>>> escritores salvos pelas letras
Escritor e ativista social nascido em São Paulo, Alessandro Buzo encontrou na literatura uma maneira de se livrar do uso de drogas pesadas. O relacionamento com o mundo das letras começou quando ele abriu um sebo. Posteriormente, no ano 2000, publicou o primeiro livro, O trem - baseado em fatos reais. Hoje é cineasta, repórter e tem cinco obras publicadas.
Poesia entre mendigos
Natural de Manaus, Diego Moraes fugiu de casa na adolescência, quando os pais tinham brigas intermináveis. Logo se viciou em cocaína e crack. Em São Paulo, viveu um ano nas ruas, período em que escreveu o primeiro livro. De volta ao Amazonas, com ajuda da família, encontrou-se na literatura. Com três obras lançadas, é o idealizador da Flipobre.
Diário de um detento
Após uma vida de crimes nas ruas de São Paulo, incluindo homicídio, Luiz Alberto Mendes foi condenado a 31 anos e dez meses de prisão. Aproveitou o tempo encarcerado no Complexo Penitenciário do Carandiru para ler vorazmente obras de autores como Érico Veríssimo. Começou a escrever ainda dentro da prisão. Tem cinco livros publicados e é colunista da Revista Trip.
Entrevista Miró >>>
No novo livro, você está a todo momento fazendo referências ou questionando Deus. Qual a sua relação com o sagrado?
Minha mãe, Dona Joaquina, era espírita kardecista. Ela morreu aos 87 anos. Por muito tempo, ela curava pessoas doentes que iam até minha casa com a perna inchada ou com outros problemas. Me lembro muito bem, eu com 25, 26 anos, e ela recebendo ao pessoas. Por causa disso, sou adepto do espiritismo, mas não sou agarrado a nenhuma religião, não tenho nenhuma ligação forte. Não tenho certeza em relação a Deus. Às vezes ainda vou para o centro espírita. Recentemente, quando estive no hospital, amigos de lá foram me visitar e disseram que minha mãe mandou uma mensagem pra rezarem por mim.
Você estava há três anos sem lançar livros inéditos e há um bom tempo sem escrever nada. Depois do lançamento deste livro em edição artesanal, tem novos projetos?
Sim, pretendo fazer mais livros, procurar patrocinador. Agora que deixei de beber, que foi a principal decisão, quero colocar mais poesias no mundo. Estou passando por um momento de vida nova, saí da vida do álcool. Vivo de poesia desde 1985, então preciso continuar assim pois não sei fazer outra coisa. Quero me apresentar nos lugares. Tenho um projeto de uma oficina chama Como nasce um poema, que vai ter duração de uma hora e meia. Se der tudo certo, vou conversar com o pessoal da periferia, na Várzea. Também já apareceu um convite para ir pra São Paulo em breve.
Como foi que você foi parar no hospital?
Eu apaguei em casa, estava muito mal. Quem me socorreu foi Wilson Freire. Achei que ia embora naquele dia. Tive alucinações, cheguei a ver um jacaré, tive delírios como nunca antes. Fiquei vomitando muito. Me deram soro. No hospital, fiquei no meio de vários doentes, e percebi que somente eu podia andar. Estava todo mundo com doença séria, com câncer. Então eu sabia que tinha uma chance. Quero ser aquele Miró que escreve, que é brincalhão, alegre. Estou cortando o cordão umbilical com o Miró de antes.
Quando foi que começou essa fase ruim em sua vida, que culminou na internação
Desde que minha mãe morreu, em 2012, acho que esqueci de mim. Eu morava sozinho com ela, e, depois disso, fiquei sozinho. Entrei no álcool para valer. Era uma solidão tremenda, pois não tenho irmão, não tenho primo, então minha vida era sair para os bares. Dei tudo dentro de casa, o fogão, a geladeira. Minha televisão queimou, eu só ouvia o rádio.Saía de casa às 6h30 da manhã e começava na cerveja, na caninha... Não tinha motivo para nada. O que me salvou, segundo o médico, é que eu não continuava bebendo de noite. Mas era um problema, pois só bebia álccol, não comia nada, nem um ovo, nem arroz com feijão. Chegou ao ponto de das pessoas da Muribeca se negarem a me vender bebida, dizendo que não me queriam ver morrer. Agora sento nos bares e bebo água.
Como sua vida mudou nos últimos meses?
Tive que dar adeus ao Miró bebum. Eu falei que o hospital era um inferno,e o médico disse que se eu não parasse de beber, não ia nem para aquele inferno de novo... Ia passar direto, morrer. Isso está mudando a minha vida, porque eu não tinha coragem nem de pegar um ônibus. Não entrava em um loja para comprar um sapato, nem nada. Esses dias eu fui numa loja e perguntei o preço de uma alpercata (não uso sapato porque tenho joanetes no pé). O vendedor disse que era R$ 74. Na hora pensei quanto pagava a Seu Geraldo no fim da semana, quanto gastava de álcool. Era mais de R$ 80. Também comprei uma bata, roupas novas. De manhã, saio para comprar frutas, uva, mamão, banana, laranja, e sempre que vou gastar dinheiro penso no preço da cerveja.
Poesias de Miró >>>
Passagem
há um transtorno agora na Terra
aonde vai parar tudo isso eu não sei
mas sei que daqui a pouco
meu corpo vai embora numa rodoviária sem fim
a Terra vai pegar fogo
dessa vez vai ser diferente
não vai ter água
nem extintor de incêndio
nem Noé com sua barca
vai ter celular com quatro gigas
todo mundo vai embora elegante
e Deus no shopping
só olhando
Carnaval
Deus largado pelas ruas do Recife
não sabe se dança frevo
ou vai atrás do maracatu
será que Deus também tem dúvidas?
nas ruas
igrejas do povo
Deus deixa beijar
usar a roupa que quiser
são quatro dias
que Deus não tá nem aí
aí, na quarta-feira de cinza
Deus de ressaca
perdoa quase todo mundo
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