No dia 26 de agosto deste ano, Mota teve o lançamento do seu 46º livro, o último, intitulado O Recife da Revolução Republicana 1817, com um evento virtual na 14ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco, realizada pela Secult-PE/Fundarpe. Com projeto elaborado pelo Bureau de Cultura, produção executiva da turismóloga Clarisse Fraga e do produtor cultural Edmar Fernandes, a obra aprofunda e amplia a abordagem do tema destacando as intervenções urbanísticas e arquitetônicas ocorridas no Recife naquele período histórico. Na apresentação da obra, o autor comentou que o Recife se transformou consideravelmente ao longo de 200 anos. "A ampliação das terras secas, o aterro de rios e mangues para edificar moradias e outras construções, faz com que a sociedade perca alguns referenciais dos lugares onde aconteceram os movimentos da Revolução Republicana de 1817".
Alagoano, nasceu em 1936. Chegou no Recife em 1945, aos 9 anos, e dedicou-se à arquitetura e urbanismo desde a sua graduação pela UFPE, em 1961, recebendo o título de livre-docência, também na universidade, em 1977. Era professor emérito da pós-graduação em Arqueologia e Conservação do Patrimônio da UFPE e sócio mais antigo do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, tendo sido presidente desta instituição duas vezes (2000- 2004 e 2014-2017). Era membro da Academia Pernambucana de Letras desde 2013 e também integrante do Conselho de Cultura de Pernambuco. Publicou diversos livros no Brasil e no exterior, com destaque para o Atlas Histórico e Cartográfico do Recife (Editora Massangana, 1985), do qual foi coordenador. Também participou da restauração de construções históricas como a Catedral da Sé, em Olinda, e o Palácio da Justiça, no Recife. Mantinha em sua casa uma biblioteca com quase 12 mil livros, agregando títulos de de arte, arquitetura, história, patrimônio, cartografia, literatura, religião, dicionários e outros gêneros.
O arquiteto também trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, atual Iphan. Ele assinou vários projetos de restauração. Para além das construções já citadas, é possível destacar a Igreja de Nossa Senhora da Graça, antigo Palácio do Bispo (Sítio Histórico de Olinda), Casa da Cultura, antiga Estação do Brum, antiga Sinagoga da Rua do Bom Jesus, sede da Associação Comercial de Pernambuco e Palacete dos Amorins, na Avenida Rui Barbosa. Foi, ainda, consultor técnico e um dos responsáveis pela concessão do título de Patrimônio Cultural da Humanidade a Olinda, pela Unesco, em 1982.
O segundo secretário do IAHGP, George Cabral, relembrou a figura que foi Mota Menezes para a história da arquitetura pernambucana. "Apesar da formação como arquiteto, ele tinha desenvoltura em várias áreas do saber. Ele fazia muito bem essas conexões entre as áreas e gostava de contar a história do Recife e de Olinda, principalmente".
Mota Menezes também será lembrado por ter defendido um modelo de cidade em que as pessoas pudessem viver com tranquilidade, pelas críticas à falta de mobilidade urbana e planejamento para o transporte coletivo, à construção de espigões em ruas estreitas, entre outros problemas.
O pesquisador também atuou na Comissão Especial de Política Urbana do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), onde deixou a sua marca em trabalhos realizados em prol do desenvolvimento sustentável das cidades. Em nota, o CAU agradeceu a dedicação ao longo da sua "respeitada trajetória profissional, sempre vislumbrando soluções para a preservação do patrimônio cultural pernambucano, defendendo a integração da memória urbana do Recife ao cotidiano de todos e todas".
O governador Paulo Câmara (PSB) decretou luto oficial de três dias no estado. "Profundo conhecedor das raízes e evolução do Recife como cidade, o professor José Luiz era referência nacional em patrimônio e urbanismo", disse.
Já o prefeito do Recife, João Campos (PSB), ressaltou que Mota Menezes era uma das principais referências do Brasil nos estudos sobre patrimônio e urbanismo. "Com mais de 40 livros publicados ao longo da vida, conhecia como ninguém a capital pernambucana e as histórias que suas paisagens nos contam."
Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano
Academia Pernambucana de Letras
Secretaria de Cultura de Pernambuco
"Recife perde um dos maiores pensadores e conhecedores de sua história. Um grande urbanista, com uma visão moderna e atual da vida numa grande cidade. Acompanhou como poucos da sua geração as mudanças que vivemos, contribuindo muito com a construção de uma política pública para o setor. Foi dirigente da Fundarpe em 1973 e desde lá aprofundou o debate sobre o papel do Estado na preservação dos bens materiais e imateriais. Também foi mestre de inúmeros profissionais da área da arquitetura e do urbanismo. O Estado de Pernambuco será sempre muito grato pelo trabalho do professor. Vai deixar enorme saudade", declarou Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.
Companhia Editora de Pernambuco
Museu da Cidade do Recife
Fundação Joaquim Nabuco
Secretaria de Cultura do Recife e Fundação de Cultura Cidade do Recife