O Brasil ainda é o país das novelas. Enquanto o formato de seriados estrangeiros avança no mundo e por aqui, os folhetins predominam na preferência nacional. Os pernambucanos são prova: o gênero é o mais visto pelo telespectador do Grande Recife na categoria entretenimento. Levantamento do Ibope Media aponta que o produto é consumido por 14,41% do público da região, seguido por futebol, com 7,67%, e reality show, com 6,72%. As emissoras enxergam o potencial do segmento e ampliam o espaço para folhetins na grade.
Até a sexta-feira passada, 17 novelas estavam no ar na tevê aberta. Com o fim de O Rei do Gado, o número caiu para 16: oito inéditas brasileiras, uma turca e sete reprises. O cenário contraria a tese de que o gênero esteja em crise, conclusão alimentada pela trajetória pífia de Babilônia (Globo). A audiência da trama é a pior da história do horário nobre da emissora. "O número de novelas no ar só mostra a vitalidade deste formato e do gênero. As emissoras não investem em um produto que não dão retorno financeiro", justifica Maria Cristina Palma Mungioli, pesquisadora do Centro de Estudo de Telenovelas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP).
[SAIBAMAIS] As novelas fazem parte do cotidiano do país desde 1963, com a estreia de 2-5499 ocupado, a primeira diária da televisão brasileira. "Desde pequeno, tenho hábito de ver novela. Minha infância no Sertão do Pajeú era basicamente 'vida de interior' e assistir a novela em casa", recorda o jornalista e noveleiro Leonardo Lemos, 28. O interesse pelo segmento é tão forte que ele prepara projeto de pesquisa sobre as novas formas de consumo.
A abundância de opções novelísticas na grade decorre da entrada de novos canais na oferta do produto. A Record (retransmitida pela TV Clube, em Pernambuco) enveredou pela linha bíblica e obteve êxito com Os dez mandamentos, na faixa das 20h30. Agora, substituiu o Programa da tarde por uma rodada dupla de reprises, com Prova de amor e Dona Xepa, exibidas em sequência, a partir das 14h45. "É um produto rentável e aumenta faturamento das emissoras. De um modo geral, as reprises são uma maneira de fidelizar o público. Como já foram produzidas, o que vier é lucro", analisa o pesquisador Claudino Mayer, doutor em teledramaturgia e especialista em televisão.
Para Claudino Mayer, existe público para a “overdose” de novelas no ar. A audiência pulverizada, em plataformas e emissoras, indica o interesse dos telespectadores por diferentes produtos. Com Verdades secretas, a Globo consolida a teledramaturgia na faixa das 23h, já que permite uma abordagem temática e estética com mais liberdade. "A história é bem diferente do perfil das outras novelas. Eu gostei do primeiro capítulo e passei a acompanhar. Quando não vejo na tevê, assisto na internet", conta o advogado Heitor Albuquerque, de 28 anos.
%2b Para cada emissora, um filão:
A Record começou a investir em minisséries e séries bíblicas, mas encontrou em Os dez mandamentos, a primeira novela brasileira com o tema, a receita do sucesso. Exibida de segunda a sexta-feira, às 20h30, a trama sobre Moisés, livre adaptação de Vivian de Oliveira, impulsionou a audiência da faixa, antes dedicada ao telejornalismo, e alcançou média de 13 pontos. Josué e a terra prometida será a próxima trama no segmento.
Com sete novelas no ar, a TV Globo investe em diferentes públicos - do juvenil, com Malhação, ao adulto, como Babilônia. As produções exploram temas do cotidiano, como relações familiares e amorosas, e investem em algumas campanhas. Caminho das Índias, por exemplo, aborda a inclusão social de pessoas com transtornos mentais. Já Verdades secretas expôs um lado não glamuroso dos bastidores do mundo da moda, como "book rosa" e drogas.
O SBT se reveza entre o dramalhão de novelas mexicanas e tramas infantojuvenis. Protagonizada por Gabriela Spanic, A usurpadora bate o recorde de reprises na emissora. Transmitida às 17h30, a novela sobre as gêmeas Paulina e Paola já foi exibida seis vezes. Atualmente, o horário nobre é dedicado ao público teen. Os remakes brasileiros Chiquititas, Cúmplices de um resgate e Carrossel preenchem a grade noturna.
Não é só o Brasil que é reconhecido mundialmente pelas produções televisivas. A Turquia também é responsável por produções de sucesso e até concorre ao Emmy Internacional. A Band foi a primeira emissora a enxergar o filão. Mil e uma noites foi um fenômeno no país de origem e triplicou a audiência da emissora - a média é de 3 pontos. A emissora exibirá outra novela da Turquia.
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