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Mandado de segurança e paralisação pela interdição de todo o bloco G do HGV

Publicado em: 06/12/2019 19:03 | Atualizado em: 06/12/2019 21:19

Foto: Diogo Cavalcante/Esp. DP
O Sindicato Profissional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Pernambuco (Satenpe) vai entrar, nesta segunda-feira (9), com um mandado de segurança no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) solicitando, liminarmente, o documento para que os profissionais que trabalham nos blocos G1 e G2 do Hospital Getúlio Vargas não sejam a obrigados a trabalhar nessas duas áreas. Apesar do laudo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE) atestando a segurança das estruturas dos blocos G1 e G2 do Hospital Getúlio Vargas, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem não ficaram satisfeitos com a suspensão da interdição ética no local. É que a insegurança e o medo de um possível desabamento ainda toma conta de quem precisa passar 8h, 12h ou 24h dando plantão da unidade de saúde. 

A categoria especula a possibilidade de greve caso os blocos G1 e G2 não sejam interditados definitivamente. O bloco G3 está interditado pela Defesa Civil do estado e pela Secretaria estadual de Saúde desde 2017. Nesta segunda (9), os profissionais de enfermagem programaram uma paralisação e um ato marcado para as 8h em frente à Secretaria de Administração de Pernambuco, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. “Uma das pautas dessa paralisação é a falta de condições de trabalho no Hospital Getúlio Vargas”, adiantou o presidente do Satenpe Francis Herbert.

Uma profissional de enfermagem que prefere não se identificar diz que os laudos produzidos não trazem tranquilidade diante do que se vê diariamente nas paredes e nos tetos do bloco G. “A realidade é que nem os engenheiros da Defesa Civil nem do Crea-PE ou da empresa de engenharia trabalham ali dentro. Quem trabalha somos nós e só nós sabemos o que é conviver constantemente com a sensação de que o prédio pode desabar. Vendo porta e janela emperrar, ouvir estalos, e qualquer tremor a gente já sai correndo. É uma grande agressão psicológica. Estamos com medo. Ninguém tem condições de ficar naquele lugar”, disse. 

Herbert lembra que as recentes tragédias em Minas Gerais aconteceram apesar de documentos oficiais atestarem segurança e estabilidade das barragens. “Em Brumadinho (MG), foram mais de 200 mortes com laudo técnico que garantia a segurança da barragem. Aqueles prédios não têm a mínima condição e os profissionais, que lidam com a vida de outras pessoas, também não podem trabalhar com o psicológico abalado, com medo de um desabamento. Nós esperamos que a justiça tenha um olhar diferenciado para essa situação, já que o Governo do estado não teve”, contestou o presidente do Satenpe, Francis Herbert. 

Até agora, três laudos técnicos foram apresentados atestando a segurança das estruturas e a viabilidade da continuidade dos serviços. Os documentos foram produzidos pela Defesa Civil, pelo Crea-PE e pela empresa de engenharia H. Laprovitera, contratada da Secretaria estadual de Saúde. No entanto, diante de diversas tragédias recentes, profissionais que trabalham nos blocos G1 e G2 temem que as inspeções possam ter alguma imperícia, já que as patologias nas estruturas do HGV são antigas e recorrentes. “Minha vida é importante para mim e para minha família. Eu sei que para o estado, tanto faz minha vida. Se eu morrer, eles me substituem por novos concursados, emite uma nota de luto e a vida segue. Quem vai perder o sentido da vida é minha família”, lamentou outra técnica de enfermagem que trabalha no bloco G2. 

Problema antigo
 
Desde que foi construído em 1992, o bloco “mais novo” do Hospital Getúlio Vargas, o G1, G2 e G3, apresentou os mesmos problemas estruturais em três momentos diferentes. Os primeiros relatos de tremores, rachaduras graves e estalos começaram em 2004. À época, segundo a Secretaria estadual de Saúde, foi feito um reforço dos pilares da fundação de todo o bloco G. Em 2014, o prédio voltou a apresentar patologias e novos serviços foram realizados, desta vez com a separação física das passarelas que ligavam os três blocos. Três anos depois, em 2017, novas fendas, abalos e estalos obrigaram a secretaria a interditar o bloco G3, onde funcionava o refeitório, a cozinha e o centro de material esterilizado. Desde então, o G3 vem sendo escorado por andaimes no subsolo do edifício, entre outros reparos que não conseguiram estabilizar a estrutura. 
 
“Ainda em 2017, fizemos uma licitação para um estudo definitivo da área, do solo, para entender por que estão surgindo as patologias, já que as soluções realizadas até então não impediram o avanço dos problemas nem seguraram a movimentação das estruturas. Mas a empresa que se apresentou na época não tinha os critérios técnicos necessários para o serviço. Vamos fazer uma nova licitação agora”, disse o diretor de engenharia da SES-PE, Josué Regino. O cronograma de execução da licitação para estudo técnico do prédio será apresentado na próxima terça-feira ao Ministério Público de Pernambuco. Segundo a equipe de engenharia da SES-PE, tudo indica que o problema “esteja” no solo. Se for constatado, a solução de engenharia a ser apresentada pode não ser viável financeiramente ao estado. 
 
Para justificar a demora na execução de uma obra de engenharia que resolva definitivamente os problemas estruturais do bloco G, ou apresente outra solução, o secretário de Gestão Estratégica da SES-PE, Humberto Antunes, disse que o Hospital Getúlio Vargas é bastante procurado pela população e que chega a atender cerca de 70% acima da sua capacidade. “Ou atende (a população) ou faz obra”, disse Antunes. No bloco G1, onde funciona a emergência/urgência, são realizados dois mil atendimentos por mês. Já no bloco cirúrgico (G2) são feitas até 50 cirurgias diariamente e passam por dia 400 pacientes pelo ambulatório, também no G2, segundo o diretor do HGV, Bartolomeu Nascimento. 
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