Vida Urbana

Com as ruas vazias, pessoas em vulnerabilidade social sentem o peso do coronavírus


José tem dificuldade de encontrar alimentos e água

Sensibilizados com a situação deste recorte populacional, o movimento Frente Brasil Popular, em parceria com o Armazém do Campo, a ONG Bom Samaritano e a Pastoral do Povo de Rua, organiza a distribuição de marmitas na noite desta quarta-feira. “O Armazém fica localizado na Rua do Imperador, um espaço onde tem muitos moradores de rua. Antes do vírus, várias igrejas e grupos solidários faziam sopões para estas pessoas, mas com a chegada do corona muitos precisaram fechar. Sabemos que os moradores de rua têm acesso ao restaurante da Prefeitura na hora do almoço, mas e o café da manhã e o jantar? Começaremos a partir desta quarta-feira a distribuir alimentos. Serão, no primeiro dia, 50 marmitas, mas contamos com a colaboração de parceiros e da sociedade para que possamos aumentar este número”, diz o coordenador Paulo Mansan. “Queremos também arrecadar alimentos para que consigamos montar cestas básicas para os mais vulneráveis.” 

Além dos alimentos, o grupo também mobiliza costureiras do polo têxtil de Caruaru, para fabricar e distribuir máscaras de pano à população. “Nesse momento da história nós temos que nos unir em ações solidárias para superarmos este período tão difícil. É importante frisar também que prezaremos por todos os cuidados com higiene e saúde na hora de oferecer os alimentos àqueles mais necessitados.” Interessados em ajudar o projeto devem entrar em contato através do número (81) 9 9855-3121 ou depositar qualquer valor. Dados: Banco do Brasil, Agência: 0697-1 Recife, Conta Corrente: 58892-X, CNPJ: 09.423.270/0001-80. 

Questionada, a Prefeitura do Recife (PCR) respondeu que, embora ainda não tenham sido notificados casos confirmados ou suspeitos da Covid-19 na população em situação de rua da cidade, esses cidadãos permanecem sendo acompanhados pelo município e que um plano de ação está sendo elaborado pelo Comitê Municipal de Resposta Rápida ao novo Coronavírus. Dentre as ações iniciais previstas, até o momento, estão à destinação de 20 vagas para isolamento domiciliar no Abrigo Emergencial do Recife para a população em situação de rua. As vagas são destinadas àqueles usuários que forem encaminhados pelos serviços de saúde", diz o comunicado.

De acordo com a PCR, no Restaurante Popular Josué de Castro, a comida passou a ser servida em quentinhas para evitar a aglomeração de pessoas no ambiente interno do equipamento. Dessa forma, o usuário garante a refeição na mesma qualidade servida dentro do restaurante, só que com o cuidado de não manter um grande número de pessoas em contato. E no Abrigo Noturno Irmã Dulce, a principal medida tomada foi a organização das camas de forma que haja um espaçamento maior entre os usuários durante à noite, para manter o distanciamento físico necessário.

"Como os dormitórios contam com ar condicionados, os usuários que tossirem ou espirrarem com mais frequência serão acolhidos em espaços mais arejados e com ventiladores. Caso sejam percebidos sintomas mais graves de um quadro viral, será realizado o devido encaminhamento para a unidade de saúde", explica a nota. Ainda segundo a instituição, os equipamentos de assistência social contam com álcool em gel instalados nas paredes e com a presença de profissionais capacitados sobre a Covid-19.

As pessoas em situação de rua também serão contempladas com a campanha de vacinação da Influenza A (H1N1). A ação será realizada pelo Programa Consultório na Rua com apoio do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas), e acontecerá nos dois Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centros Pop): o Centro Pop Glória, em Santo Amaro, e o Centro Pop Neuza Gomes, na Madalena, além do Abrigo Noturno Irmã Dulce, no bairro de São José. O atendimento também acontecerá de forma itinerante em todas as áreas da cidade.

A Prefeitura destaca, ainda, que a população vulnerável segue com assistência à saúde através dos programas Consultório de Rua e Consultório na Rua. Além dos atendimentos realizados pela Secretaria de Saúde, a população em situação de rua também é atendida pela Secretaria Executiva de Assistência Social, realizando escutas, identificando violação de direitos e necessidades das pessoas com o objetivo de promover o acesso à rede de serviços socioassistenciais. 

Flanelinhas  

Com as ruas vazias, Jeová conta com a solidariedade de amigos

Jeová Bezerra, de 51 anos, também sustenta a casa, que divide com a mulher e duas filhas. “Elas estão em quarentena, sabemos a importância de se cuidar. Comprei álcool em gel e lavamos sempre as mãos com sabão, mas preciso sair para ganhar dinheiro”, diz o flanelinha. “Agora estou contando com a ajuda de amigos e com os poucos carros que param por aqui. Tem gente que nem vai passar muito tempo, tem gente que nem com o carro está, mas me dá alguma coisinha porque sabe que eu preciso.”  
 
*Nome fictício 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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