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Para manter os baixos índices de coronavírus, Itapissuma reforça medidas

Publicado em: 30/04/2020 16:10 | Atualizado em: 30/04/2020 17:16

Na entrada da cidade, os visitantes e moradores são recebidos por uma barreira sanitária. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP FOTO)
Na entrada da cidade, os visitantes e moradores são recebidos por uma barreira sanitária. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP FOTO)

Com 25 mil habitantes, o município de Itapissuma, no Grande Recife, registra apenas 5 casos confirmados da Covid-19 entre moradores e profissionais de saúde e um óbito, de uma senhora de 63 anos que não sabia que estava contaminada. Para assegurar os baixos índices, as medidas de contingenciamento são acompanhadas de perto pelos sanitaristas e profissionais de saúde. Na chegada, os visitantes e moradores são recebidos por uma barreira sanitária. No local, agentes de saúde e vigilância sanitária, com apoio da Guarda Municipal, param carro a carro para medir temperatura, desinfectar as rodas dos veículos, distribuir álcool gel e orientar sobre as ações de prevenção ao novo coronavírus.

A aposentada Ademildes da Silva, de 63 anos, moradora da Ilha de Itamaracá, passou pelo local na manhã de ontem acompanhada do filho Gutemberg após voltar da consulta com oftalmologista, em Igarassu. “Eu estou muito preocupada com esse vírus, principalmente por causa da minha idade. Eu estou me cuidando mesmo, só saio para o médico quando preciso e vivo direto com a mão no sabão ou colocando álcool gel. Quando preciso de alguma coisa, meu filho vai no mercado e compra. O resto do tempo é todo em casa”, conta.

Já o prestador de serviço Genivaldo Pereira, de 60 anos, mora em Itapissuma e precisa cruzar a barreira pelo menos duas vezes no dia para realizar o seu trabalho em regiões próximas ao município. “O negócio do coronavírus não é brincadeira, eu me preocupo, mas preciso continuar trabalhando, porque o dinheiro que eu tirava trabalhando já diminui em 80%, imagina se eu paro”, questiona.

Quando volta para a sua casa, Genivaldo ajuda a esposa na loja de utensílios domésticos que eles mantêm ao lado do imóvel. “É uma lojinha pequena e o movimento está baixo porque as pessoas não estão saindo muito de casa e muito menos com dinheiro para gastar, mas a gente fica por lá esperando algum cliente aparecer. Tomamos todos os cuidados e lavamos sempre as mãos”, lembra.

Segundo a coordenadora de Vigilância Sanitária do município, Niedja dos Santos, a ideia da barreira é minimizar circulação do vírus entre os municípios vizinhos e alertar a população sobre os riscos de contaminação. “Se a temperatura tiver alterada, por exemplo, a gente pede que a pessoa fique em observação. Se for identificado algum sinal de febre, encaminhamos para o hospital”, explica. O Hospital João Ribeiro fica a 2,5 km da barreira.

 (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP FOTO)
Foto: Leandro de Santana/Esp. DP FOTO

Um provável fator decisivo para a baixa notificação dos casos no município seria o bloqueio do acesso à Ilha de Itamaracá, no litoral norte do estado, efetuado no dia 21 de março. “Percebemos um fluxo maior de carros vindos do Recife para Itamaracá ou pessoas que trabalham em cidades vizinha e estão retornando para à ilha”, pontua Niedja.

Itapissuma é rota quase obrigatória para quem vai à ilha que passou a receber menos visitantes desde o dia 21 de março. Itamaracá também registra poucos casos, apenas seis até o último boletim. Outro município vizinho de Itapissuma, Igarassu conta com 37 casos do novo coronavírus. As vítimas do novo coronavírus do município estão todas em isolamento doméstico e são visitadas diariamente por uma equipe técnica, formada por enfermeiro, técnico de enfermagem e agente de vigilância sanitária.

Nas ruas, a desinfecção começou há um mês, primeiro com caminhões e agora é feita diariamente, em dois turnos, por agentes da vigilância sanitária nos locais de maior concentração de pessoas, como praças, bancos e mercados. Nas caixas lotéricas, servidores da secretaria de Saúde atuam ordenando as filas para evitar aglomerações. Há, ainda, carros de som com mensagens e agentes de saúde realizando visitas de orientação à população sobre os riscos da doença.

De acordo com a secretária de Saúde do município, Benedita Alves, a idealização das medidas de contenção começaram antes do vírus chegar no Brasil. “Sabíamos que ia chegar aqui, era questão de tempo, então começamos a nos preparar”, explica. Em poucos dias, o Hospital João Ribeiro foi adaptado para receber pacientes suspeitos da Covid-19 através do Serviço de Pronto Atendimento (SPA). Itapissuma está entre os municípios que receberam a orientação para colocar leitos de retaguarda. Nos próximos 10 dias, serão 13 leitos instalados em um posto de saúde que estava em construção.

Ainda entre as medidas que passarão a entrar em vigor no próximo mês, está a instalação de 17 lavatórios de mãos portáteis que serão distribuídos na Zona Rural e lugares de alta rotatividade no município. Uma licitação com costureiras locais também está sendo construída para, com isso, iniciar a confecção de máscaras de tecido que serão distribuídas à população. "É uma ação de prevenção que vai beneficiar as costureiras que estão precisando de trabalho e, ao mesmo tempo, proteger a população", afirma a secretária.

Nos últimos dias, há, entretanto, uma flexibilização no isolamento por parte de alguns moradores."No início estava muito bom, mas as recentes declarações do presidente estão fazendo alguns moradores acharem que a situação está controlada. Mas se está controlada assim é porque nós, da secretaria de Saúde e Vigilância Sanitária não paramos em nenhum momento", argumenta.

Em seu estabelecimento, Nayara Oliveria passou a recomendar aos funcionários a higienização das mãos e o uso de luvas e máscaras. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP FOTO)
Em seu estabelecimento, Nayara Oliveria passou a recomendar aos funcionários a higienização das mãos e o uso de luvas e máscaras. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP FOTO)

Um maior risco de contaminação também tem alertado Nayara Oliveira, proprietária do Atacado das Carnes. "A preocupação existe, a gente teme pela saúde e pela vida das pessoas que serão afetadas, mas estamos fazendo a nossa parte, reduzimos o horário de atendimento e orientamos as pessoas para não ficarem próximas umas das outras na fila do caixa", explica. No mercadinho, Nayara passou a recomendar aos funcionários a higienização das mãos e o uso de luvas e máscaras.

"Estamos sempre em contato com o alimento, então o cuidado precisa ser redobrado", ressalta a proprietária. Apesar da crise provocada pela pandemia, Nayara conta que o isolamento tem sido benéfico para os rendimentos de seu estabelecimento. "Tem ajudado porque as opções estão limitadas né? As pessoas têm passado muito tempo em casa, quem não era acostumado a fazer todas as refeições em casa passou a fazer, além de que, com as crianças de férias, ficam sempre querendo comprar uma coisa diferente…", destaca.

A maior preocupação da dona de casa Luciclenia Tavares é a saúde e educação da sua filha. "Minha filha tem 14 anos e está dentro de casa o tempo todo, sem estudar e acompanhando as notícias o tempo inteiro. Ela fica muito preocupada e eu também. Estamos nos cuidando, esperamos que as pessoas também porque todo mundo tem que fazer a sua parte… Mas vamos ficar muito tempo em isolamento ainda, como vai ser o ano letivo dela quando isso tudo terminar?", questiona.

Luciclenia destaca, ainda, a angústia com a rotina de trabalho do marido, que é caminhoneiro. "Meu marido está trabalhando e só voltou uma vez, passou quatro dias aqui, isolado com a gente e voltou para a estrada. Estamos fazendo a nossa parte".

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