Este é um ano de gratidão para Maria Bethânia. Consagrada como uma das principais intérpretes da música brasileira, a cantora baiana comemora os 50 anos de carreira com incontáveis tributos, como a emocionante cerimônia do 26º Prêmio da Música Brasileira e o enredo da escola de samba Mangueira - Maria Bethânia: A menina dos olhos de Oyá - desenvolvido para 2016.
Confira o roteiro de shows no Divirta-se
[SAIBAMAIS]Na próxima quinta-feira, estreará no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, a exposição Maria de todos nós, com obras de vários artistas, projeções em vídeos, arquivos de áudio, fotografias, cadernos de joias, bordados e entalhes feitos por ela distribuídos em 12 salas. Até o fim do ano, será lançado o livro-DVD de Bethânia e as palavras, recital que abriu a Festa Literária de Pernambuco (Fliporto), em 2012.
A turnê Abraçar e agradecer é o presente da artista para os fãs. Em roteiro assinado por ela, direção e cenografia de Bia Lessa e produção musical de Guto Graça Mello, Bethânia entrelaça, em trajes dourados, durante quase duas horas divididas em dois atos, 41 canções e oito textos dela, de Clarice Lispector, Fernando Pessoa, Waly Salomão e outros.
Compositores importantes na trajetória dela, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Gonzaguinha e Roque Ferreira foram selecionados, além de outros mais jovens, como Leandro Fregonesi, Márcia Siqueira e Flávia Wenceslau, e os pernambucanos Luiz Gonzaga (Qui nem jiló, com Humberto Teixeira), Dominguinhos e Nando Cordel (Gostoso demais).
Carcará, de João do Vale e José Cândido, a música que a consagrou como artista, não está no setlist divulgado. Naquele 13 de fevereiro de 1965, a baiana franzina de apenas 19 anos vinda de Santo Amaro da Purificação substituiu Nara Leão no show Opinião, na capital carioca. Era tão “matuta” que foi acolhida pelo casal Glauber e Rosinha Rocha para não ter de se hospedar em um hotel.
Tímida, no palco no Teatro Opinião, deu o primeiro passo para se cravar na história da música do país. Ainda em 1965, lançou o LP Maria Bethânia, marco ainda das duas primeiras canções gravadas do irmão, Caetano Veloso - De manhã e Sol negro - e do primeiro registro de Gal Costa, em Sol negro. Eles e o conterrâneo Gilberto Gil também estão envolvidos em celebrações dos cinquentenários de carreira. Gil e Caetano com turnê conjunta que estreou na quinta-feira, em Amsterdã, capital holandesa, e não tem data para vir a Pernambuco.
A intimidade com a verve cênica e a paixão pela poesia conduzem os shows, especialmente após Rosa dos ventos, início da parceria com o diretor Fauzi Arap, morto em 2013. Inspirado no fogo, na água, terra e no ar, os elementos primordiais da natureza, foi o primeiro com trechos de Fernando Pessoa e Clarice Lispector - a escritora cedeu Água viva à cantora antes mesmo de ser lançado - e tornou mais sinuosos os limites entre teatro e música no palco.
A Abelha Rainha orgulha-se de ter conduzido a carreira como quis e ainda ostenta o título de primeira brasileira a vender um milhão de cópias, com Álibi (1978). Responsável por versões sacramentadas de ícones da MPB, dedicou um álbum inteiro às composições de Erasmo e Roberto Carlos, gravou Zezé di Camargo & Luciano e cantou Bruno & Marrone. Com o patuá no pescoço e os pés descalços, tem apenas, como diz o título, a agradecer.
Confira o roteiro do show
Ato 1
1. Eterno em mim (Caetano Veloso, 1996)
2. Dona do dom (Chico César, 2001)
* Texto de autoria de Maria Bethânia
3. Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974)
4. A tua presença morena (Caetano Veloso, 1971)
5. Nossos momentos (Caetano Veloso, 1982)
* Texto de autoria de Clarice Lispector
6. Começaria tudo outra vez (Gonzaguinha, 1976)
7. Gostoso demais (Dominguinhos e Nando Cordel, 1986)
8. Bela mocidade (Donato Alves e Francisco Naiva, 1997)
9. Alegria (Arnaldo Antunes, 1995)
10. Voz de mágoa (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 2015)
11. Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959)
12. Você não sabe (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1983)
13. Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973)
14. Meu amor é marinheiro (Alan Oulman sobre versos de Manuel Alegre, 1974)
15. Todos os lugares (Sueli Costa e Tite de Lemos, 1996)
* Texto Depois de uma tarde..., de Clarice Lispector (1920 - 1977)
16. Rosa dos ventos (Chico Buarque, 1971)
Interlúdio
17. Até o fim (Chico Buarque, 1978)
18. O quereres (Caetano Veloso, 1984)
19. Qui nem jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950)
20. Pisa na fulô (João do Vale, Silveira Júnior e Ernesto Pires, 1957) - Instrumental banda
Ato 2
21. Tudo de novo (Caetano Veloso, 1978)
22. Doce (Roque Ferreira, 2008)
23. Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi, 1972)
24. Eu e água (Caetano Veloso, 1988)
25. Agradecer e abraçar (Gerônimo e Vevé Calazans, 1999)
26. Vento de lá e Imbelezô eu (Roque Ferreira, 2007)
27. Folia de Reis (Roque Ferreira, 2014)
28. Mãe Maria (Custódio Mesquita e David Nasser, 1943)
* Texto Câmara de ecos, de Waly Salomão (1943 - 2003)
29. Eu, a viola e Deus (Rolando Boldrin, 1979)
30. Criação (Chico Lobo, 1996)
31. Casa de caboclo (Roque Ferreira e Paulo Dafilin, 2014)
* Texto Candeeiro, de Carmen L. Oliveira
32. Alguma voz (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 2014)
* Maracanandé (canto tupi) - na voz em off de Márcia Siqueira
35. Xavante (Chico César, 2014)
36. Povos do Brasil (Leandro Fregonesi, 2014)
37. Motriz (Caetano Veloso, 1983)
* Texto Prece, de Clarice Lispector (1920 - 1977)
38. Viver na fazenda (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 2015)
39. Eu te desejo amor (Que reste-t-il de nos amours?) (Charles Trenet e Léo Chauliac, 1942, em
versão de Nelson Motta, 2015)
* Texto Sou eu mesmo o trocado, de Fernando Pessoa (1888 - 1935)
40. Non, je ne regrette rien (Charles Dumont e Michael Vaucaire, 1956)
41. Silêncio (Flávia Wenceslau, 2015)
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ALGUMAS DATAS DA ABELHA RAINHA
1965 - Estreia profissionalmente no espetáculo Opinião, substituindo Nara Leão, ao lado de João do Vale e Zé Keti, e causa impacto ao interpretar Carcará. Lança o primeiro LP, homônimo, pela RCA.
1967 - De volta ao Rio - passou temporada na Bahia após o sucesso de Opinião - estrela show na boate Barroco, em Copacabana, que vira disco.
1975 - Divide com Chico Buarque temporada no Canecão, registrado em disco com o nome da dupla.
1976 - Roda o país em turnê dos Doces Bárbaros, grupo formado com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, para comemorar os 10 anos de carreira deles.
1979 - Com Álibi, torna-se a primeira brasileira a vender um milhão de cópias. Ronda, Negue, Explode coração e Sonho meu estão entre as faixas.
1990 - Comemora 25 anos de trajetória com disco que traz a data no título.
1994 - Homenageia a dupla Erasmo e Roberto Carlos com o disco As canções que você fez para mim.
2000 - Integra o casting da Biscoito Fino, pela qual lança Maricotinha ao vivo. Passa a dirigir o selo Quitanda, responsável pelos CDs de três artistas que admira: Dona Edith do prato, Mart’nália e Paulo César Pinheiro.
2006 - Saem os álbuns Pirata e Mar de Sophia. Um ano depois, DVD duplo com os documentários Pedrinha de Aruanda e Bethânia bem de perto, nos 60 anos dela.
2008 - Lança CD com a cubana Omara Portuondo, do Buena Vista Social Club.
2012 - No recital Bethânia e as palavras, declama textos de Antônio Ramos Rosa, Cecília Meirelles, Guimarães Rosa e Manoel Bandeira, entremeados por canções, como ABC do Sertão, de Luiz Gonzaga.
2014 - Lança o CD Meus quintais e o CD e DVD O vento lá fora, com poemas de Fernando Pessoa lidos por ela e Cleonice Berardinelli, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
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