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Silvério Pessoa amplia time de artistas que se rendem a Jackson do Pandeiro com Cabeça feita

Disco resgata essência estética de sucessos da carreira do paraibano

Os Paralamas do Sucesso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Elba Ramalho e uma lista incontável de artistas imprimiram interpretação própria às canções eternizadas por Jackson do Pandeiro (1919-1982). Nascido na vizinha Paraíba, foi aqui no Recife, quando começou a carreira, em rádio, que José Gomes Filho substituiu o apelido Jack - inspirado em Jack Perry, mocinho de filmes de faroeste - e registrou as primeiras gravações.

A carreira despontou mesmo no Rio de Janeiro, onde ganhou a alcunha de Rei do Ritmo, mas a ligação com o estado e as raízes nordestinas fazem dele um nome revisitado e prestigiado na discografia pernambucana. De Bezerra da Silva, do qual foi parceiro em composições, à banda Fim de Feira, em cuja canção Aos mestre é reverenciado, o paraibano semianalfabeto é fonte de inspiração.

Lenine brincou com as palavras na canção Jack soul brasileiro, gravada também por Fernanda Abreu. Alceu Valença dividiu palcos Brasil afora com o ídolo no projeto Pixinguinha. Geraldo Azevedo gravou Na base da chinela para a coletânea Jackson do Pandeiro: Revisto e sampleado, na qual estavam também Zeca Pagodinho, Gal Costa e outros intérpretes. Fred Zeroquatro o inseriu entre os interesses dos mangueboys e manguegirls no texto do Manifesto mangue, publicado em 1992.


"Você não consegue associar Jackson a um único ritmo. Esse lado cosmopolita dele traz muitas possibilidades quando os artistas querem se redescobrir, reinventar", analisa Climério de Oliveira, cuja pesquisa de doutorado se debruça sobre o forró. Ele reforça que, esteticamente, o paraibano surgiu como estilo alternativo ao hegemônico baião de Luiz Gonzaga. "Em vez de reiterar os traços e ritmo de Gonzaga, vai para o lado maroto, brincalhão, que não é o Nordeste da seca, do sofrimento e da perda, mas tem alegria e diversificação", compara.

O que torna a proposta de Cabeça feita quase inédita é a ausência de firulas, samplers ou modernismos. Quase paradoxalmente, o Rei do Ritmo, tão moderno e desvinculado de amarras rítmicas, é resgatado na crua essência por um artista cuja produção musical é desde a estreia da banda Cascabulho, em 1995, pautada pelo diálogo entre a contemporaneidade e a tradição, tão bem definida no título do disco Cabeça elétrica, coração acústico (2005).

Silvério tenta voltar à década de 1970, quando teve duas chances perdidas de ver um show do ídolo. A primeira, no projeto Seis e Meia, e a segunda, durante a turnê em conjunto com Alceu. "Optei por ressignificar a obra dele me aproximando o mais fielmente da obra. Não houve fusão, diálogo, modernidade, releitura", conta Silvério. Microfones que reproduzem a acústica da década de 1960, mínimo possível de mixagem e gravação ao vivo de acordeom, baixo, zabumba e percussão (geralmente cada instrumento é gravado em separado) foram algumas estratégias utilizadas.

Forró em Limoeiro, Cabo Tenório e Na base da chinela foram algumas escolhidas. O show já está pronto, ensaiado e deve ser lançado no segundo semestre, após temporada na Itália para descanso e a conclusão do doutorado. Enquanto as datas da turnê não são confirmadas, nada mais apropriado do que ligar a vitrola e botar o disco para rodar no projeto Terça do Vinil.

 

Ouça o disco Cabeça feita:

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SERVIÇO

Audição de Cabeça feita: Silvério Pessoa canta Jackson do Pandeiro e discotecagem do DJ 440, com participação de Bruno Lins (Fim de Feira)

Onde: Lisbela e Prisioneiros Bar (Largo de Santa Cruz, s/n, Boa Vista)

Quando: Hoje, às 19h

Preço: R$ 24,90 (versão física, na Passa Disco) US$ 9,99 (iTunes)

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Alceu Valença e Jackson do Pandeiro, em 1972. Foto: Arquivo/CB/D.A. Press

Bruno Lins fez tributo ao Rei do Ritmo em canção da banda Fim de Feira. Foto:

Confira outras homenagens:

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