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Cantor Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, fala sobre Raul Seixas, política e shows de reunião

Banda se apresenta neste domingo (17), no Teatro RioMar

Crédito: Site Oficial/Reprodução

Ele não matou Joana D'Arc, mas também cantou que não vai haver amor no mundo nunca mais. Com mais de 35 anos de carreira, Marcelo Nova pode se gabar de ser um dos cantores de rock mais respeitados do Brasil. À frente do Camisa de Vênus, banda de sucesso nos anos 1980, o baiano se apresenta neste domingo (17), no Teatro RioMar (Pina).

[SAIBAMAIS] No repertório da turnê, Marcelo promete clássicos do Camisa além de canções favoritas dos fãs. Em entrevista ao Viver, ele comentou o clima da turnê, a situação política atual e até detalhes da relação com Raul Seixas, com quem gravou o disco A panela do Diabo (1989).

Entrevista >> Marcelo Nova

"Não preciso mais mudar o mundo. Quero apenas me divertir"

Como está o clima da banda na turnê de reunião?

Só fizemos um show, no Circo Voador. A apresentação no Recife será a quarta da turnê. Acho natural termos escolhido o Rio de Janeiro para a estreia. Foi a primeira cidade onde tocamos fora da Bahia. Não é para qualquer um fazer rock and roll no Brasil por 35 anos. Estamos apresentando todas as canções que tornaram o Camisa o que é, além de algumas favoritas dos fãs.

Nos anos 1980, as letras do Camisa de Vênus eram consideradas polêmicas e foram até censuradas. Como você acha que seria a reação nos dias atuais?

Hoje em dia, parece que as pessoas perderam o senso de sarcasmo. O politicamente correto domina tudo. Eu certamente seria crucificado se tivesse lançado algumas músicas hoje em dia.

No rock nacional da época, as bandas de maior sucesso eram do eixo Rio-São Paulo. Então veio o Camisa, da Bahia. Houve alguma dificuldade ou preconceito?

Nós eramos um "corpo estranho" dentro daquele eixo Rio-São Paulo. Eu nunca me enquadrei naquela cena, onde quase todo mundo era influenciado por punk, ou queria ser rebelde vestindo bermuda verde-limão, música de praia do Rio. Minhas influências são as mais variadas. Vão de Sex Pistols a Jards Macalé. Penso que isso ajudou a definir o DNA do Camisa de Vênus. Você pode amar ou odiar nossas músicas, mas nenhuma banda de rock no Brasil tem uma sonoridade igual à nossa.

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Como você vê a reação dos fãs nos shows de reunião?

É uma maravilha. Antigamente quem via nossos shows era a galera mais louca, que curtia. Hoje, eu vejo três gerações de fãs dividindo aquele espaço. São pessoas mais velhas, casais, pais que levam seus filhos, e essa molecada de 20 anos que conhece e canta todas as músicas!

Vocês tem planos de voltar a gravar após a turnê?

Um passo de cada vez. Esta é nossa primeira reunião desde 1987. Fizemos alguns shows esporádicos, mas é a primeira vez que nos juntamos para rodar o país. É o início de um ciclo. Mas, por enquanto, estamos focados apenas em cair na estrada e tocar.

Como você vê a situação política do país atualmente?

Eu não enxergo a situação política do país, eu ando de óculos escuros. Quando eu era pequeno, via meu bisavô reclamar da situação do país, depois meu avô e consequente o meu pai. Em todo esse tempo, os governos mudaram, a ditadura veio e caiu, e a situação continua ruim. Nossa pobreza educacional e cultural continua a mesma. Não é a mudança de governos que vai alterar isso. É necessário que venha uma nova geração, com novas ideias. É triste, mas é verdade.

Uma polêmica bastante comentada foi a entrevista para a revista Veja, que trazia uma frase sua afirmando que Raul Seixas sempre faltava nos shows. Como ocorreu isso?

Eu me senti desrespeitado. Sempre fiz questão de deixar claro que Raul cumpriu todos os compromissos que tinha comigo. Ele compareceu a todos os 50 shows da turnê. Mas, no passado, ele tinha um histórico de beber e não aparecer nos locais. Então eu pego a revista e leio, distorcido, "Raul bebia e às vezes nem aparecia nos shows", algo que eu nunca disse. Como não se revoltar com isso?

Como era a sua relação com Raul Seixas?

Raul era uma pessoa muito peculiar e pessoal. O primeiro show que vi na vida foi Raulzito e os Panteras, ainda em Salvador. A influência dele em mim foi mais pessoal do que musical. Eu era um apaixonado por rock e de repente vejo aquele cara lá, baiano como eu, esquisito como eu, em cima de um palco. Então percebi que com um pouco de talento e a vontade que eu tinha, também podia chegar lá. Nós éramos, antes de tudo, amigos. Nosso primeiro disco juntos, A panela do diabo (1989), só foi lançado cinco, seis anos depois de ele começar a frequentar a minha casa e vice versa. Nós gostávamos das mesmas coisas, sempre havia uma ligação. E ele podia ser muito irônico, sarcástico. Para mim, significa muito ter o respeito de uma pessoa como Raul Seixas.

Quem é o Marcelo Nova de 2015?

Estou mais experiente, claro, mas ainda sou aquele mesmo cara. A banda está afiada, você não vai ver desafinações, notas erradas, aqui não rola isso. Dois membros já me acompanhavam em carreira solo, como meu filho Drake (guitarra). Tocamos no festival Lollapalooza Brasil, em 2012. O vocalista do Foo Fighters, Dave Grohl, que também era a atração mais aguardada da noite, viu o show do lado do palco. Quando terminamos, ele veio cumprimentar a banda e elogiar a performance. Depois que vieram me contar, eu respondi: "Eu no lugar dele, teria dito a mesma coisa!" (risos)

O que os fãs podem esperar da apresentação no Recife?

Clássicos do Camisa, e muita diversão. Estamos há 35 anos fazendo rock e merecemos isso. Não preciso mais revolucionar nada, nem mudar o mundo. Já fiz a minha parte lá nos anos 1980. Agora quero só me divertir e divertir o público.

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