Vida Urbana

Um herói agora sem jaleco: quando o médico vira paciente

Conhecimento transmitido, ao longo de anos, agora seria instrumento para salvar a sua própria vida

Nas muitas histórias entrelaçadas pelo novo coronavírus, a vitória sobre a doença é o aporte mais feliz e necessário. Conforme dados da Secretaria Estadual de Saúde, Pernambuco contabiliza mais de 268 mil pacientes recuperados, tendo cerca de 20 mil deles enfrentado o quadro mais grave, passando pelo internamento hospitalar. É neste grupo onde tornam-se rotineiras, mesmo um ano depois, as jornadas de reabilitação com sessões de fisioterapia motora e respiratória, além de outros acompanhamentos. Como em uma jogada capaz de mudar o destino, um dos bravos profissionais da saúde, daqueles que têm atuado para vencer a covid-19, se viu do outro lado do birô, da maca, agora sem o jaleco e com muitas incertezas sobre o que viria pela frente. Era o médico que agora se transformava em paciente. Foi assim para o geriatra pernambucano, Alexandre de Mattos, de 46 anos, uma vítima do novo coronavírus que teve a oportunidade de reencontrar o seu passado.

“Passei todo o ano de 2020 acolhendo e tratando pacientes idosos, acometidos pela doença. Sempre adotei todos os cuidados necessários, mas não poderia deixar de estar perto naquele momento, na hora em que eles mais precisavam”, explica. Segundo Alexandre, o vírus, que escolhe sozinho os seus alvos, acabou lhe atingindo em janeiro deste ano de uma forma bem desfavorável. O quadro logo evoluiu para uma fase inflamatória aguda, levando-o à um leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). “Posso testemunhar que foi uma experiência de quase-morte, como uma verdadeira prova de fogo. Naquele momento, eu conhecia, tecnicamente, as estatísticas desfavoráveis do meu caso, com uma queda progressiva de saturação e uma piora evolutiva da dispneia. Acho que era até melhor não saber do prognóstico, para conseguir segurar o meu estado emocional. O risco de não voltar para a minha família era real”, lembra com a voz embargada.

Foi então que o professor Alexandre, acostumado com os laboratórios e salas de aula da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, reencontrou os seus antigos alunos. “Fui recebido naquele lugar com um carinho tão grande, que me deu ânimo para viver. Cada um dos meus velhos discentes, dos quais pude colaborar um pouco com a formação e se tornaram grandes profissionais, me reconheciam ali e logo me prestavam toda a atenção e carinho. Foi um reaprendizado, um encontro com a empatia e a generosidade, algo capaz de mudar a forma da gente enxergar o mundo”, diz Mattos. Naquele episódio, o conhecimento repassado, ao longo de anos, agora seria instrumento para salvar a sua própria vida. “Hoje estou recuperado e, muito em breve, estarei de volta na luta para vencer esta pandemia. O meu olhar sobre ela agora está bem mais sensível”, assegura.

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