Viver

Cais do Sertão comemora um ano com sucesso de público e atraso nas obras

Mais de 110 mil pessoas conheceram o museu, que já é o segundo mais visitado de Pernambuco, mas inauguração do restante do prédio ainda não tem data prevista

 

Uma ligação simbólica entre o Porto do Recife e a paisagem cultural do profundo interior nordestino tem sido promovida com sucesso pelo Cais do Sertão, que comemora um ano de atividades neste mês de abril e já é o segundo museu mais visitado de Pernambuco (o primeiro é o Instituto Ricardo Brennand). Nos primeiros 12 meses, o espaço já recebeu mais de 110 mil visitantes e caminha para atingir uma média de público de 10 mil por mês.

Quem passa pelo prédio, entretanto, já percebe que ainda há obras a serem inauguradas. Apenas a primeira etapa está em funcionamento. O segundo módulo do prédio, que é ainda maior em área (5,5 mil metros quadrados), abrigará um auditório para 280 pessoas, restaurante, café, espaços de convivência e salas para exposições temporárias, oficinas e cursos. Ainda não há uma data prevista para a abertura, que oficialmente ocorreria no fim de 2014.

A exposição que está em cartaz no primeiro módulo não foi planejada para ser permanente, segundo Célio Pontes, gerente geral do Cais do Sertão. De acordo com ele, as peças devem ficar em exposição durante cinco anos e ainda não há um projeto para o que virá em seguida: "Não se trabalha mais com esse conceito de permanência, nem em museus antigos como o Louvre. A Monalisa pode até ficar no mesmo lugar, mas o que está ao redor dela sempre muda. É essa expectativa que cativa as pessoas e fideliza o público para uma volta."

Além do sábado e do domingo, a terça (quando a entrada é gratuita) é o dia mais visitado. A maior parte do público é formada por visitantes espontâneos e menos da metade é levada por escolas e excursões. Em março, por exemplo, alunos de 64 escolas foram levados ao museu e participaram de atividades lúdicas educativas desenvolvidas pelos professores, que passam por capacitações.

COMEMORAÇÃO

A comemoração oficial do primeiro aniversário do Cais do Sertão está marcada para o próximo domingo, dia 26 de abril, às 15h30, com apresentações do grupo percussivo Bongar e do sanfoneiro Camarão, além de outras surpresas (preço do ingresso normal da entrada). Arlindo dos Oito Baixos (1942-2013) é o homenageado deste mês e um filme sobre sua obra é projetado sempre às terças às 19h. Em maio, o catálogo com fotos de todas as obras do museu será publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).


AS CINCO ATRAÇÕES PREFERIDAS DO PÚBLICO

Consultas feitas com vistantes identificaram quais são as atrações que fazem mais sucesso no Cais do Sertão. O levantamento demonstra que o Túnel do Capeta, a Sala do Imbalança, o Sertão Mundo, a Casa do Transtempo e as Cabines de Karaokê são os favoritos do público. Outros ambientes do museu também são bastante elogiados, como a Sala de Poesia, onde são exibidos filmes, e o Túnel das Origens, dedicado à música tradicional sertaneja, mas não chegam a ser tão populares por causa da posição no trajeto da exposição, por serem menos interativos ou porque exigem uma maior disponibilidade de tempo de quem lhes assiste.

Túnel do Capeta é o ambiente preferido do público visitante

1 - Túnel do Capeta

O Túnel do Capeta chama atenção pelas cores azuladas, que se destacam em meio à paisagem terrosa do Cais do Sertão, e pela forma complexa, que lembra um grande cristal de gelo. Lá dentro, graças a um jogo de câmeras escondidas, o público sente-se vigiado por alguma entidade sobrenatural intrigante, enquanto ouve vozes que sussurram nomes e adjetivos associados ao Diabo. As assombrações e mitos sobrenaturais sertanejos são a inspiração do ambiente, projetado pelo artista Carlos Nader, que apresenta ainda textos dos livros Os Sertões (Euclides da Cunha) e Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa) na entrada e na saída.

2 - Sala do Imbalança

Localizada no fim do piso superior do museu, a Sala do Imbalança é um dos ambientes mais interativos do Cais do Sertão. O ideal é que o espaço seja visitado por grupos, que podem tocar instrumentos musicais utilizados principalmente no forró e em ritmos folclóricos nordestinos. O público pode manusear uma sanfona, uma rabeca, uma zabumba, um ganzá, um triângulo, um cavaquinho, um violão, uma alfaia, um gonguê, um agogô de cocos, uma caixa, um pífano, dois pratos e um caracaxá (espécie de chocalho estrelado de metal), com orientação de mediadores com formação em música.

3 - Sertão Mundo

Logo na entrada, o público é engolido por Sertão Mundo, filme do cineasta Marcelo Gomes (Cinema, Aspirina e Urubus) produzido especial e exclusivamente para o ser exibido no museu. A projeção ocorre em quatro telas (uma delas direcionada para o chão) que criam uma situação imersiva. As imagens promovem uma viagem através dos séculos, que começa em um passado onde havia mar na região e leva a um eclético bar situado em Varzinha (distrito de Serra Talhada), em meio a fósseis, motocicletas e skates. Além deste trabalho de Gomes, o Cais do Sertão também conta com trabalhos elaborados pelos cineastas pernambucanos Lírio Ferreira, Kleber Mendonça Filho e Camilo Cavalcante.

4 - Casa do Transtempo

Após sair do Sertão Mundo, os visitantes encontram a Casa do Transtempo, instalação que reproduz a configuração de uma casa de taipe onde podem ser vistos utensílios e adereços decorativos típicos do cotidiano do sertanejo. "As pessoas choram aqui dentro, sobretudo as mais velhas. Não é permitido tocar nos objetos, mas é quase impossível impedir que isso aconteça", relata o mediador Sandro Cunha, funcionário do museu que diariamente presencia a emoção de quem já viveu naquele tipo de cenário. Nas paredes, há vídeos de Sérgio Roizenblit e fotografias dos artistas Cafi e Miguel Rio Branco, além de retratos lambe-lambe populares (coloridos à mão) e imagens de santos.

5 - Cabines de Karaokê

No primeiro andar do museu, há seis cabines equipadas com gravadores e microfones, onde o público pode cantar clássicos do repertório de Luiz Gonzaga com acompanhamento instrumental em um vídeokê que estimula as pessoas a usarem a própria voz para vivenciar uma experiência direta com músicas como Olha pro céu, Asa branca e Qui nem jiló.


SEGUNDA ETAPA INDEFINIDA

O Cais do Sertão é administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo de Pernambuco, que controla o Porto do Recife como um todo. Segundo a gerência de comunicação do órgão, ainda não é possível prever o prazo para a inauguração da segunda etapa do museu, já que as fontes de financiamento ainda não foram definidas.

As obras de construção civil já foram finalizadas, mas restam as instalações hidráulicas, elétricas e de equipamentos, que devem ficar prontas até o fim de 2015. Segundo a gerência, as verbas para o início do funcionamento do segundo bloco devem ser provenientes do Programa Regional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas esses recursos ainda não foram confirmados. Quando essa etapa estiver definida, o prazo para a inauguração será de nove meses.

NÚMEROS 110 mil pessoas já visitaram o Cais do Sertão em 1 ano

9 mil pessoas é a média de público mensal

21 mil pessoas foi o público do mês de janeiro, que atraiu mais visitantes

5,5 mil m² será a área da segunda etapa do museu

280 pessoas é a capacidade do auditório que será inaugurado

R$ 97 milhões é o total de verbas a serem investidas nas duas etapas

64 escolas levaram alunos para o museu no mês de março


GESTÃO CULTURAL

A condução operacional do Cais do Sertão é desenvolvida pelo Instituto de Desenvolvimento de Gestão (IDG), organização social sem fins lucrativos que venceu uma concorrência para assumir a função e precisará passar por uma nova seleção em setembro para renovar o contrato (ou ser substituído).

especializado em gestão de equipamentos culturais, o IDG também é responsável pela gestão do Paço do Frevo e dos parques urbanos da Macaxeira e de Santana. No Rio de Janeiro, eles comandam as Bibliotecas-Parque e o Museu do Amanhã. O Instituto foi fundado em 2013, mas seus integrantes já passaram pela direção de espaços como o Museu da Língua Portuguesa, o Museu do Futebol (ambos em São Paulo), o Sesc de Pernambuco e a Fundação Roberto Marinho, com passagens também pelo Ministério da Cultura.

MANUTENÇÃO

Além do investimento necessário para a inauguração, o Cais do Sertão tem uma verba garantida para o funcionamento e a manutenção dos equipamentos. Por causa desses reparos, é possível encontrar algumas atrações indisponíveis. Na última semana, por exemplo, o Jogo da Seca (mecanismo interativo com gravações do cantor Tom Zé) não funcionou por causa de um cabo que precisou ser substituído. Os instrumentos musicais da Sala do Imbalança também passam por manutenções e nem sempre todos estão disponíveis. Por causa da estrutura de energia do Bairro do Recife, o ar condicionado às vezes não funciona corretamente e o público pode correr o risco de sentir um autêntico calor sertanejo.

SERVIÇO

Cais do Sertão

Endereço: Avenida Alfredo Lisboa, sem número, Bairro do Recife

Visitação: Terças, das 9h às 21h; de quarta a sexta-feira, das 9h às 17h; sábado, das 13h às 19h; domingo, das 11h às 19h.

Ingressos: R$ 8 e R$ 4 (meia), exceto terça (grátis)

Informações: 3089-2974

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...