Vida Urbana

Dia Internacional da Mulher: as mulheres da ciência em Pernambuco

O Dia Internacional da Mulher, celebrado sempre em 8 de março, traz à tona, ano após ano, as demandas de protagonismo feminino, que, apesar dos desafios ainda visíveis, torna-se cada vez maior. Na ciência, tão exaltada nos últimos anos pandêmicos, a situação é a mesma. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório na Assembleia-geral deste ano, mais mulheres na ciência representa melhores resultados, já que elas trazem mais pluralidade à investigação, novas perspectivas. Virginia Maria Barros Lorena é prova disso. 

A biomédica desenvolve pesquisas com foco em imunologia celular. Atualmente, ocupa o cargo de pesquisadora em Saúde Pública no Instituto Aggeu Magalhães (IAM)/Fiocruz, dentro do campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sendo a coordenadora do Serviço de Referência no Diagnóstico da doença de Chagas. Ela e seu grupo oferecem diagnósticos precisos quando o hospital não consegue identificar.

“Durante a carreira acadêmica, tive a grande oportunidade de trabalhar com a doença de Chagas, uma doença negligenciada. Hoje tenho colaborações com outros pesquisadores estudando a resposta imune de leishmanioses, HIV, Tuberculose e Covid-19”, afirmou a cientista. “Nossas contribuições principais são apoiar o SUS através da realização de diagnóstico de alta complexidade para a população. Nosso grupo desenvolveu uma ferramenta molecular que foi utilizada durante o surto de doença de Chagas aguda de Ibimirim, em 2019, e que hoje disponibilizamos ao Lacen-PE.” 

Para a pesquisadora, o tempo dedicado ao trabalho científico é considerável, tirando momentos que poderiam pertencer a interações familiares. “Nós mulheres nos culpamos por não dar tanta atenção aos filhos, principalmente quando são pequenos. Ficamos divididas entre a carreira e a família, porque precisamos nos dedicar. Em casa temos os filhos, no laboratório temos nossos alunos. Então vivemos com o nosso tempo e nosso coração divididos”, explicou. 

Virgínia lembrou ainda que as condições da ciência brasileira são difíceis se comparadas com as de outros países. “Há poucas instituições disponíveis. Nós mulheres enfrentamos dificuldades ainda maiores de inserção em algumas áreas das ciências, que são historicamente realizadas por homens”, declarou. 

Nara Pavão, pós-doutora em Ciência Política e professora-assistente do Departamento de Ciência Política da UFPE

A cientista política conduz também métodos experimentais e projetos de pesquisa relacionados a notícias falsas (as chamadas “fake News”), opinião pública e corrupção. “Mesmo ainda sendo pouco, experimentos randomizados controlados possuem potencial de produzir um entendimento mais rigoroso sobre causas e efeitos de fenômenos políticos”, explicou. 

“A garantia dessas condições é ainda mais crucial para as mulheres, que são minoria nesses espaços e já enfrentam o imenso desafio de romper com padrões historicamente construídos, que as direcionam naturalmente para os ambientes domésticos e as afastam dos espaços públicos de produção do conhecimento. Como mulher, sinto uma necessidade muito grande de me distanciar dos espaços domésticos e de todas as demandas e atribuições que recaem desproporcionalmente mais sobre as mulheres nesses ambientes. Quero poder contar com condições de trabalho que promovam a minha produção científica”, reforçou.

Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, primeira mulher a se doutorar em Matemática no Brasil

Therezinha Lins de Albuquerque, pedagoga pernambucana reconhecida por destacar a importância da psicologia no âmbito escolar.

Anita Aline Albuquerque Costa, professora que atuou firmemente na construção dos direitos sociais

O último nome desta lista é o de Anita Aline Albuquerque Costa. Formou-se em Serviço Social pela Escola de Serviço Social de Pernambuco, em 1962. A sua dedicação trouxe a criação e consolidação do primeiro grupo de pesquisa em serviço social da UFPE – o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Sociais e Direitos Sociais (NEPPS). Seu legado focou na criação de um conhecimento crítico, voltado à construção de direitos sociais e na consolidação de um serviço social voltado às necessidades sociais em Pernambuco.

Essas mulheres puderam criar oportunidades para a participação feminina no espaço fechado masculino dessas áreas. Seus ingressos, inicialmente, aconteceram atravessados pelo poder da dominação, que mulheres e homens aprendem desde muito cedo a ocupar e/ou a reconhecer em seus lugares na sociedade.

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