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Desigualdade

Com proximidade do Natal, famílias ocupam ruas à espera de doações

Publicado em: 10/12/2019 06:59 | Atualizado em: 10/12/2019 08:27

Criança aguarda doação no sinal. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP )
Criança aguarda doação no sinal. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP )

Na calçada estreita que leva ao Cais de Santa Rita, no Centro do Recife, famílias esperam doações. Com a aproximação do Natal, ocupam as ruas em busca de cestas básicas, roupas, fraldas e dinheiro. Os grupos, que incluem crianças, se juntam àquelas pessoas que já vivem em situação de rua e dormem em colchões, papelão e cobertores. Os pedintes sazonais acampam em locais movimentados nos meses de novembro e dezembro.

A maioria são mulheres, que levam seus filhos e netos. Elas contam que não têm com quem deixar as crianças e precisam garantir o básico à sobrevivência. “Ninguém fica na rua porque quer. Precisamos de tudo. Nessa época as pessoas ficam mais solidárias. A gente se vira como pode”, conta uma jovem de 22 anos que prefere não se identificar. Com ela estão três crianças. O garoto mais novo tem um mês de vida. “Tem dia que a gente consegue R$ 20 no sinal. Já dá para comprar leite ou fraldas.”

Para Maria Lima, 18, os dias na rua não são muito diferentes daqueles dentro do barraco onde mora, na Ilha Joana Bezerra. Ao lado do sobrinho de 11 anos e do irmão de quatro anos, ela deixou a filha de seis meses com a mãe e saiu de casa em busca de doações. “Meu marido está na mesma situação. Às vezes consegue um bico, quando não está trabalhando no sinal, limpando vidros”, conta.

A miséria nas ruas durante a temporada natalina é o retrato concreto da desigualdade também constatada em dados. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2019, divulgado ontem, o Brasil perdeu uma posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ficando em 79º entre 189 nações, com IDH de 0,761 em 2018. A dificuldade de avançar tem como um dos principais problemas a má distribuição de riqueza, já que quase 30% da renda total do país pertencem a 1% da população (leia mais na página B4).

Coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), Wladimir Cardoso destaca que a população vivendo nas ruas praticamente dobra no fim do ano. “A vulnerabilidade se expressa pela falta de efetividade de ações governamentais, como espaços de acolhimento e restaurantes populares”, comenta.

O frade Marcos Carvalho, da Pastoral do Povo na Rua, pontua que o período de festividade e confraternização estimula as ações solidárias. “A gente percebe a maior concentração também em outros bairros, como Madalena, Espinheiro e Boa Viagem. E essa visibilidade acaba motivando as doações. O próprio sentido do natal mobiliza porque a gente vê aquelas pessoas sem uma condição de vida digna em uma data em que se comemora o nascimento de Jesus, que chegou pobre ao mundo”, diz.

Mulheres e crianças ocupam as ruas do Recife. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP )
Mulheres e crianças ocupam as ruas do Recife. (Foto: Leandro de Santana/Esp. DP )

Assistência
De acordo com a Prefeitura do Recife, cerca de 1,2 mil pessoas estão em situação de rua no Recife. A soma inclui cidadãos que vivem em oito casas de acolhida da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Política sobre Drogas e Direitos Humanos da Prefeitura. “No mês de dezembro, observa-se que muitas pessoas que não fazem da rua local de moradia ficam nas ruas em busca de doações”, destacou o município, em nota, sem especificar dados.

A prefeitura explica que acompanha a população sem-teto através do Serviço Especializado em Abordagem Social de Rua. Segundo a nota, o município mapeia as pessoas em situação de rua em toda a cidade e “trabalha com a sensibilização e orientação, visando o resgate da cidadania”.

“O Serviço Especializado faz atendimentos individuais e coletivos, oficinas e atividades de convívio e socialização, além de ações que incentivem o protagonismo, o desenvolvimento de sociabilidades e o fortalecimento de vínculos interpessoais e familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida. É importante ressaltar que a prefeitura não pode realizar retirada compulsória da população em situação de rua. Sempre que há aceitação, as equipes fazem os encaminhamentos para acolhimento, retirada de documentos, acesso a saúde, inclusão em programas e benefícios sociais e tentativa de reintegração com a família”, explica o comunicado.

“Os casos são identificados, atendidos e encaminhados para os serviços necessários. Em caso de violência e violação de direitos, os casos são encaminhados para o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social)”, continua a nota.

A prefeitura ressalta que também dispõe de dois Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua, situados em Santo Amaro e na Madalena, para as demandas mais emergenciais dos usuários. Esses locais realizam cerca de 400 atendimentos por mês.
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