Raulis apresentava seu surf rock “dos infernos”, no melhor sentido. Imagine a trilha surf do filme Pulp Fiction (1994) sendo tocada com atabaques e instrumentos de sopro. A plateia era tímida, com talvez menos de 50 pessoas, mas animada. Música mais próxima que eles têm de um hit, Chicken haole foi recebida com entusiasmo.

Os foodtrucks assumiram comes e bebes dessa edição. Foto: Flora Pimentel/Divulgação

Gratas surpresas
A melhor coisa de festivais musicais é você ir sem compromisso assistir o show de uma banda que não conhece. Melhor ainda quando o show é tão bom que te deixa de boca aberta, demorando algum tempo para raciocinar o que acabou de acontecer. Foi o caso da porradaria do Cosmo Grão, banda instrumental pernambucana que tocou no Palco Sonic. O grupo faz um som “das cavernas” que pode passar por metal, punk e psicodelia em uma mesma canção. Com público já numeroso, eles apresentaram canções dos Eps. Poucas palavras, muito peso. O fato de a formação contar com dois guitarristas e o som no talo só ajudaram. Pra coroar, um cover de A song for the dead, do Queens of the Stone Age.

O Palco Sonic aliás, foi o espaço das grandes novidades e experimentações. Quem ficou por lá certamente descobriu coisas bastante interessantes, como o piauiense Serge Erege. O cara subiu no palco sem banda, só com o uso de sintetizadores e drum machines, e fez um show de um homem só que de cara foi um dos melhores do festival. O som lembra muito as bandas eletrônicas dos anos 1980, como Depeche Mode, New Order e Gary Numan, mas com aquele cheirinho de novidade que agrada os fãs mais alternativos. O primeiro que vêm à memória é o australiano Chet Faker (se não conhece, inclusive, corra atrás). No palco, Serge canta, dança, sonha. As batidas e sons etéreos criaram um clima especial, aquele momento em que artista e público se encontram na mesma sintonia.

Filhos da Tropicália
Vida de festival também é correr. A organização com muitos palcos acaba resultando em shows simultâneos, e algumas escolhas devem ser feitas. Por um lado é difícil para quem quer curtir todas as atrações, mas por outro, ajuda a evitar grande aglomeração de público em um só espaço. O fim do show de Serge Erege foi o momento de correr para ver Ava Rocha, filha do cineasta Glauber. Apesar de não tão conhecida, ela teve o maior público do festival até então. O show foi competente, mas a voz de Ava parecia prejudicada, até rouca em alguns instantes. O som é uma mistura de MPB, indie e rock, meio o que Gal Costa anda fazendo nos últimos anos. Gal inclusive foi a referência mais próxima que muitos da plateia notaram.

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Posted by Diario de Pernambuco on Domingo, 1 de novembro de 2015

A banda carioca Tono que recebeu a participação especial do Ney Matogrosso fez jus ao título do encontro mais esperado da noite. Com influências de Itamar Assumpção e Jorge Mautner, o grupo formado por Rafael Rocha (bateria), Ana Lomelino (voz), Bem Gil (guitarra), Bruno di Lullo (baixo) e Leandro Floresta (teclados e sintetizadores) mostrou a originalidade do seu trabalho para os pernambucanos.

Cidadão Instigado apresentou Fortaleza, disco mais recente. Foto: Hellyda Cavalcanti/Divulgação

Do Ceará, o guitar hero Fernando Catatau e seu Cidadão Instigado apresentou repertório do mais recente disco, Fortaleza. Além do som impecável, a exibição da faixa "Deixe ela em paz" foi um momento memorável do show. Nome da campanha independente cuja ação possui o objetivo de refletir e questionar o machismo, já ganhou a adesão de milhares de pessoas de todo o Brasil. Ao vivo, as músicas do disco ganham um peso maior, quase um hard rock, mas com aspecto de poeira, de agreste. Até que enfim, Dizem que sou louco por você e Homem velho fizeram a alegria dos fãs.

Emicida fechou a noite com muita vibração e frases de efeito que tocaram toda a plateia do palco Velvet. Com certeza foi um dos shows mais aguardados do festival. O rapper se apresentou com banda completa, com direito a baixo, guitarra e bateria, o que deu mais peso a composições como Boa esperança.

Emicida encerrou a programação do Palco Velvet. Foto: Vito Sormany/Gescc-Aeso/Divulgação

Lavando a alma
As gerações mais novas provavelmente conhecem o Jair Naves melancólico, indie e poético da carreira solo, mas é como integrante do Ludovic que o cantor se solta e libera sua fúria. De volta aos palcos em turnê de reunião após oito anos e na primeira apresentação no Nordeste. O hardcore angustiado da banda ganha ainda mais potência ao vivo, com o vocalista endiabrado. Em pouco mais de uma hora, Jair pula, grita, se atira no chão e no meio do público. As peripécias renderam uma queda feia ao fim do show, quando o vocalista deixou o palco mancando, mas isso é rock 'n' roll. A plateia animada conhecia praticamente todas as músicas do repertório, o que surpreendeu o próprio Jair. “Vocês tão cantando melhor que eu”, brincou. No repertório, músicas como Servil e Janeiro continua sendo o pior dos meses.

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