Vida Urbana

Crianças exploradas pela mãe podem ter sequelas irreparáveis, diz especialista

Os danos causados podem se fazer ainda mais presentes na vida adulta

A vivência em um cenário como este pode acarretar diversos problemas psicológicos nas vítimas,

Após a prisão da mãe que viciou e prostituiu as filhas, o Diario de Pernambuco ouviu opiniões do delegado que presidiu as investigações e também de profissionais estudiosos do tema. A conclusão é que as adolescentes podem ter danos psicológicos irreparáveis.

Elas viviam em situação de extrema pobreza, numa comunidade no bairro da Várzea e eram prostituídas em troca de drogas e dinheiro, para manter o vício da mãe, num casarão abandonado no mesmo bairro.

A vivência em um cenário como este pode acarretar diversos problemas psicológicos nas vítimas, que podem sofrer com as consequências na fase adulta. Isso se explica porque as experiências vivenciadas na infância permanecem marcadas para sempre na mente, inclusive aquelas que não foram prazerosas e podem ser responsáveis pelos traumas na infância.

“Nascemos programados para buscar proteção e conexão. Quando falha, existe um protesto sobre a sobrevivência podendo trazer prejuízos diversos para a saúde emocional e ou física para toda vida”, afirma a neuropsicóloga Kátia Guerra.
 
Após os abusos, as vítimas tendem a desenvolver traumas e traços de personalidade que costumam aparecer na fase adulta. Em consequência disso, o trauma pode se manifestar na personalidade e no comportamento de quem o sofreu, o que gera impactos negativos na saúde mental.

“Crianças que sofrem situações abuso emocional, abuso físico, abuso sexual, negligência emocional, negligência física ou até não tiveram suas necessidades emocionais e fisiológicas não atendidas na infância, geralmente não conseguem ter como avaliar como boas ou ruins racionalmente”, esclarece a neuropsicóloga.

A ansiedade, o medo, a insegurança e até transtornos psicológicos são algumas consequências. Com isso, o indivíduo que sofre com traumas costuma ter dificuldades para conviver em sociedade, se relacionar, apresenta baixa autoestima e agressividade.

Quais são os comportamentos típicos de quem viveu traumas na infância?

Alguns comportamentos são comumente observados em pessoas que sofreram um trauma psicológico quando eram crianças. 

De acordo com Kátia, a inibição revela a dificuldade da convivência em sociedade. Normalmente o indivíduo não consegue manifestar o que pensa ou deseja, e tem limitação para se auto afirmar diante de várias situações. A partir daí, observa-se o isolamento e a falta de adaptação para o relacionamento com outras pessoas.

Além disso, indivíduos que sofrem com traumas vividos na infância podem ter problemas para reconhecer o seu valor. Dessa forma, sentem-se inferiores e rejeitam elogios dos outros, pois não se consideram suficientemente bons.

As vítimas ainda costumam considerar os adjetivos uma brincadeira ou falta de verdade e não entendem que alguém pode ter admiração por suas características.

As pessoas traumatizadas também tendem a ser pouco tolerantes, mais propensas a reagir com agressividade em algumas situações e demonstram tensão nos gestos e na fala. Trata-se de um mecanismo de defesa, desenvolvido em decorrência dos acontecimentos vivenciados no passado.

“A ciência sugere que o estresse precoce em fases iniciais de desenvolvimento pode fazer adaptações sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (eixo HPA), que é responsável pela modulação ao estresse, podendo desenvolver psicopatologias irreparáveis para seu desenvolvimento saudável”, afirma Kátia.

Diante deste cenário, as vítimas de abuso sexual necessitam de um tratamento psicológico adequado para lidar da melhor forma com os casos. “Crianças que têm base de “apego seguro” em que suas necessidades emocionais básicas e fisiológicas são supridas, podem ao longo da vida ter sempre a regulação do eixo HPA sobre a resposta ao estresse, conseguindo encontrar uma funcionalidade sobre as adversidades da vida, necessitando rapidamente de intervenção profissional quanto mais rápido possível, para tentar minimizar o impacto devastador”, completa a neuropsicóloga.

Delegado envolvido no caso reforça importância do acompanhamento psicológico

Para o delegado Luís Alberto Braga, responsável pela prisão da mãe das adolescentes, crianças que sofrem esse abuso, têm um impacto psicológico muito contundente, e será necessária muita atenção e muito cuidado com elas para poderem recuperar um pouco dessa sanidade. 

“Certamente, este fato trouxe muitos traumas a essas crianças, problemas de saúde gravíssimos. É uma ferida que vai para vida toda, mas com acompanhamento psicológico e terapias, talvez amenize de forma relevante”, revela o delegado.

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