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Não tem Copa mas tem forró: expectativa dos forrozeiros para o São João 2015. Confira lançamentos

Gênero encontra cenário mais animador em relação a 2014, período ofuscado pela Copa do Mundo

Sanforneiros Gennaro e Verônica. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

O mercado forrozeiro começa a se agitar no período que antecede a festa junina. A época propícia para escoar a produção, ampliar os cachês e aumentar a maratona de shows chega chancelada com a projeção obtida pelo forró no mês de abril: três músicas do gênero ficaram entre as 15 mais tocadas nas rádios recifenses. Problema seu, de Alcymar Monteiro, Espaços e vazios, de Magníficos, e Ressentimento, de Flávio José - de acordo com o instituto Crowley, empresa de monitoramento.

[SAIBAMAIS]O lançamento de discos, vitrine indispensável para os novos trabalhos e aproximação com o público, tem pela frente um panorama aparentemente melhor em relação ao ano passado, quando a divulgação perdeu espaço para a Copa do Mundo. “É o mês que todo mundo ‘lava a égua’, como dizia Gonzaga”, brinca o sanfoneiro Cezzinha, que lança o disco Gosto de tudo em você. “O período de maio a julho representa a melhor época em relação à quantidade de shows, mesmo concorrendo com artistas do forró estilizado e outros ritmos”, diz o cantor Maciel Melo, na praça com a coletânea Na quentura do mormaço. 

“Não é comum emplacar uma música pé-de-serra em abril. Nos últimos anos, isso não tinha acontecido, mas as faixas têm agradado o público e se mantêm entre as 20 mais pedidas”, observa o diretor da Rádio Clube FM, Léo Gangana. Em 2013 e 2014, nenhuma das canções que lideraram as listas eram do forró, de acordo com as informações do instituto de monitoramento das rádios. 

Enquanto reconhece o cenário melhor em 2015, o empresário Fábio Cabral, proprietário da loja Passa Disco, se mostra cauteloso: “Embora as vendas aumentem e a procura por discos seja maior, este ano terá uma safra enxuta. O ano passado já não foi bom por causa da copa e das eleições”. Soma-se à avaliação menos otimista o temor na diminuição dos shows. Avalia o sanfoneiro Gennaro, ex-integrante do Trio Nordestino: “Os forrozeiros estão preocupados com a crise. A saída das prefeituras é cortar logo a verba para shows. Além disso, competimos nas programações com as duplas sertanejas”. 

Foto: Brenda Alcantara/Esp.DP/D.A Press

O veterano Alcymar Monteiro, no entanto, se mostra confiante. “Está de igual para igual com qualquer outro estilo”, celebra. O Viver selecionou 16 discos de forró, novidades que chegam às lojas até o São João. Nomes como Jorge de Altinho, Cristina Amaral, Petrúcio, Gennaro e o DVD póstumo do Mestre Camarão, que será lançado dia 21, devem oxigenar as prateleiras e o comércio online durante o arrasta-pé. 

“Luiz Gonzaga fortaleceu o São João. Fez uma festa de dois dias se transformar em 30 ou 40. Ele era um gênio mesmo”, comenta o cantor Santanna. Ele é um dos artistas que preferiram lançar disco com meses de antecedência, para dar tempo suficiente de as canções chegarem aos ouvidos do público. A aposta é no disco Xoteamar. “Costumo fazer disco para o ano inteiro e não apenas para junho. Lancei em setembro do ano passado para chegar tinindo agora”, explica.


Elba Ramalho, confirmada na abertura do São João de Caruaru, no dia 30 de maio. 

"O São João é melhor para todo mundo. Sempre foi a roça do forrozeiro. Antes, na época do Trio Nordestino, fazia 80% dos shows em eventos particulares. Hoje, vivemos reféns de eventos do governo. Talvez a colheita não seja tão farta. Os forrozeiros estão preocupados com essa crise. A saída das prefeituras é cortar logo a verba para shows. Além disso, competimos nas programações com as duplas sertanejas”.
Gennaro, sanfoneiro e ex-Trio Nordestino

"Faço até 20 shows em média no São João. Em outro meses, são 4 a 5. É bom fazer shows na rua, interagir e sentir a energia do povo. O repertório é mais dançante, com forró, xote e arrasta-pé. A expectativa para esse ano é boa, mas, com a crise, acredita-se que as prefeituras diminuam a quantidade de shows para todos”
Cristina Amaral, cantora 

Crsitina Amaral. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

O forró não sobrevive somente do São João, frisam os artistas do gênero. E nem só aborda “pobreza” e “simplicidade” característicos da vida sofrida sobretudo no Sertão. “Nossa música toca em em qualquer época. Saímos da roça e chegamos à cidade para conquistar um público classe A, mas que não perde a matutice”, explica Alcymar, que lança o 97º disco da carreira, Forró bonito, e já tem agenda em Pernambuco, na Paraíba, Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. 

Nas composições da nova safra, há a preocupação sobre a renovação dos temas cantados. Fala-se da natureza, dos pássaros, do rio, da chuva, da seca e do amor com um linguajar atualizado. “É necessário modernizar a linguagem e urbanizar o forró para que se possa atingir todo mundo e não se restringir ao Sertão. Não adianta usar termos antiquados, porque, talvez, o pessoal de hoje nem entenda”, explica o compositor Xico Bizerra, homenageado na recém-lançada coletânea Forrozando para o mundo - volume 2, com selo da Passa Disco.

A ideia de mesclar músicas novas com as clássicas é assumida pelos forrozeiros. “Colocamos sempre três ou quatro inéditas. Mas não abro mão dos sucessos. Há canções que se tornaram parte da minha existência”, afirma Alcymar. “Costumo cantar o que o povo quer ouvir, dançar e curtir. Sempre tem forró, coco, xote, baião e quadrilha. Canto de Xico Bizerra a Nando Cordel, Flávio José, Flavio Leandro, Rogério Rangel e Petrúcio Amorim”, explica Elba Ramalho, figura frequente no São João de Caruaru e Campina Grande, duas das maiores festas do Nordeste. 

As expectativas


Alcymar Monteiro
O 97º disco da carreira, Forró bonito, tem baião, forró e xote. Entre as 19 faixas, o destaque para o reggae inédito Justiça cega e regravações como Sessão das dez, de Raul Seixas, em ritmo de baião. O disco chega às lojas neste mês, e já está disponível na web em plataformas como Deezer, Spotify, Amazon, Qobuz, Mixrad, Google Play, Rdio e Zvooq.

Andrezza Formiga
A forrozeira Andrezza Formiga mistura elementos da música regional com o forró moderno em E tome forró, meu bem, o segundo disco da carreira solo. O material é composto por onze faixas assinadas pelos compositores Roberto Cruz, Flávio Leandro, Jessier Quirino, Maciel Melo, Bruno Lins e Rafael Beibe. Sai em maio.

Bruno e Forró Flor de Lotus
Um registro do show da banda Bruno e Forró Flor de Lótus na Sala de Reboco rendeu o DVD No colar colou, nova canção de trabalho que dá título ao álbum. O material conta com participações de Luizinho Sanfoneiro, Nilton Neto Forró Pratú e Nerilson Buscapé.

Camarão (Póstumo)
O primeiro DVD de carreira do sanfoneiro Camarão, Mestre de um brejo distante, será lançado na Passa Disco (Parnamirim), no dia 21 de maio, um mês após o falecimento do compositor. O projeto foi registrado em show na Cachaçaria Carvalheira, em 2013, e inclui depoimentos de artistas e amigos, como Dominguinhos. Beto Hortis, Thaís Nogueira, Geraldinho Lins, Josildo Sá e o filho, Salatiel, fizeram participações.


Cezzinha 
O sanfoneiro completa três anos de carreira solo e divulga o disco Gosto de tudo em você, pela Som Livre. O álbum traz parcerias de Cezzinha com grandes compositores: Um anjo pra cuidar (com Nando Cordel), Samba matuto (com Fábio Simões), e o samba Judia de mim, de Zeca Pagodinho, com novo arranjo. 

Cristina Amaral 
Minha voz, minha vida é o segundo DVD de Cristina Amaral, que comemora 30 anos de carreira neste ano. No registro, a artista fez uma releitura dos sucessos, como Eu sou o forró, Cidade grande e Arisca. Há participação de Genival Lacerda, César Amaral, Jorge de Altinho e Lucy Alves, no show gravado no Parque Dona Lindu. “Investimos muito em qualidade e não ficamos atrás de nenhum gênero”, explica Saulo Gouveia, produtor da cantora. Foram investidos cerca de R$ 150 mil.

Fim de Feira
O DVD comemorativo de dez anos da banda, Bomba cordão, remete ao clima junino das festas das interior. O repertório autoral é composto por 13 faixas e inclui as canções Sina de passarinho e Preso 137, de Bruno Lins e Tonzinho. O material chega às lojas em maio.

Gabriel Diniz
O primeiro DVD de carreira do forrozeiro, #Gdatthepark foi gravado em março no Mirabilândia Parque, em Olinda. O material traz participações especiais de Wesley Safadão, Alinne Rosa e Léo Santana e chega em maio às lojas de todo o Brasil. 


Gennaro 
O sanfoneiro Gennaro, com 40 anos de carreira, lança Intriga da oposição, disco autoral de inéditas que resgata o estilo “forró pinicada”, que segue a linha do coco. Com destaque para as faixas Tome xote, Forró da samarica, A saudade tá matando e Doce. 

Jorge de Altinho
O segundo DVD de Jorge de Altinho, Melhor assim, é composto por 19 faixas, com sete inéditas. Também reúne principais sucessos na voz do cantor como Nem ligue e Confidências, e dá continuidade ao trabalho baseado no forró urbano com a faixa homônima, do compositor caruaruense Renato Carvalho. O registro do show chega às lojas em maio. 

Maciel Melo
Na quentura do mormaço é a aposta de Maciel Melo para o período junino. Uma compilação com 17 faixas, entre elas regravações de sucessos como Velho arvoredo, Nos tempos de menino e Tampa de pedra, em novos arranjos. Com participação de Zeca Pagodinho e Elba Ramalho. Álbum está disponível nas Livrarias Cultura, Passa Disco (Parnamirim) e Box Sertanejo, no Mercado da Madalena. 

Maria Lafaete
Feliz pra danar é o segundo disco solo da cantora Maria Lafaete. Álbum traz repertório de xote, baião e arrasta-pé, com canções como Espere por mim morena (Gonzaguinha), Eu sou poeira de forró (Junior Vieira) e ainda composições de Xico Bezerra, Flávio Leandro e Nelson Gusmão. 


Petrúcio Amorim
O álbum duplo Petrúcio Amorim - 30 anos de forró reúne os principal sucessos da carreira do poeta caruaruense, entre eles Tareco e mariola, Meu cenário, Confidências, Anjo querubim e Cidade grande. Lançado em maio, em show especial na Casa da Rabeca, em Olinda. 

Sarah Brasil 
Eu quero é cantar Luiz é o terceiro disco lançado neste ano pela cantora e compositora Sarah Brasil, de 35 anos. Uma homenagem a Luiz Gonzaga em 17 faixas, explora sonoridades do xote, forró e arrasta-pé. Entre as canções Viva a festa de São João, Caruaru ou Campina Grande, Rainha da cocada e Saudade tirana, em dueto com Cezzinha. 

Pernambuco forrozando para o mundo - Viva Xico Bizerra
O selo Passa Disco lança o segundo volume da série de coletâneas para festejar os 15 anos de carreira do compositor cearense radicado no Recife Xico Bizerra. A obra composta por 20 faixas passeia pelas composições de Xico Se tu quiser (Elba Ramalho), Hoje tem Forró (Silvério Pessoa), Musa (Dominguinhos) e Pelos cantos da casa (Maciel Melo) e ainda traz outros intérpretes como Amelinha, Elba Ramalho, Flávio José, Marinês e Trio Nordestino. 

Quinteto Violado
Grupo faz releitura da obra de Dominguinhos no projeto Quinteto canta Dominguinhos, que inclui clássicos como Só quero um xodó, Sete meninas e Tenho sede. Além de canções menos conhecidas como Fé do lavrador, Quando chega o verão, Sanfona sentida, Abrir a porta e Retratos da vida. Participaram Marina Elali, Mônica Salmaso, Cezzinha e Maciel Melo. Show no Recife será no dia 30 de maio, no Teatro RioMar. O disco será distribuído pela gravadora Atração.

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