Viver

O cinéfilo da sala de aula: professor desperta nos pupilos a paixão pelo cinema

Ederval Trajano organiza neste domingo (25) a primeira mostra de filmes produzidos pelos alunos, em Jaboatão dos Guararapes

Ederval encoraja a produção de curtas pelos próprios alunos. Foto: Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press

Ele não se lembra do momento exato em que as luzes se apagaram e a tela gigantesca se acendeu à sua frente pela primeira vez. Aos 43 anos, sendo mais de 20 dedicados à carreira de professor, a paixão pelo cinema é tão antiga que parece não ter princípio. É ela que motiva Ederval Trajano a levar, há cerca de uma década, a sétima arte para as salas de aula. Neste domigo (25), o educador cinéfilo assiste à primeira mostra composta exclusivamente por filmes produzidos por alunos, sob orientação dele.

Com o tema Vlado: 40 anos de saudades - em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto durante a ditadura militar, há exatas quatro décadas - as sessões começam às 8h, na Casa da Cultura de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. Essa é, nas palavras dele, a realização de um sonho. Ou melhor: o primeiro passo em direção ao sonho principal, a exibição de filmes produzidos pelos jovens na tela do clássico Cinema São Luiz, onde já perdeu as contas de quantas vezes esteve.

[SAIBAMAIS] Na televisão da casa de Ederval Trajano, Steven Spielberg está entre os diretores mais prestigiados, já que o professor de História, ironicamente, gosta de supor como o futuro será. Nas aulas da Escola de Referência em Ensino Médio Rodolfo Aureliano, onde leciona atualmente, porém, a ficção científica é substituída por títulos nacionais com enredo documental, como Olga e Getúlio - todos exibidos com retroprojetor. A seleção endossa o que determina a Lei n° 13.006 de Diretrizes e Bases da Educação, que torna obrigatória a exibição de produções nacionais nas escolas públicas municipais e estaduais. Ao fim das sessões, nas palavras dele, a mágica acontece: os alunos assumem a tarefa de produzir os próprios curtas-metragens. É quando Ederval dribla a determinação estadual que proíbe o uso de smartphones nas salas de aula: “Adaptamos esse vício pela tecnologia, usando os celulares para a captação de imagens para os filmes”, explica.

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Além de atuarem, os pupilos, hoje também cinéfilos, roteirizam, dirigem e editam as próprias produções. A pesquisa de figurino, cenários e trilha sonora contempla, segundo Trajano, o que ele chama de Trinômio do Sucesso da Educação: aprender, conhecer e fazer. “O cinema é minha ferramenta de revolução.” Embora não tenha, até então, notícias de ex-alunos que se tornaram cineastas, Ederval usa a sétima arte para formar pensadores - dotados de paixões como a dele, por que não? - e encontra apoio não apenas entre o corpo discente. “Isso desperta nos alunos a inclinação para áreas como cinema, artes cênicas e jornalismo”, avalia Aliete Ferreira, gestora da Rodolfo Aureliano.

O sonhador incansável planeja, ainda, um mestrado envolvendo cinema e educação. Lamenta, por ora, a falta de cinemas nos arredores da escola - no momento, o Cineteatro Samuel Campelo, o mais próximo, segue em reforma, com conclusão postergada desde 2011. E suspira, como quem vai ao cinema pela primeira vez, sempre que vê em algum aluno um potencial “final feliz”, uma continuidade para a sua paixão.

>> PLATEIA

Os jovens pesquisam e produzem sobre temas históricos. Foto: Rodrigo Silva/Esp.DP/D.A Press

“Esse trabalho mostrou que produzir é ainda mais interessante do que somente assistir aos filmes. Sempre gostei de cinema, mas agora me sinto capaz de fazê-lo. Atuei nos curtas-metragens. Embora vá seguir carreira em nutrição, o cinema continuará sendo hobby.” Gabriela Oliveira, 17 anos

“Exercitamos a produção de roteiros fora do convencional. Sempre escrevi histórias, essa é uma paixão, um hábito. Mas agora estão na tela. Pretendo levar adiante essa inclinação adiante, assim como pretendo, um dia, escrever um livro. Aprendi, com ele, a tirar minhas histórias do papel. Dar vida a elas.” Tiago Albuquerque, 17 anos

“Minha relação com o cinema sempre foi de espectadora. Agora, me sinto capaz de atuar e roteirizar. Pesquisamos muito para produzir a mostra. Aumentei meu repertório e me envolvi nessa paixão pelos filmes.” Isis Lima, 17 anos

>> ONDE ESTUDAR

Cinema e audiovisual

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Av. Professor Morais Rego, 1235 - Cidade Universitária

Detalhes: 7 semestres, gratuito

Informações: 2126-8000

Cinema e audiovisual

Faculdades Integradas Aeso Barros Melo

Av. Transamazônica, 405 - Jardim Brasil II, Olinda

Detalhes: 7 semestres, R$ 899,00

Informações: 2128-9797

Cinema digital

Universidade Maurício de Nassau (Uninassau)

Rua Guilherme Pinto, 114 - Graças

Detalhes: 7 semestres, R$ 661,48 (manhã) e R$ 795,94 (noite)

Informações: 3413-4611

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