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O fãtrocínio é a nova febre entre os músicos pernambucanos para lançar novos discos

Mecenato na internet engrena no país e músicos do entram na onda do crowdfunding

Importado para o Brasil há quatro anos, o sistema de financiamento coletivo ganha força inédita em 2015. Após crescimento exponencial no último ano, quando se concentraram 42% dos projetos, o Catarse, primeira plataforma de crowdfunding lançada no país, apresenta números ainda mais animadores - a demanda aumentou 30% nos primeiros cinco meses do ano.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

[SAIBAMAIS]No primeiro semestre, os pernambucanos Mundo Livre S/A, Siba e Maciel Salú contaram com o mecenato de fãs na internet para a produção de CDs e DVDs. “Só agora o financiamento coletivo começa a ganhar força na música pernambucana”, anima Anthony Ravoni, do Catarse, pelo qual a banda Mundo Livre S/A garantiu o primeiro DVD da carreira, através do apoio de 302 pessoas que investiram R$ 43 mil (a meta eram R$ 40 mil).

O projeto foi registrado no Sesc Belenzinho, em São Paulo, e deve ser finalizado em julho ou agosto. “Achei bacana, até porque a gente pôde criar um mailing de apoiadores. São pessoas com que você sabe que pode contar para uma parceria. E sabe que há uma galera que vê a música como arte a ser incentivada”, conta Fred 04. Ele diz que podem repetir a experiência, com mais planejamento. São Paulo foi o local com mais apoiadores, seguido do Recife e Rio de Janeiro. Na mesma plataforma, Renata Rosa conseguiu R$ 16.795 (a meta era R$ 15 mil) para finalizar o disco Encantações.

Dois deles desembolsaram R$ 8 mil e terão direito a um ensaio aberto. O show do carioca SILVA no Estelita, no sábado, marca a inserção do Recife na rota do Queremos, voltado para apresentações musicais. “Os artistas, produtores e casas de show têm acesso a um mapa detalhado de pedidos de apresentações feitos pelos fãs, em tempo real. E contactam cada um dos fãs individualmente”, conta Tomás Pinheiro, da equipe de comunicação.

Eddie, Mombojó e Renata Rosa conseguiram atingir as metas das campanhas. Fotos: Heudes Régis, José de Holanda e Michele Souza/Divulgação

A partir da manifestação de interesse dos fãs, as propostas são lançadas, com meta de ingressos vendidos para a concretização do evento. Em 2014, a pernambucana Mombojó, radicada em São Paulo, viabilizou shows da turnê de Alexandre em São Paulo e no Rio de Janeiro. “No caso da gente, não funcionou tão bem a proposta de show, como se as pessoas ainda não tivessem tanta segurança. Mas pretendemos fazer o vinil de Alexandre com financiamento colaborativo”, diz Chiquinho. Também do selo Joinha Records, Garimpo, da recifense Sofia Freire, terá campanha lançada na próxima semana, no Embolacha, primeiro exclusivo para gravação de discos, com 57 propostas lançadas, 39 efetivadas e cobrança de 15% de taxa de administração.

Sofia Freire lançará projeto de crowdfunding para o disco "Garimpo" nesta semana. Foto: Flora Negri/Divulgação

A banda Eddie pretendia arrematar R$ 20 mil para o álbum Morte e vida, mas acabou com R$ 24.970. Maciel Salú conta com as contribuições dos internautas para repetir a conquista do quinteto olindense. “O crowdfunding depende da rede de contatos do criador da campanha para acontecer, e música é algo que motiva e tem paixões por trás. Muitos artistas possuem uma base de fãs, o que facilita as primeiras contribuições até o projeto de fato viralizar”, analisa Tahiana D’Egmont, CEO da empresa. O Kickante teve aumento de 300% em 2015 e espera crescer dez vezes no ano.

PROJETOS EM ABERTO


Neste sábado, encerra a campanha de pré-venda exclusiva do novo disco de Siba. Em 10 faixas, ele mantém a forte relação com a tradição musical do estado e não se furta a traçar críticas sociais e políticas. As opções vão de R$ 20 a R$ 120 e podem incluir ingresso para o show de lançamento, no Teatro de Santa Isabel, nos dias 26 e 27 de junho.


Lançado há uma semana e com R$ 1 mil arrecadados de R$ 18 mil (custo de gravação, prensagem e projeto gráfico), o projeto de Baile da rabeca, novo disco de Maciel Salú, oferece de CD autografado por R$ 20 a show exclusivo - por R$ 8 mil. As 11 músicas prestam tributo à rabeca, usada em manifestações populares como cavalo marinho, fandango, reisado e forró.

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DUAS PERGUNTAS PARA >> Anthony Ravoni, remixador de informações do Catarse

Quais as facilidades que projetos da área cultural - e, mais especificamente, musical - têm?

Falando especificamente de música, é uma categoria com uma entrega muito tangível. As recompensas são claras e objetivas: o download de uma música, um CD ou vinil autografado, ingresso pra shows, etc. Além disso, com o avanço da internet e das tecnologias de gravação no Brasil, houve uma redução nos custos de produção e distribuição de música, democratizando esse processo para os músicos independentes, nossos principais realizadores.

Houve um aumento na criação de projetos do segmento musical no último ano? O que justifica o aumento?

Sim. Em 2013, foram 163 projetos de música ao ar. Em 2014, foram 250. E pela primeira vez a categoria ultrapassou a marca de R$ 2,5 milhões para projetos financiados. O financiamento coletivo e o Catarse como um todo cresceram exponencialmente no último ano. Segundo nosso balanço, 42% de todos os projetos do Catarse foram ar em 2014. Nada mais natural que Música, a nossa maior categoria, acompanhasse esse crescimento.

NÚMEROS

R$ 258 mil custou o projeto de música mais caro do Catarse, um CD da Dead Fish. O valor equivale a 40% do total destinado pelo último edital do Funcultura para gravação de álbuns

R$ 268 mil foram arrecadados pelas 18 campanhas pernambucanas no Catarse

90% dos projetos do Kickante são realizados

68% dos projetos do Embolacha viram disco

59% dos projetos de música do Catarse atingem a meta

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