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Diante do maior número de livros no mercado, leitores buscam soluções para não errar na escolha

Clubes de leitura, confrarias e listas de escritores conceituados ajudam na hora de escolher o novo livro de cabeceira em meio a tantos lançamentos mensais

Como quantidade quase nunca combina com qualidade, não raro a hora de renovar a própria biblioteca é envolta em dúvidas. Foto: Mattthew Septimus/Reprodução da internet

A cada hora, sete novos livros são lançados no mercado editorial brasileiro, entre inéditos e reedições. Em outras palavras, a cada mês, as livrarias têm a possibilidade de incrementar o cardápio com mais de 5 mil obras, dos mais diversos gêneros literários, sejam nacionais ou traduzidos de incontáveis idiomas. Mesmo se descontada a fatia referente a volumes técnicos e didáticos do total de 60,8 mil títulos publicados em 2014 (segundo pesquisa Fipe/Snel), ainda impressiona a avalanche de opções. Como quantidade quase nunca combina com qualidade (além de ser esta uma definição bastante elástica quando se trata de literatura), não raro a hora de renovar a própria biblioteca é envolta em dúvidas. Com frequência, as compras geram arrependimento.

[SAIBAMAIS]Para amenizar o peso da escolha, dicas da época de Gutenberg (no século 15) continuam válidas e ganham o incremento de ferramentas dos tempos do e-book, como sites capazes de fazer sugestões com base nas preferências literárias. Permanecem válidas as recomendações de amigos, professores e até de escritores de prestígio (assim como outrora fazia Ernest Hemingway, autores como Lira Neto, Ana Maria Machado e Zuenir Ventura eventualmente indicam títulos). Outra fonte de boas referências pode ser um clube de leitura, onde os participantes têm espaço para, além de comentar a obra eleita para o debate do encontro, falar a respeito da bibliografia de outros escritores.

A busca por pitacos de confiança tem aberto espaço para a ressurreição dos chamados “clubes do livro”, por meio do qual os sócios recebem novos exemplares em casa. Na década de 1970, uma parceria entre as editoras Abril e Bertelsmann criou um esquema capaz de arregimentar 800 mil associados (no auge, em 1983), de 2850 municípios brasileiros. Naquela época, os assinantes escolhiam em catálogos quais títulos mais lhe interessavam (mal comparando, semelhante ao formato adotado posteriormente por vendedoras de cosméticos).

Há menos de um ano, três universitários de Porto Alegre (RS) tiveram ideia semelhante, embora não conhecessem as iniciativas anteriores. Gustavo Lembert, Arthur Dambros e Tomás Susin se inspiraram em clubes de assinatura de vinhos e cervejas artesanais para criar o TAG Experiências Literárias, uma confraria com cerca de 500 adeptos no país. “Queríamos trabalhar com livros, mas algo diferente de abrir livraria ou vender obras online. A partir dessa tendência de bebidas alcoólicas,

apostamos na criação do hábito da leitura, com entregas mensais”, diz Lembert.

A grande diferença em relação aos outros é o fator surpresa. Até o momento de receber a encomenda, o assinante do TAG não faz ideia de qual livro estará dentro da caixa. Escolhidas por um curador convidado, já constaram nos kits da empresa obras de Dostoiévski, Philip Roth, Mário Sergio Cortella.

Indicações

Online

A rede social especializada em literatura Skoob (skoob.com) é destino frequente dos bibliófilos. Ao navegar pelo site, há várias maneiras de encontrar recomendações dos próprios usuários. Já no site bookseer.com (em inglês), o usuário digita o título de que gostou e recebe, na hora, uma recomendação.

À Moda Antiga

Nos últimos anos, muitos dos clubes de leitura migraram para o ambiente virtual, mas alguns ainda resistem à mediação tecnológica. No Recife, grandes livrarias, como Saraiva e Cultura, ainda promovem os encontros. O ambiente é ideal para trocar referências literárias com os participantes.

Assinatura

O serviço de “experiências literárias” entrega, todo mês, kit  com livro escolhido por curador, revista produzida pelo grupo, além de “mimos” em referência à obra do mês. Os planos custam R$ 69,90 (mensal) e R$ 79,90 (trimestral). No site taglivros.com.br.

Oficinas

Há décadas autores experientes se dedicam a oferecer oficinas com objetivo de guiar aspirantes a escritores. Mas o primeiro passo para a formação literária é a leitura de obras essenciais, indicadas pelos professores. No Recife, há cursos de Raimundo Carrero e Sidney Rocha.

"Além de ser uma leitora assídua, estou sempre à procura de novidades, de passear nas livrarias aqui em Petrolina (Sertão do estado) em busca de títulos novos e de acompanhar canais no YouTube sobre literatura. Foi lá que conheci, em fevereiro, o serviço de assinatura de livros. Adoro a ideia de ter uma surpresa a cada mês com livros diferentes um do outro. Até agora, não recebi nenhum que não tenha me agradado. Meu preferido foi Duas narrativas fantásticas, de Dostoiésvki. São obras que normalmente eu não leria. Apesar de não ser um serviço barato, vale a pena”.

Raíssa Barros, 22, estudante de psicologia

"Leio cerca de 50 livros por ano e estou sempre em busca de novidades. Na hora de comprar, dou preferência a autores conhecidos ou em sinopses dos lançamentos. Mesmo assim, às vezes compro várias obras que não gosto e, por isso, nunca leio. Em maio, me inscrevi no TAG e recebi títulos de autores que não conhecia, como o Philip Roth. Isso de não saber qual livro vai ser entregue foi o que mais me atraiu. Além de ser assinante, participo de um clube de leitura aqui em Caruaru (no Agreste do estado), onde todo mundo faz recomendações”.

Patrícia Regis, 23, designer

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