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Indignação marca enterro de criança vítima de bala perdida no Cabo

Publicado em: 27/01/2020 20:07

Colegas de escola da menina Ellen Vitória prestaram homenagem à menina no cemitério. (Foto: Bruna Costa/Esp. DP.)
Colegas de escola da menina Ellen Vitória prestaram homenagem à menina no cemitério. (Foto: Bruna Costa/Esp. DP.)
O adeus à menina Ellen Vitória, de dez anos, foi em tom de indignação. A criança foi enterrada na tarde desta segunda-feira (27), no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife. De acordo com informações preliminares da Polícia Civil, Ellen foi atingida por uma bala perdida em uma suposta briga de tráfico ocorrida no domingo (26), no bairro da Charnequinha. Familiares, vizinhos, amigos e curiosos ainda estavam indignados com a morte violenta, e se queixam da falta de segurança na região onde ocorreu o crime.

O corpo foi velado pela manhã na funerária Safpe, no Centro do Cabo. De lá, foi montado um cortejo, que passou pela Praça do Jacaré e encerrou no Cemitério São João. A mãe de Ellen, Cícera Silva, estava revoltada. “Minha filha não merecia um negócio desse, não. Minha filha era querida, meu Deus. Não era para ela estar aqui”, disse, com o peito cheio de dor. Cícera não conseguiu acompanhar o sepultamento até o fim, tendo sido retirada do local. Outras pessoas também tiveram crises nervosas durante o enterro - duas mulheres chegaram a desmaiar. 

Ellen Vitória iria cursar o 5º ano do ensino fundamental em 2020, na Escola Municipal Paulo Salgado. De acordo com familiares, o material escolar já tinha sido comprado e ela aguardava o início do novo ano letivo. Colegas de sala da menina foram até o cemitério prestar homenagem, com cartazes de protesto contra a violência e pedindo justiça. “Que Jesus guie ela como um anjo”, comentou estudante Jamerson, uma das crianças presentes.

Mãe de Jamerson, a dona de casa Ana Paula de Jesus cobrou mais segurança no bairro da Charnequinha. “Lá está tomado pelos bandidos. Policiamento não tem nas ruas e o tráfico está tomando conta de tudo. Todo dia tem tiroteio por causa de boca de tráfico”, reclamou. “Depois das 18h, ou até mesmo durante à tarde, já não tem gente na rua. A gente tem que ficar trancado dentro de casa, como se nós que fossemos os bandidos”, acrescentou.
"Minha filha não merecia um negócio desse", disse Cícera Silva, mãe da menina Ellen Vitória. (Foto: Bruna Costa/Esp. DP.)
"Minha filha não merecia um negócio desse", disse Cícera Silva, mãe da menina Ellen Vitória. (Foto: Bruna Costa/Esp. DP.)
Outros moradores da Charnequinha, assim como Ana Paula, também relataram que se sentiam em um toque-de-recolher forçado, com medo de serem as próximas vítimas de uma bala perdida. E os relatos são feitos de forma anônima, como fez uma dona de casa que vive na Rua da Linha - local onde a criança foi baleada. “É muita insegurança. Troca de bala sempre está tendo. Passa das 18h e todo mundo está dentro de casa já”, apontou.

Também pedindo para não ser identificado, outro morador da Rua da Linha endossou a queixa. “Desde a quinta-feira (23) o pessoal vem trocando tiro por aqui. E o povo que está pagando um alto preço. Que o diga a menina Ellen”, comentou.

Em nota ao Diario, a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) explicou que “o policiamento ostensivo no bairro de Charnequinha é realizado pelo 18º BPM através de equipes em motocicletas, além da Contra Resposta e do Grupo de Apoio Tático Itinerante. A Unidade conta ainda com o reforço do Batalhão de Trânsito, que realiza rondas em toda região”.

Já a Polícia Civil, também em nota, limitou-se a dizer que investiga a morte da criança: “as investigações seguirão até a completa elucidação do crime”. O inquérito está sob responsabilidade do delegado Caio Morais.
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