Documento
Caso Miguel: Em carta, Mirtes diz que Sarí terá que explicar tentativas de se eximir de culpa
Por: Diogo Cavalcante
Publicado em: 01/07/2020 19:48
Mirtes afirma que Sarí terá que explicar 'ao promotor o que quis dizer com %u2018coloquei ele para passear''. (Foto: Diogo Cavalcante/DP.) |
Em nova carta, divulgada na noite desta quarta-feira (1), a doméstica Mirtes Renata se manifesta sobre a conclusão do inquérito da morte de seu filho, Miguel Otávio, ocorrida em 2 de junho. Foi nesta quarta que a Polícia Civil de Pernambuco concluiu as investigações e indiciou a ex-patroa dela, Sarí Côrte Real, pela morte da criança. No texto, Mirtes afirma que Sarí destilou “cinismo” durante seu depoimento, na última segunda (29) e que “pareceres jurídicos caros não apagam o passado, não limpam consciência e não desfazem os fatos”, em referência a um documento divulgado pela manhã que rejeita as imputações de crime à primeira-dama de Tamandaré.
“Aproxima-se o dia em que, na cadeira de acolchoado azul à esquerda do magistrado, onde ficam os acusados, sentará uma mulher de estatura mediana, de cabelos louros bem cortados, olhos verde esmeralda e sorriso perfeito. Pobre apenas em melanina e em empatia. O magistrado, eleito por sorteio, julgará aquela que diante do corpo caído de Miguel e de sua mãe desesperada disse em exclamação: ‘que menino tinhoso’; é ela, a patroa adornada em joias, iniciada nas artes dos palacetes e de família de políticos rica e influente no litoral sul, que explicará ao promotor o que quis dizer com ‘coloquei ele para passear’”, diz Mirtes, na carta, em seu início.
“Quando esse dia chegar, talvez ela já nem lembre a origem de tanto desdém e indiferença, mesmo também sendo mãe. É até provável que tente responsabilizar a própria vítima, o pequeno Miguel, pelo que lhe aconteceu. Afinal, após noticiar aos parentes próximos sobre o falecimento, disse que ‘cuidar dele não era sua responsabilidade’”, acrescenta a carta.
“Ali, prostrada, a fina senhora destilará novamente seu cinismo e tentará convencer o julgador que tudo não passou de um acidente, tal como quem quebra uma taça de vinho em um restaurante chique e, enquanto retira arrogantemente o cartão de crédito da carteira, diz ao garçom que traga logo a conta do prejuízo”, prossegue.
Concluindo o texto, Mirtes pontua que “A princesa encastelada nas torres gêmeas, não tarda, prestará contas à Themis Pernambucana. A diferença entre o acidente e o desamparo é a escolha. Optou-se em desproteger. Miguel foi largado no elevador sem ninguém à sua espera. Pareceres jurídicos caros não apagam o passado, não limpam consciência e não desfazem os fatos”.
A reportagem procurou o advogado responsável pela defesa de Sarí, Pedro Avelino, que não se manifestou sobre o assunto até a publicação desta reportagem.
Indiciamento
Sarí Côrte Real foi indiciada, nesta quarta-feira, por abandono de incapaz com resultado morte no caso do menino Miguel Otávio, de 5 anos. De acordo com o Art. 133 do código penal, quando há o resultado morte, a pena prevista é de reclusão de 4 a 12 anos. Segundo o delegado responsável pelo inquérito, ela demonstrou o dolo de abandono quando permitiu que a porta do elevador onde estava a criança se fechasse e voltado imediatamente a seu apartamento, onde estava fazendo as unhas.
O laudo pericial, feito pelo Instituto de Criminalística (IC), reafirma o entendimento preliminar do dia do crime (2 de junho), de que a morte de Miguel foi acidental, sem que uma terceira pessoa pudesse estar presente para facilitar ou jogar a criança do alto do prédio. Ainda, afirma que Sarí apertou o botão da cobertura - fato negado repetidamente por ela própria e por sua defesa. Mas segundo o delegado Ramon, o botão da cobertura torna-se irrelevante de ser considerado porque a mulher permitiu o fechamento do elevador e admitiu que não monitorou o andamento da criança pelo prédio. Os fatos foram apresentados em longa coletiva de imprensa virtual, realizada nesta tarde, com a presença de Ramon e do perito André Amaral, do IC.
Em depoimento, realizado na última segunda-feira (29), Sarí disse que não apertou o botão. O gesto mostrado nas imagens seria uma simulação. Ela afirma que deixou a porta do elevador se fechar por ter se confundido ao ouvir sua filha lhe chamando - a menina aparece em algumas imagens, atrás de sua mãe -, e que tentou ligar para o celular de Mirtes Renata Santana de Souza, mãe de Miguel que trabalhava como doméstica na casa da primeira-dama de Tamandaré, e que no momento do crime estava passeando com os cachorros da patroa.
"Vimos que essa versão não se sustentava. Nos pareceu de forma bastante clara, pelas imagens e pelo conjunto probatório dos autos, que isso não ocorreu de forma alguma. Independente da conduta de pressionar ou não a tecla da cobertura, houve a conduta omissiva de permitir o fechamento da porta. Isso, sim, tem valor jurídico penal bastante relevante, inclusive para responsabilização penal da investigada", afirmou Ramon. Confira mais detalhes nesta matéria.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS