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Guilherme Arantes: "Nem os sertanejos escutam o que produzem"

Cantor apresentou no Recife sua turnê de 40 anos de carreira

Guilherme Arantes conversou sobre temas políticos e culturais com o público. Foto: Pedro Matallo/Divulgação

“Nem eles próprios escutam o que produzem”, disse o cantor ao se referir ao sertanejos, numa espécie de bate-papo com o seu público, que foi generoso em presença e participação na plateia. Guilherme Arantes, que vem sendo redescoberto e convertido num ícone pela nova cena musical da MPB, com nomes como Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, criticou o ingresso de uma nova “onda cultural” no Brasil. No palco, em plena crise política, citou o ex-presidente Lula (PT). Disse que, em seu governo, o povo começou a ter mais acesso a bens culturais, mas sem qualidade. Para ele, não houve um “filtro”.

“Hoje as pessoas estão sendo progonistas no lugar dos artistas”, comentou ao se referir ao falto de shows de pagode e sertanejos serem realizados para comportar públicos “padronizados”, consumistas das próprias vaidades. “O que importa é fazer a self (no show) e não ter qualquer reflexão sobre a música”. Ironicamente, um fã, ao lado da reportagem do Diario, não tirou as mãos do celular e gravou a apresentação inteira, do começo ao fim. Bem, longe dessas reflexões sobre a própria vida e o cenário musical como um todo, o fenômeno sertanejo avassalador, que hoje é travestido de “universitário”, foi um dos responsáveis pelo período em que Arantes saiu de cena.

No auge do sucesso, Guilherme Arantes também chamava a atenção pela beleza. Foto: Arquivo/CB/D.A Press

Além da autocrítica

Mas, como todo o show não é feito apenas de reflexões,  não seria falso afirmar que o público saiu plenamente satisfeito. Ao entrar na sua fase mais madura, Guilherme Arantes demonstrou que tem um passado a mostrar, mas também uma carreira que pode ser aperfeiçoada com o seu último disco, o “Condição Humana”, lançado em 2013. O público não se empolgou com as “novas músicas” apresentadas no começo do show, afinal, ainda são desconhecidas e não fizeram o sucesso daquele cantor do belo sorriso de décadas atrás.

A "Moldura do quadro roubado” é uma de suas músicas novas que os velhos fãs ainda não aprenderam, mas é tão atual que ele mesmo diz que teve o sentimento que “antecipou” o debate político que estamos vivendo agora.  A letra fala de pastores, de crescimento de favelas e da pobreza, como também da desesperança. Das novas que foram apresentadas, a “Onde estava você?”, que fala sobre amizades perdidas, estão entre as mais doces. O que faltou mesmo dessa nova safra foi a canção “O que se leva”. Talvez, essa é mais parecida com o que Guilherme produziu antes. É do tipo “chiclete”.

O show começou a esquentar mesmo da metade para o final. O público não resistiu a sucessos como “Cheia de charme”. O protocolo caiu nesse momento. Todos ficaram de pé, cantando e dançando. O ritmo continuou com “Lance Legal”, “Fã número 1” e o “Lindo Balão Azul”, esta última conhecida por encerrar suas apresentações. Paradoxalmente, foi no seu passado, com esses sucessos de 20, 30 anos, que Guilherme Atantes renasceu e demonstrou que é tão atual como antes.

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