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Oscar 2015: Documentário sobre Snowden é o favorito. Conheça os concorrentes da categoria

Filme sobre o brasileiro Sebastião Salgado também está entre os finalistas ao Oscar de Melhor Documentário

No deserto conservador do Oscar, a categoria de Melhor Documentário costuma ser o oásis da liberdade de expressão. O prêmio reúne longas-metragens lançados normalmente em circuitos de exibição independentes, espaços culturais, festivais e museus, com forte circulação na internet, na TV e em esquemas de distribuição mais domésticos (DVD, Blu-Ray, Netflix, iTunes, sites de compartilhamento). Essas produções escapam das pressões do mercado e ficam mais à vontade para explorar temas polêmicos que atacam hegemonias políticas e econômicas. Em 2015, por exemplo, o favorito entre os indicados é Citizenfour, filme que dá voz a ninguém menos que Edward Snowden, atualmente perseguido pelo governo americano. Figuras controversas também costumam ser contempladas nesse espaço, como o documentarista Michael Moore e o artista plástico clandestino (e milionário) Banksy, que foram indicados ou vencedores nos últimos anos.

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FINALISTAS DO OSCAR DE MELHOR DOCUMENTÁRIO:

O SAL DA TERRA (THE SALT OF THE EARTH), de Win Wenders e Juliano Salgado

O documentário sobre o fotógrafo Sebastião Salgado é o único representante do Brasil no Oscar deste ano. O sal da Terra foi dirigido em dupla pelo consagrado cineasta alemão Win Wenders e o documentarista brasileiro Juliano Ribeiro Salgado, filho de "Tião". Além de apresentar a obra do artista, as imagens potencializam a força cinematográfica de suas fotos, que ganham uma nova dimensão na tela grande. A primeira exibição do filme ocorreu no Festival de Cannes, com direito a dois prêmios na mostra Un Certain Regard ("Um Certo Olhar"). O lançamento nos cinemas do Brasil está previsto para 12 de março.

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VIRUNGA, de Orlando von Einseidel

Filmes com temática ambiental, normalmente com denúncias urgentes, sempre têm presença garantida entre os indicados ao Oscar. O candidato ecológico deste ano é Virunga, que retrata a situação dos 800 gorilas de uma montanha em um parque nacional na República Democrática do Congo. Os animais correm risco de extinção por causa as ações de um grupo econômico que quer explorar a região com apoio de um governo corrupto, mas os guardas florestais as comunidades dos arredores lutam para defendê-los. O longa-metragem foi produzido pelo Netflix e já foi exibido no Brasil.

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A FOTOGRAFIA OCULTA DE VIVIANE MAIER (FINDING VIVIANE MAIER), de Charlie Siskel e John Maloof

O documentário é uma investigação sobre a fotógrafa e documentarista Viviane Maier, que registrou o cotidiano de Chicago (nas décadas de 1950 e 60), onde trabalhava como babá. Ela foi uma artista praticamente anônima, que nunca obteve o devido reconhecimento pelo valor de sua obra, mas hoje em dia é considerada genial, tanto pelo legado documental quanto pelas experiências com o gênero do autorretrato. Em 2007, o historiador John Maloof a descobriu ao comprar 30 mil negativos e 1,6 mil rolos de filmes de seu acervo pessoal por 400 dólares. Não há previsão de estreia no Brasil (houve exibição no Festival do Rio), mas um livro com as fotografias foi lançado no país pela editora Autêntica.

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VIETNÃ: BATENDO EM RETIRADA (LAST DAYS IN VIETNAM), de Rory Kennedy

O filme resgata imagens que mostram os últimos dias da Guerra do Vietnã, quando as tropas americanas foram encurraladas em Saigon enquanto o exército vietnamita aproximava-se da cidade. O documentário retrata o caos que tomou conta do local e o desespero da população enquanto as autoridades e soldados dos EUA resolviam o que fazer diante da situação (fugir ou ajudar as pessoas). A estreia nos cinemas do Brasil está prevista para 19 de março.

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CITIZENFOUR, de Laura Poitras

* Texto de Bernado Jurema

O filme apontado como favorito para ganhar na categoria de documentário no Oscar de 2015 é Citizenfour, sobre o ex-agente da Agência Nacional de Segurança americana (NSA) Edward Snowden. Dirigido por Laura Poitras, o documentário já recebeu 38 prêmios e foi nomeado a outros 19. O jornal O Globo classificou-o como “o thriller mais tenso da temporada”.

A recepção calorosa por parte de público e crítica tem uma explicação simples: o filme é muito bom e funciona em vários níveis. Poitras, detentora de uma indicação ao Oscar na mesma categoria em 2007 por My country, my country, conta como ela e os jornalistas Glenn Greenwald e Ewen MacAskill encontraram-se pela primeira vez com Snowden, em Hong Kong, em junho de 2013. Durante os meses de contatos sigilosos que antecederam o encontro, o ex-agente da NSA usava o codinome “cidadão quatro” e prometia ter documentos que comprovariam que o governo americano levava a cabo vigilância massiva na Internet.

A história é narrada com incrível eficácia, prendendo a atenção do espectador do primeiro ao último minuto. Trata-se de um filme sobre como é fazer jornalismo corajoso e independente. Snowden havia escolhido Greenwald e Poitras para entregar os documentos comprovando suas denúncias, precisamente devido ao estilo combativo deles. O filme mostra o processo - caótico e tenso - de decidir como fazer essa reportagem. Nesse sentido, é um “thriller jornalístico".

Para o público brasileiro, tem um aspecto que torna o documentário particularmente relevante: demonstra na prática o que significa “whistleblower”. O termo, usado nos Estados Unidos para denominar aqueles que denunciam ações ilegais ou imorais de poderosos no setor público e privado, não tem fácil tradução. Boa parte dos jornais brasileiros insistem em traduzir o termo como “delator”. “São conceitos não só diferentes, mas opostos”, como explicou o professor de literatura Idelber Avelar, à época que as primeiras revelações de Snowden vieram à tona. Parte da confusão de como chamá-los se deve à inexistência de uma cultura de “botar a boca no trombone” no Brasil. Citizenfour, ao contar a história de Snowden, cumpre essa função tão importante de criar um modelo de ação, um exemplo a ser seguido... um “role model”!

O filme foi lançado em outubro de 2014 no Festival de Cinema de Nova Iorque; ainda não tem data prevista para estrear no Brasil, mas vai passar na HBO americana no dia 23 de fevereiro, um dia após as premiações do Oscar.

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* Bernardo Jurema é sociólogo, formado na na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e pesquisador da Universidade Livre de Berlim

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